Andrei Rodrigues destacou a gravidade do que houve e enfatizou influência de grupos extremistas fascistas ativos no país
O diretor-geral da PF (Polícia Federal), Andrei Rodrigues, destacou, na quinta-feira (14), a extrema gravidade do atentado terrorista ocorrido na Praça dos Três Poderes, em Brasília, na noite de quarta-feira (13). Na ocasião explodiram artefatos e o terrorista Francisco Wanderley Luiz morreu.
Andrei se posicionou contra a proposta de anistia a participantes de atos extremistas, a exemplo do 8 de janeiro. O tema é objeto de discussão, com tentativas de os bolsonaristas pautarem projeto de lei nessa direção na Câmara dos Deputados.
“Hoje, o ministro Alexandre de Moraes já comentou esse assunto. Eu, aqui, faço coro às suas palavras. Vejam a gravidade e a extensão desse processo. Não é razoável pessoas cometerem atos terroristas, tentarem assassinar outras pessoas, tentar vitimar policiais… De fato, não estamos falando de um grupo de pessoas que quebrou um quadro ou uma cadeira. Estamos falando de ações violentas ao Estado Democrático de Direito, de ações gravíssimas e tentativa de homicídio”, disse o chefe da PF.
“Eu também entendo que não é aceitável que se proponha anistia para esse tipo de pessoa”, completou Rodrigues.
O catarinense Francisco Wanderley Luiz, de 59 anos, que se matou após jogar bombas contra o STF (Supremo Tribunal Federal), premeditou o ato e estava no Distrito Federal, segundo Andrei, desde julho.
Ele alugou casa em Ceilândia (DF), 36 quilômetros do centro da capital, onde foram encontrados mais explosivos e artefatos artesanais produzidos por ele.
EXPLOSIVO ACIONADO NA CASA
Em varredura no imóvel, a PF usou robô antibombas diante da possibilidade de novas explosões. O artefato explodi. O ato foi tão premeditado que Francisco deixou explosivo acionado dentro de das gavetas do local.
Os policiais só não se machucaram por causa do uso do robô.
“Deixou lá um artefato para, de fato, matar os policiais. Não estamos falando de um grupo de pessoas que quebrou um quadro ou uma cadeira. Estamos falando de armadilhas para matar policiais que estavam fazendo a investigação”, pontificou.
RELAÇÃO COM 8 DE JANEIRO
Até então, acredita-se que o homem tenha agido sozinho, mas a investigação segue no sentido de colher elementos e novas informações sobre o caso.
Pessoas da família de Francisco informaram que ele esteve em Brasília no início de 2023, nos dias em que ocorreu o 8 de janeiro, quando milhares de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) invadiram e vandalizaram as sedes do governo (Palácio do Planalto), Supremo e Congresso Nacional.
A PF ainda não consegue dizer se ele participou, de fato, das manifestações que acabaram em invasão das sedes dos Três Poderes, mas avalia que a ação da última quarta-feira é influência, com certeza, de grupos extremistas que seguem ativos no País.
AMEAÇAS AO STF
O diretor-geral da PF informou, por exemplo, que o STF continua recebendo ameaças. “É um momento de extrema gravidade”, comentou.
“Hoje houve novos envios de mensagens com ameaças à Suprema Corte. Recebi hoje, não sei se o envio foi hoje, mas a informação é de que há novas ameaças ao STF”, expôs Andrei.
REDES DIGITAIS E ANISTIA
O decano da Corte, ministro Gilmar Mendes ressaltou que o ocorrido não foi fato isolado, vez que, nos últimos anos, houve diversos atentados contra as instituições de Estado e a democracia.
Mendes citou desde os disparos de fogos de artifício contra o STF, ainda em 2020, o acampamento no QGEx (Quartel-General do Exército), em Brasília, manifestações pedindo intervenção militar, tentativa de invasão do prédio da PF, no centro da capital federal, e a bomba plantada num caminhão-tanque no aeroporto de Brasília, em dezembro de 2023, véspera do Natal.
“Muito embora o extremismo e a intolerância tenham atingido o paroxismo em 8 de janeiro de 2023, a ideologia rasteira que inspirou a tentativa de golpe de Estado não surgiu subitamente”, afirmou. “O discurso de ódio, o fanatismo político e a indústria de desinformação foram largamente estimulados pelo governo anterior”.
E, diante desse quadro caótico, na avaliação do ministro, revisitar os fatos que antecederam o ataque de quarta-feira é pressuposto para debate sobre a defesa das instituições, a regulação das redes digitais e eventuais propostas de anistiar criminosos, que foi rechaçada pela maioria dos ministros do Supremo.