
Em menos de duas semanas duas professoras faleceram em escolas da rede pública do Paraná e levantam preocupações sobre a saúde de profissionais do ensino.
Na última quarta-feira (05), a professora de Língua Portuguesa, Rosane Maria Bobato, faleceu enquanto trabalhava no Colégio Estadual Santa Gemma Galgani, em Curitiba (PR). Rosane lecionava na rede paranaense há mais de 29 anos.
O Colégio Estadual Santa Gemma Galgani faz parte do programa de terceirização da gestão escolar implantado pelo governo do Paraná, que transferiu a administração de diversas unidades para organizações sociais privadas. O modelo, alvo de críticas de educadores e sindicatos, vem sendo apontado como fator de agravamento das condições de trabalho, contribuindo para o adoecimento e a desumanização da prática docente.
O caso ocorreu a menos de uma semana após a morte da professora Silvaneide Monteiro Andrade, que faleceu dentro do Colégio Cívico-Militar Jayme Canet, também em Curitiba, na última sexta-feira (30).
Um estudo da Associação dos Professores do Paraná (APP-Sindicato) tem denunciado a exaustão a que são submetidos os profissionais da educação na rede pública paranaense, especialmente em um contexto do que chama a entidade de plataformização, além da privatização promovida pelo governo de Ratinho Junior.
De acordo com o estudo, 91,3% dos professores se declaram sobrecarregados com a avalanche de novas plataformas, aplicativos e meios tecnológicos somados à cobrança pelo cumprimento de metas, com muitos relatam sofrer assédio e pressão para o cumprimento destas. Já 74,3% reconhecem os impactos negativos do modelo na sua saúde física e/ou mental, enquanto uma parcela maior (78,3%) afirma ter colegas que adoeceram em decorrência das dificuldades impostas pelas novas tecnologias.
De acordo com a APP-Sindicato, o grau de adoecimento e sobrecarga estão atrelados ao modelo, a percepção de baixa aprendizagem dos alunos e as deficiências materiais da rede de ensino para atender às exigências tecnológicas.
AUDIÊNCIA PÚBLICA
Na manhã desta segunda-feira (09), professores, parlamentares, movimentos sociais, estudantil e especialistas em educação estiveram presentes para debater o tema em audiência pública intitulada “Adoecimento de Servidores e Educadores da Rede Pública do Paraná”, na Assembleia Legislativa do Paraná, convocada pelo deputado estadual Goura (PDT). Apesar de ter sido convidado, o secretário da Educação, Roni Miranda, não compareceu nem enviou representante.
O deputado Goura lamentou a ausência da Secretaria da Educação no debate e prestou homenagem às duas educadoras que morreram durante o expediente, enfatizando que essas tragédias não são fatos isolados, mas parte de uma tendência alarmante de adoecimento físico e mental educadores e demais servidores da educação pública do Paraná.
“O principal objetivo [desta audiência] é apresentar dados e relatórios atualizados sobre o adoecimento e provocar um diálogo construtivo, coletivo e democrático, alinhado aos objetivos da educação pública e, especialmente, às condições de trabalho”, afirmou Goura.
Dados da Secretária de Administração e Previdência divulgados por parlamentares revelam que em 2024, por dia, mais de 27 trabalhadores da educação foram afastados por adoecimentos relacionados à saúde mental.
A presidenta da APP-Sindicato, professora Walkiria Mazeto, destacou que o adoecimento da categoria é provocado de maneira intencional pelo projeto de sucateamento e privatização do ensino no estado. “A APP denuncia e enfrenta esse modelo educacional que virou mercadoria na fantástica fábrica do Ratinho Jr. com a reforma empresarial da Seed aliando meritocracia ao desempenho. Temos que ter respeito ao nosso adoecimento e sem punições quando nos afastamos por motivos de saúde”, disse.
Os números foram obtidos pela bancada de Oposição na Assembleia Legislativa e divulgados pela deputada estadual Ana Júlia Ribeiro (PT) e demonstram que mais de 10 mil profissionais da educação tiveram de se afastar do trabalho devido adoecimento mental.
De acordo com o levantamento: 8.888 professores do Quadro Próprio do Magistério tiveram que se afastar do trabalho para tratamento de saúde mental, além de 914 Agentes Educacionais II, 624 de Agentes Educacionais I, 43 professores QPM do Colégio Estadual do Paraná, cinco Agentes Profissionais, três QPPE lotados(as) na Educação e um Agente Educacional I do Colégio Estadual.
“O número de professores afastados por problemas mentais em 2024 representa 13% dos 68.837 profissionais da rede pública estadual. A situação é mais alarmante entre os profissionais concursados (QPM). Os 8.888 afastamentos correspondem a 23,5% do quadro efetivo de 37.773 professores”, aponta a APP-Sindicato.