“Quando Israel cometeu crimes de guerra na frente de suas câmeras, por que não nos chamaram para nos entrevistar?”, questionou à BBC o embaixador palestino em Londres, Hussam Zomlot
O embaixador palestino em Londres, em entrevista à BBC, respondeu aos acontecimentos recentes dizendo ao entrevistador Lewis Vaugham que “a questão essencial é, acima de tudo, a brutalidade da ocupação, a negação dos direitos palestinos há 75 anos”.
Diante da insistência do entrevistador para que Zomlot se referisse ao Hamas e sua incursão recente ele destacou que “temos que sair deste quadro sombrio e buscar outra rota”, com o fim da ocupação.
Apontando para os crimes de guerra diuturnos dos quais são vítimas os palestinos, denunciou que “são mais 200 mortos na Cisjordânia nos últimos meses”.
Ele também alertou que “é fundamental deter o massacre em Gaza”.
Vamos à entrevista:
Hussam Zomlot – Tudo começou aqui, Lewis, exatamente nessa cidade. Foi o Reino Unido que nos privou de nossos direitos sem sequer nos consultar. Desde então temos visto essa conduta do Ocidente que tem sido um fracasso.
Já está na hora de seguirmos uma outra rota porque não há outra alternativa.
Então nós estamos aqui hoje e a pergunta é: como podemos impedir os massacres que Israel pretende promover contra os palestinos?
Lewis Vaughan – BBC – Eu agradeço o contexto histórico, mas eu quero pular – e nós podemos falar disso depois – mas eu queria focar nas últimas 48 horas.
Você apoia o ataque perpetrado pelo Hamas na manhã deste sábado?
Zomlot – Essa não é a pergunta correta Lewis, sério.
A´pergunta…
Vaugham – É uma pergunta importante… Saber se você apoia ou não essas ações é uma pergunta importante
Zomlot – Não, não, não… Não é uma pergunta importante.
Hamas é um grupo, é um grupo militante e você está falando com o representante palestino.
A nossa posição é muito conhecida e clara
Vaugham – Qual é a sua posição? Você apoia o Hamas?
Zomlot – Você não pode equiparar. A questão não é apoiar ou não apoiar.
Eu estou aqui para representar meu povo, o povo palestino. O que eles estão atravessando. Eu não estou aqui para condenar ninguém.
E se tem alguém a ser condenado é aquilo que você chama de “única democracia no Oriente Médio”.
Que seria Israel, que abrindo um parêntesis, está fazendo o que você acabou de mostrar, atacando civis e isso não ocorreu apenas nas últimas horas.
Vaugham – O Hamas atacou civis, não vai condená-los?
Zomlot – Vou te dizer uma coisa. O Hamas não é o governo palestino.
O governo de Israel está mobilizando seu exército organizado.
Então, por favor, não desenhe aí qualquer simetria, não iguale.
Não tem como você possa desenhar qualquer simetria. E não iguale o ocupado com o ocupante.
Isso não ajuda sua audiência, seus telespectadores a entenderem a real situação.
Desde o estabelecimento de Israel, ele tem uma doutrina militar. Quando luta, ataca civis, mata civis para pressionar a resistência. Isso desde 1948, e vamos aos arquivos e isso se repete em Gaza e vai continuar a se repetir.
Então a conversa não pode ser em torno de culpar. Eu não estou neste jogo de culpar a vítima.
A questão que realmente importa é como detemos este mortal ciclo vicioso.
Vaugham – Você acaba de condenar Israel por matar civis e se recusa a condenar o Hamas por matar civis?
Zomlot – Quantas vezes você entrevistou oficiais israelenses, Lewis?
Vaugham – Centenas de vezes.
Zomlot – Quantas vezes Israel cometeu crimes de guerra cobertos ao vivo por suas câmeras?
Você se deteve para pedir que eles condenassem a si próprios? Já fez isso? Não, não fez.
Você sabe por que eu me recuso a responder a esta pergunta?
Porque eu recuso a premissa dela. Porque a essência dela é uma equiparação.
Porque a própria essência da pergunta é uma representação falsa da situação.
Por que são sempre os palestinos que devem se autocondenar.
Por favor. Este é um conflito político.
Nossos direitos têm sido negados por um longo tempo. Então isto não é um ponto de partida. O ponto de partida correto é focar nas causas que estão na raiz. É tentar sair desse quadro extremamente sombrio. Em oposição ao retratado por esta mídia main stream. Por 75 anos.
Vocês nos trazem aqui, sempre que israelenses morrem… Você me trouxe aqui quando houve palestinos na Cisjordânia, mais de 200, mortos nos últimos meses?
Vocês me convidaram quando Israel fez provocações em Jerusalém, nos lugares sagrados?
Isso que Israel passou nas últimas 48 horas é algo trágico, como eu já disse, os palestinos veem todos os dias pelos últimos 50 anos. Você sabe qual é a situação em Gaza, acabou de descrevê-la.
É a maior prisão a céu aberto. Essas pessoas, 2 milhões, foram feitos reféns por Israel nos últimos 16 anos.
Eu estou dizendo isso, Lewis, só para mostrar que talvez tenha chegado a hora de abandonarmos esta retórica muito perigosa. Esse quadro e começarmos a fornecer ao público a feia realidade, algumas vezes.
Vaugham – Qual a solução aos seus olhos?
A lei internacional, é isso. A igual aplicação das resoluções internacionais. Da lei, da legitimidade.
Você traria um soldado da Ucrânia aqui e começaria a exigir dele que condene alguns de seus combatentes? Precisamos aplicar de forma igual as regras que foram criadas pela Liga das Nações, após os horrores da Segunda Guerra Mundial.
Temos que garantir que Israel não será tratada como uma exceção. Tem sido pelos últimos 75 anos. Que ninguém esteja acima da Lei. A Inglaterra sempre convoca o primado da lei. Eu penso que esta é a solução.
Israel é uma força ocupante. Ela é responsável por garantir a proteção das pessoas sob sua ocupação.
E se eles cometem crimes incluindo crimes contra a Humanidade, nas próximas horas e semanas, devem ser responsabilizados pela Comunidade Internacional e pelo sistema judicial internacional.
Vaugham – Senhor Hussam Zomlot muito obrigado por vir ao nosso programa.