A tentativa de Jair Bolsonaro de incluir governos estaduais e prefeituras entre os objetos de investigação da CPI da Covid-19 foi classificada como “farsa” pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
“É mais uma farsa do governo Bolsonaro, que não tem coragem de assumir responsabilidades e quer transferir seus graves erros e equívocos na pandemia para governadores e prefeitos”, afirmou.
Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), afirmou que a “CPI vai avaliar a responsabilidade por omissões do governo federal face ao enfrentamento da pandemia, notadamente face ao que aconteceu em Manaus”.
O presidente do Senado também explicou que uma CPI não pode apurar fatos relativos a Estados. “Isso incumbe às Assembleias Legislativas. O que cabe a uma CPI do Senado ou da Câmara dos Deputados é a apuração dos fatos no governo federal e os desdobramentos desses fatos que envolvem recursos federais encaminhados a Estados e municípios. Os fatos relacionados às verbas federais podem ser alvo de inquérito, mas não se pode investigar necessariamente Estados e municípios numa CPI federal”, assinalou Pacheco.
A intenção de Bolsonaro de tirar o foco das investigações sobre as graves omissões e más ações do seu governo e falta de investimento no combate à Covid foi explicitada na conversa telefônica que o presidente teve com o senador Jorge Kajuru, no final de semana.
No telefonema com Kajuru, Bolsonaro pressionou o senador para que incluísse os governadores e prefeitos como alvos de investigação da CPI da Covid-19, cuja instalação imediata foi determinada pelo ministro Luís Roberto Barroso, do STF.
Bolsonaro também mandou Kajuru interferir no sentido de atingir o Supremo Tribunal Federal (STF), sugerindo impeachment de ministros da Corte como uma forma de chantagem para barrar a abertura da CPI. Isso repercutiu em todo o país e foi considerado muito grave por parlamentares, governadores e lideranças políticas.
Durante a conversa, que foi gravada e divulgada pelo próprio senador Kajuru, no domingo (11), Bolsonaro também agrediu o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), autor do requerimento da CPI da Covid-19.
Citando o senador, Bolsonaro disse em um determinado trecho do telefonema: “Mas se você não participa, daí a canalhada lá do Randolfe Rodrigues vai participar. E vai começar a encher o saco. Daí, vou ter que sair na porrada com um bosta desse”.
Em sua resposta, o senador Randolfe Rodrigues afirmou: “A violência costuma ser uma saída para os covardes que têm muito a esconder”. “Não irão nos intimidar! Especialmente porque sabemos que a fraqueza desse governo está em todos os âmbitos. Nossa única briga será pelo povo! Pela vacina e por comida na mesa!”, escreveu Randolfe em seu Twitter.