Presidente questionou o BC independente e afirmou que dinheiro para educação e saúde não é gasto, é investimento
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou a autonomia do Banco Central (BC) e voltou a defender que os recursos direcionados para a melhoria da condição de vida da população, principalmente, dos mais pobres, não são gastos, mas “investimentos”.
Ao criticar a meta de inflação do BC e os juros altos, que impedem o crescimento da economia do país, o presidente Lula declarou que no Brasil “se brigou muito para ter um BC independente, que ia melhorar”‘. “O quê?”, questionou. “Eu posso te dizer com a minha experiência: é uma bobagem achar que o presidente de um BC independente vai fazer mais do que fez o BC quando o presidente da República era quem indicava”, disse Lula, em entrevista à GloboNews na quarta-feira (18),
“Eu duvido que esse presidente do Banco Central [Roberto Campos Neto] seja mais independente do que foi o Henrique Meirelles. Duvido. Porque o banco independente da inflação estar do jeito que está e os juros do jeito que estão. Veja, você estabeleceu uma meta de inflação de 3,7%, quando você faz isso, você é obrigado a arrochar mais a economia para poder atingir aqueles 3,7%. Por que precisava fazer 3,7%? Por que não fazer 4,5%, como nós fizemos?”, questionou o presidente
“O que nós precisamos, nesse instante, é o seguinte: a economia brasileira precisa voltar a crescer, e nós precisamos fazer distribuição de renda, nós precisamos fazer mais política social. Se você pegar todos os dados econômicos, você vai ver que durante a pandemia, quem era rico ficou mais rico, os poderosos ficaram muito mais ricos, e o povo ficou mais pobre. Então, eu fico irritado às vezes quando se discute muito, qualquer problema se discute estabilidade, estabilidade, estabilidade fiscal. Ninguém, ninguém foi mais responsável do ponto de vista fiscal do que eu fui”.
Sobre a insana perseguição pela estabilidade fiscal – que na verdade só tem servido de pretexto para garantir os ganhos bilionários dos banqueiros via juros da dívida pública, por meio de cortes de investimento de áreas como Saúde, Educação, Segurança e investimento sociais, Lula afirmou: “não peçam para mim seriedade fiscal. O que eu quero é que as pessoas que pedem estabilidade fiscal tenham responsabilidade social. Assumam compromisso com o social, porque não é possível esse país ter gente na fila do osso para pegar carne, ter 30% de pessoas passando fome”.
O presidente declarou, também, que “nós precisamos discutir, fazer a política fiscal que ela possa ser seguida. A gente tem que dar garantia para a sociedade brasileira de que a gente não vai gastar mais do que a gente ganha. Mas, ao mesmo tempo, nós temos que mudar o discurso. A gente não pode dizer que o dinheiro para educação é gasto. Nós temos que dizer que é investimento. O dinheiro para saúde não é gasto, o dinheiro para saúde é investimento”.
“O dinheiro que você cuida das pessoas para melhorar a vida delas não pode ser tido como gasto. Gasto é o dinheiro jogado fora”, ressaltou. “Vamos pegar o seguinte: venderam a Eletrobrás. Arrecadaram R$ 36 bilhões, e alugaram o gasoduto [da Transportadora Associada de Gás (TAG), que pertencia à Petrobrás] pagando R$ 3 bilhões por ano. A pergunta que eu faço é a seguinte: o que é que foi feito com esses 36 bilhões? Sabe o que foi? Pagamento da dívida”, lembrou Lula. “Eu vou fazer uma estrada, é gasto; eu vou fazer uma ponte, é gasto; eu vou fazer uma ferrovia, é gasto. Agora, a única coisa que não é gasto é pagar quase R$ 600 bilhões de juros todo ano nesse país”, criticou.