O ex-embaixador e assessor especial de Lula, Celso Amorim, defendeu a suspensão da compra de armamentos de Israel por conta do genocídio que o país está realizando contra os palestinos na Faixa de Gaza.
Além disso, Amorim comentou que “é um risco” para a defesa do Brasil ter equipamentos que dependam de Israel, que tem uma atitude agressiva contra todos que denunciam seus crimes.
“Você tem um país que está sendo julgado na Corte Internacional de Justiça por indícios de genocídio. Isso já colocaria alguma dúvida”, comentou o assessor especial.
Ele foi questionado nesta semana em uma reunião da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados sobre a suspensão da compra de 36 veículos blindados de Israel, em uma licitação que chegava a R$ 1 bilhão.
“Por outro lado, comprar armamentos tão delicados de um país com o qual você pode ter divergência… Vamos lembrar, não fomos nós que expulsamos o embaixador de Israel daqui, ele continua aí!”, falou.
“Foi Israel que tomou uma atitude que tornou impossível o nosso embaixador continuar lá, foi uma humilhação para o embaixador. O país que considerou o nosso presidente [Lula] persona non grata, que considerou o secretário-geral da ONU [António Guterres] persona non grata”, continuou.
Para o Brasil, na visão de Celso Amorim, “é, no mínimo, um risco você fazer com que sua defesa dependa do fornecimento de equipamento e código-fonte” de Israel.
Depois que o presidente Lula comparou o genocídio praticado por Israel aos atos da Alemanha nazista, Israel convocou o embaixador brasileiro para um ato de humilhação pública em um museu do holocausto. Em um ano, Israel já matou mais de 42 mil pessoas na Faixa de Gaza e ainda usa o argumento de “legítima defesa”.
Celso Amorim lembrou de um caso na Guerra das Malvinas, na qual se enfrentaram Argentina e Inglaterra. “Os argentinos compraram da França aquele foguete, no início foi muito efetivo, o Exocet, mas depois eles passaram o código-fonte para o Reino Unido, e nenhum Exocet acertou mais lugar nenhum”, contou.
Durante a reunião, Amorim ainda defendeu que o Brasil deve “manter uma interlocução” com a Venezuela apesar dos atritos mais recentes, em especial aqueles envolvendo o não reconhecimento da reeleição de Maduro.
Amorim contou que esteve na Venezuela para acompanhar as eleições e que presenciou parte da tensão acerca da falta de confiança sobre o resultado divulgado.
O governo venezuelano falou para o representante brasileiro que as atas oficiais com os votos seriam divulgadas, o que nunca ocorreu. Nicolás Maduro foi declarado reeleito mesmo sem os documentos.