Josué Gomes, presidente da Fiesp, defendeu menos juros e reforma tributária em reunião da entidade com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva, fez críticas aos juros altos na reunião da diretoria da entidade, realizada nesta segunda-feira (30), com a presença do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Para Josué Gomes, a taxa de juros da economia chegou “a níveis absurdos com os quais é impossível fazer com que o Brasil cresça”. “Sem crescimento econômico nós não resolveremos os problemas sociais e, portanto, é preciso que nós todos estejamos de mãos dadas para promover o crescimento econômico, que só virá se a indústria de transformação crescer a taxas aceleradas”, declarou.
Durante seu discurso, o presidente da Fiesp afirmou que “a indústria de transformação no Brasil, que sempre foi a locomotiva do crescimento brasileiro, entre 1940 até o fim dos anos 80, período no qual o Brasil foi o país que mais cresceu no mundo, a taxas anuais compostas de 7,3%, essa locomotiva infelizmente parou de puxar o crescimento nacional. E nessas últimas quatro décadas, a indústria de transformação vem perdendo espaço na economia. Nós já tivemos 27%, 28% do PIB, hoje temos 11% do PIB. Há duas décadas nós tínhamos 19,5% de participação do PIB, hoje temos 11%”.
“Infelizmente o Brasil foi criando condições extremamente inóspitas para o desenvolvimento da atividade da indústria de transformação e sem o crescimento da indústria de transformação, que é aquele que traz o maior multiplicador econômico – é aquele que investe 2/3 do investimento em pesquisa e desenvolvimento do Brasil, aquele que em média paga os melhores salários – o Brasil também deixou de crescer. Nós estamos há quatro décadas patinando”, criticou Josué.
O presidente da Fiesp disse ao ministro da Fazenda que a indústria perdeu a capacidade de investir diante do peso dos juros altos e da alta carga tributária.
“As condições adversas para indústria de transformação são várias, mas eu não posso deixar de destacar que especialmente são duas: em primeiro lugar, uma estrutura tributária que puniu a produção industrial no país. Hoje, a indústria de transformação recolhe cerca de 30% do total dos tributos arrecadados no Brasil, tendo apenas 11% de participação no PIB. 45% do valor adicionado, em média, pela indústria de transformação é pago sobre a forma de tributos. Outros segmentos pagam 10%, 5% do valor adicionado. Então, este é um fator que precisa ser corrigido, urgentemente, porque obviamente ele retira capacidade de geração de caixa livre para investimentos na indústria de transformação”, pontuou.
“A narrativa econômica no Brasil já durante muito tempo pregou que os juros reais de equilíbrio eram 8%. Juros reais de equilíbrio significando aqueles juros abaixo do qual nós teríamos um crescimento inflacionário. Depois isso foi sendo desmistificado e chegamos a ter juros reais até negativos, sem produção de inflação”
E completou: “Isto, combinado com o custo de capital altíssimo no Brasil, agora mesmo, este custo de capital básico na economia com a Selic de 13,75%, o Brasil hoje ostenta as maiores taxas de juros reais do mundo. A taxa básica de 13,75% com inflação em torno de 6%, nós voltamos aquele tempo de juros reais de 8%. Aliás, a narrativa econômica no Brasil já durante muito tempo pregou que os juros reais de equilíbrio eram 8%. Juros reais de equilíbrio significando aqueles juros abaixo do qual nós teríamos um crescimento inflacionário. Depois isso foi sendo desmistificado e chegamos a ter juros reais até negativos, sem produção de inflação”.
O dirigente da Fiesp destacou que a atual inflação no Brasil resulta do “choque de preços externos gigantesco por causa, não só das rupturas das cadeias de suprimento provocado pela Covid-19, mas também da guerra na Ucrânia”.
Para Gomes da Silva , estes eventos levaram para o mundo todo “um choque de inflação, em que o nosso Banco Central tenta combater com o único instrumento que ele tem, não devia ser só esse instrumento, mas um instrumento, que é a Selic”, disse.
“Se por um lado a indústria de transformação é altamente tributada, o que faz com que a gente tenha menos geração de recursos próprios para investimento, e por outro lado é impossível tomar recursos emprestados para investir na atividade produtiva, o que se dá é o que nós vimos. Uma queda da produtividade da indústria brasileira em relação à produtividade da indústria de transformação de outros países do mundo”, ressaltou Josué.
Segundo o empresário, “se nós não resolvermos esses dois problemas que estão afetos muito diretamente ao Ministério da Fazenda, é difícil qualquer política Industrial ter grandes resultados”.
Ele citou a reforma tributária “e as causas estruturais que nos leva a essa taxa de juros, seja Selic, seja os ‘spreads’ bancários, num patamar tão mais alto que os países com os quais nos competimos e países com condições até inferiores a que o Brasil oferece”.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reiterou aos empresários o compromisso do governo com a aprovação da reforma tributária, ainda no primeiro semestre deste ano, e destacou que aprovando a reforma tributária e o novo arcabouço fiscal isto iria “pacificar o Brasil em um front delicado”.
Haddad declarou que é preciso sair da “agenda de curtíssimo prazo” e ter uma “visão estratégica de desenvolvimento, que o Brasil não tem há muito tempo”.
Sobre os juros elevados implementados pelo Banco Central, o ministro da Fazenda disse que se reuniu com o presidente do BC, Campos Neto, onde um dos temos tratados foi o crédito no Brasil.
“É óbvio, que temos aí a questão da Selic, que é uma trava para todos. Você pode diminuir spread, melhorar sistema de garantias, mas a Selic sempre vai ser um obstáculo à democratização do crédito, mas nós sabemos o potencial que isso teria na economia brasileira. Então, nós vamos abraçar a agenda de crédito”, disse o ministro Haddad.