O reitor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Ricardo Marcelo Fonseca, afirmou que a ação do grupo de bolsonaristas que arrancou, durante o ato de domingo (26), em Curitiba, uma faixa colocada em frente à sede da reitoria com a frase “Em defesa da educação”, é um “elogio ao obscurantismo e à ignorância”.
“Isso não tem a ver, historicamente, nem com a tradição de movimentos conservadores e nem com os progressistas. Não se trata meramente de um anti-intelectualismo, como hoje se costuma dizer. É mais do que isso: é um elogio ao obscurantismo e à ignorância”, afirmou Fonseca.
O reitor, que é professor de História do Direito na Faculdade de Direito da UFPR e professor visitante na Faculdade de Direito da Universidade de Florença, na Itália, disse, em entrevista ao blog do jornalista Leonardo Sakamoto, que o episódio reflete o embate atual entre “educadores e obscurantistas”.
“A causa da educação tem uma força e um universalismo maior que o impulso de um conjunto de tolos que vociferam e arrancam um cartaz que, em outros momentos absolutamente todos iriam ostentar”, assinalou. Segundo o reitor, o ato de intolerância dos bolsonaristas “no fim, só mostra como a universidade, e sua luz, torna-se ainda mais fundamental quando existem trevas”.
A cena foi gravada em vídeos, que foram postados pelos manifestantes nas redes sociais celebrando o feito. Neles, bolsonaristas alegaram que a faixa foi arrancada porque “não se pode usar um prédio público para questões ideológicas”.
“Embora fosse uma faixa feita pelo sindicato dos professores da universidade, sequer havia nela logo sindical ou de qualquer menção a algum movimento político ou social. O que indica que era a própria defesa da educação, em si mesma, que estava sendo questionada raivosamente”, observou o reitor.
Ricardo Marcelo Fonseca alertou para o perigo que representam manifestações de obscurantismo como as que ocorreram na UFPR, aliadas ao ambiente de perseguição e corte de recursos desencadeado por Bosonaro contra as universidades.
“E aí é que está o grande perigo: uma sociedade que despreza a inteligência e o conhecimento não tem nenhuma chance de ter um bom futuro. Sobram só barbárie e violência, real ou simbólica. Convido os que se deixaram levar pelo momento e pelo ódio incitado por alguns que parem, ponderem e percebam que não pode haver luz no fim do túnel sem educação e sem universidades”, disse.
Para o reitor, esse “ataque simbólico” que vem sendo feito à universidade “pode ser tão perverso quanto o ataque orçamentário”.
“Lembre que a diminuição nos nossos orçamentos vem ocorrendo há pelo menos quatro anos, apesar das universidades estarem em expansão e de todos os nossos contratos e serviços se reajustarem, todos os anos. Não há mais gordura pra queimar. A ladeira abaixo é para a precarização seguida de inviabilização institucional”, apontou Ricardo Fonseca.
Ele também criticou os ataques do ministro da Educação, Abraham Weintraub, que comparou as universidades públicas com local de “promoção de balbúrdia”. “Só posso classificar como surreal ou mesmo bizarro que uma instituição com essa centralidade e essa importância para nosso país de repente seja vista por muitos como o lugar da baderna, do desperdício ou da perversão”, afirmou.
“Sem as universidades públicas brasileiras, somos menos civilizados, temos menos desenvolvimento econômico e somos menos preparados para enfrentar o futuro. Sem as universidades públicas, o Brasil fica de mãos abanando e com os cérebros vazios”, sublinhou.
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Gostei muito da matéria, e quanto ao presidente e os seus seguidores fanáticos, eu só tenho a lamentar. Cabe a nós continuar acreditando num futuro melhor pq com este governo não dá.