Não é por causa da seca, rebate Paulo Moutinho do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) em audiência no Senado
O aumento dos focos de incêndio na Amazônia tem relação altíssima com o desmatamento, afirmou o cientista Paulo Moutinho, pesquisador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), na audiência pública na Comissão de Meio Ambiente (CMA), realizada na quinta-feira (29).
“Há uma correlação altíssima entre aonde está o foco de incêndio e aonde foi desmatado. A grilagem tem que ser punida porque senão quem vai perder é o agronegócio, quem vai perder é o fazendeiro sério, o pecuarista sério”, disse Moutinho.
O número de focos de incêndio registrados na Amazônia é 60% mais alto do que o registrado nos três anos anteriores, de acordo com o IPAM. O aumento tem relação com o desmatamento, e não com uma seca mais forte, frisou Paulo Moutinho.
Segundo Paulo Moutinho, o plantio em áreas abertas e desperdiçadas no Brasil seria mais que suficiente para atender toda a demanda de produtos agropecuários para o mercado interno e externo. “Nós temos quase 20 milhões de hectares subutilizados, já desmatados. Na minha perspectiva é quase imoralidade continuar o desmatamento”, enfatizou.
Ele sugeriu a adoção de mais incentivos e subsídios para estados e produtores que adotam práticas sustentáveis e seguem normas ambientais.
Moutinho e outros pesquisadores participaram da audiência na CMA, presidida pelo senador Fabiano Contarato (Rede-ES), defendendo que desenvolvimento agrícola e preservação ambiental podem caminhar juntos.
Eles vieram ao Senado falar sobre o Acordo de Paris, assinado pelo Brasil e mais de 190 países, que estabeleceu metas para evitar o aumento da temperatura do planeta e seus efeitos. O Brasil se comprometeu a reduzir as emissões de gases de efeito estufa (em especial o dióxido de carbono, o CO2) em 37%, até 2025, em relação aos níveis de 2005 — percentual que pode chegar a 43% em 2030.
Segundo Karen Cope, da Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima), a Política Nacional de Mudanças do Clima (PNMC) tem sido eficaz para atingir o objetivo, mas ela defendeu mais investimentos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que ações para atingir as metas de Paris custariam cerca de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) global.
“Quais são os instrumentos que vão de fato levantar o capital necessário para implementação da política do clima que a gente tem para 2030 e 2050? Hoje o valor mobilizado é muito aquém do necessário”, apontou Karen Cope.
No ano passado, durante a COP-24, em Katowice, na Polônia, o governo anunciou que o país não apenas cumpriu como antecipou sua meta nessa área, já atingindo o resultado esperado para 2020. A Comissão de Meio Ambiente tem acompanhado o cumprimento dos compromissos assumidos pelo Brasil, que são o propósito da PNMC.
“Espero que esse processo e os resultados da avaliação dessa comissão sirvam para mostrar ao Brasil e ao mundo o pioneirismo que o Brasil teve na atuação e mudança do clima e o trabalho que não pode ser perdido”, defendeu a representante da Rede Clima.
Queimadas
Para Gustavo Luedemann, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) as recentes queimadas na Amazônia devem servir de alerta para que o Brasil não tenha aumento nas emissões de CO2. Segundo ele, é possível crescer de forma sustentável.
“Alguns dizem aí que estão querendo que a gente volte a andar de carroça. Não é isso não. Isso [a meta de redução de CO2] foi estudado, não foi tirado do além”, sustentou.
O professor e pesquisador na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mauro Meirelles Santos, alertou para os impactos das mudanças climáticas.
“Se a Amazônia for queimada, o Brasil vai sofrer as consequências. Vamos ter falta de chuva e vai acabar com a agricultura”, advertiu.
A CMA vai produzir até o final do ano um relatório com recomendações para aprimorar a Política Nacional de Mudanças do Clima (PNMC).
“Nós vivemos hoje no Brasil momento muito delicado em todas as áreas, mas em particular no meio ambiente”, assinalou o presidente da CMA, senador Fabiano Contarato (Rede-ES).
Fonte: Agência Senado