
O ex-chanceler e assessor de Lula, Celso Amorim, chamou de “barbaridade” a decisão da Otan, pressionada pelos Estados Unidos, de subir de 2% para 5% do PIB o gasto mínimo de seus membros com defesa.
Celso Amorim alertou, em entrevista à Agência Pública, para o risco de uma guerra mundial caso os conflitos hoje existentes, como dos Estados Unidos e Israel contra o Irã ou entre a Rússia e a Ucrânia – com apoio da Otan – não sejam negociados.
“Você tem hoje uma guerra na Europa, em que um lado está a Rússia, do outro a Ucrânia, mas não é a Ucrânia sozinha. Tem a Europa aumentando para 5% em cada país os gastos de defesa. É uma barbaridade”, disse.
No dia 25 de junho, os países membros da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) aprovaram o aumento dos gastos mínimos em defesa para 5% do PIB de cada país. O percentual exigido anteriormente era de 2%. A Otan ajuda a Ucrânia na guerra contra a Rússia com treinamentos e armas.
O aumento ocorreu por uma pressão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, que já foi ministro das Relações Internacionais, avalia que guerras envolvendo países com armas nucleares, como Estados Unidos, Israel e Rússia, “têm todo o potencial para se transformar numa guerra mundial”.
Celso Amorim classificou como “muito perigosa” a ofensiva dos EUA e de Israel contra o Irã para supostamente barrar a produção de armas nucleares no país. Ele também lembrou que foi Israel o primeiro país a descumprir o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP).
O assessor de Lula comparou o ataque contra o Irã à guerra feita pelos EUA contra o Iraque, para a qual foi apresentada a justificativa mentirosa de que o Iraque produzia armas químicas.
“Os EUA alegaram que o Iraque tinha armas químicas, na realidade ele não tinha, e isso acabou levando à destruição do Iraque. Durante muito tempo houve um caos que propiciou inclusive a criação do Estado Islâmico. Esse tipo de ataque é muito ruim”, sustentou.
Para Amorim, “a ordem internacional acabou”. “A ordem internacional tal como ela foi desenhada, e o TNP é parte dessa ordem, acabou. Acho que a credibilidade do sistema foi muito afetada”, observou.
“Eu acho que nós temos que construir uma nova ordem. Não sei exatamente como será, mas acho que tem que levar mais em conta a presença de países em desenvolvimento. Acho que os BRICS terão uma importância muito grande nessa nova construção mundial”, continuou.
“O Conselho de Segurança na realidade não é um conselho de segurança. Ali estão os membros permanentes que não correspondem mais ao que é o mundo de hoje. Com todo respeito à França, à Inglaterra, que são países importantes, mas não há razão para deixar o Brasil de lado. Não há razão para esses países serem membros permanentes e a Índia não ser”, prosseguiu.
“O presidente Trump, para não falar no presidente de Israel, não teve sequer a preocupação de levar o assunto [do conflito contra o Irã] ao Conselho. Até o presidente Bush [que atacou o Iraque] tentou obter o apoio do conselho. Tentou, não conseguiu. Mas agora nem sequer houve tentativa. Não existe mais o Conselho de Segurança. Não existe a ONU. Como não existe a OMC [Organização Mundial do Comércio]. Daqui a pouco não vai mais existir Banco Mundial”, completou.
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