Não satisfeito em trair Geraldo Alckmin no primeiro turno das eleições, João Doria afirmou, em entrevista à Rede Globo, nesta terça-feira, que a culpa pela queda de sua votação na capital foi do ex-governador. “O Geraldo não foi bem e isso nos atrapalhou em São Paulo”, disse o ex-prefeito.
Questionado se o desastre não teria sido causado por ele ter abandonado a prefeitura, apesar de ter jurado que não sairia, Doria desconversou e continuou culpando Geraldo Alckmin pela queda. Doria teve uma queda de mais de um milhão de votos na capital – exatamente 1,6 milhão de votos a menos – em relação aos votos obtidos na eleição para prefeito.
O ex-prefeito também teve bastante dificuldade para explicar as dezenas de viagens feitas durante sua gestão à frente da prefeitura. Ele tentou justificar suas frequentes ausências da cidade dizendo que tinha ido buscar investimentos no exterior.
O entrevistador lembrou que não houve nenhum investimento estrangeiro de monta na capital em todo o período de sua gestão e que, portanto, essas viagens, segundo o seu modo de ver, se tinham mesmo esse objetivo de atrair investimentos, redundaram em mais um fracasso. Doria não conseguiu convencer Tramontina ao dizer que os investimentos demoram a chegar.
Doria afirmou, durante a entrevista, que sua atuação em São Paulo salvou o PSDB no estado “Nós salvamos o PSDB aqui em São Paulo [na eleição]. Felizmente fizemos alguns deputados estaduais, federais e a coligação foi muito bem”.
Mas a verdade não é essa. O PSDB teve desempenho bem inferior nas urnas em São Paulo em 2018 na comparação com a última eleição, disputada em 2014, para os mesmos cargos. A bancada estadual caiu de 22 deputados estaduais eleitos em 2014 para 8. A bancada federal caiu de 14 eleitos em 2014 para 6.
Em 2014, o senador José Serra foi eleito com mais de 11 milhões de votos. Neste ano, o partido elegeu uma senadora, Mara Gabrilli, com 6,5 milhões de votos.
Em 2014, o então candidato ao governo Geraldo Alckmin venceu no primeiro turno, com 12,2 milhões de votos. Já Doria, o candidato ao governo, ficou com 6,4 milhões de votos (quase a metade) no primeiro turno e vai disputar o 2º turno.
Outra mentira contada por Dória foi que sua tentativa de colocar a “ração humana” produzida de rejeitos da indústria na merenda das crianças da capital paulista “era exatamente o que a doutora Zilda Arns fez enquanto em vida no Brasil e quase ganhou o Prêmio Nobel da Paz exatamente pela fórmula da farinata”.
A farinata é um composto fabricado a partir de um processo industrial de liofilização, ou seja, de desidratação dos alimentos. Já a “multimistura” é uma combinação de farinhas, cereais, sementes, pós de folha e casca de ovo usada para enriquecer a alimentação e combater a desnutrição e difundida desde os anos 1980 pela Pastoral da Criança, fundada pela médica Zilda Arns.
Doria quando era prefeito em 2017, queria que a produção farinata fosse feita em grande escala, de forma industrial, usando alimentos que estavam perto da data de vencimento e fora do padrão de venda em supermercados.
Na época, a própria fundadora da empresa que criou a farinata, a administradora Rosana Perrotti, questionada sobre a multimistura criada por Zilda Arns em entrevista à Folha, respondeu: “Não tem nada a ver com o que a gente faz. Pego um alimento bom e o transformo num mesmo alimento, estendendo a vida útil. Ela fazia uma mistura que era um alimento para quem não tinha, mas numa escala familiar”.