
Mensagens foram enviadas pelo gabinete do então chefe da Casa Civil, general Braga Netto, cotado para vice de Bolsonaro
A Presidência da República solicitou oficialmente ao MEC (Ministério da Educação) que recebesse um dos pastores (Arilton Moura) ligados a Jair Bolsonaro (PL) e suspeitos de atuar em esquema de corrupção no governo e ainda cobrou retorno da pasta sobre as providências adotadas diante das demandas.
O pedido de reunião ao MEC e a cobrança do Planalto sobre os encaminhamentos estão em e-mail obtido pela jornal Folha de S.Paulo. A mensagem, de janeiro de 2021, partiu do gabinete do então ministro da Casa Civil, general Walter Braga Netto, cotado para vice na chapa à reeleição de Bolsonaro.
Essa situação de graves indícios de corrupção no MEC lembra o esquema que foi montado no Ministério da Saúde para compra irregular de vacinas no período mais grave da pandemia.
O modus operandi é muito parecido. Por meio de estrutura paralela, um grupo agia na pasta para ter acesso a vultosos recursos públicos, a fim de usá-los para obter ganhos escusos, com propinas.
“PERTINÊNCIA EM ATENDER”
Em 7 de janeiro do ano passado, o gabinete de Braga Netto encaminhou ao MEC, por e-mail, solicitação de audiência em nome do pastor Arilton Moura para que a pasta avaliasse a “pertinência em atender”. O texto ainda cobra retorno sobre as “providências adotadas por esse ministério”.
Questionados, MEC, Planalto e o ex-ministro não responderam. Por óbvio, não podem responder, porque não tem como explicar essas atravessações. Daí, é melhor todos “fingirem-se de mortos”.
As mensagens reforçam as denúncias de respaldo do Planalto para a atuação dos pastores, peças centrais no balcão de negócios do MEC. Em áudio revelado pela Folha em março, o agora ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, disse que priorizava pedidos dos pastores sob orientação de Bolsonaro.
SEM CARGOS, MAS COM ACESSO AOS COFRES
Os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos negociavam, desde o início de 2021, a liberação de recursos federais da Educação com prefeitos, mesmo sem cargo no governo.
Ambos foram presos em 22 de junho, assim como Milton Ribeiro, ex-assessor do MEC e o genro de Arilton — todos acabaram soltos no dia seguinte.
A Polícia Federal apura o escândalo e, na Justiça, o caso foi submetido para o STF (Supremo Tribunal Federal) após indícios de que Bolsonaro haveria interferido nas investigações e avisado o ex-ministro da possibilidade de operação contra ele.
PEDIDO DE AUDIÊNCIA
De acordo com as mensagens, a assessora dos pastores, Nely Carneiro da Veiga Jardim, pede — em e-mail para Casa Civil às 9h47 do dia 7 de janeiro de 2021— “uma audiência com Gen. Braga Netto”.
A assessora dos pastores evangélicos insiste, em nova mensagem às 15h13 do mesmo dia, sob a alegação de que Arilton tinha voo já reservado à Brasília.
Nely Jardim atuava como assessora dos pastores e também foi alvo de mandados de busca e apreensão da operação Acesso Pago da PF, que prendeu o grupo. Além de cuidar da agenda dos religiosos, ela abordava prefeitos em nome dos pastores, segundo relatos.
A Casa Civil, por sua vez, encaminha ao MEC, às 17h40, mensagem para que a pasta avalie a possibilidade de receber o pastor. O título da mensagem é: “DERIVAÇÃO: Pastor Arilton Moura, Assessor do Presidente das Igrejas Evangélicas Cristo para Todos”. O presidente da instituição é o pastor Gilmar Santos.
M. V.