O Monitor do Produto Interno Bruto (PIB) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) indicou uma retração de 1% na atividade econômica do país no mês de agosto em relação ao mês de julho. É o pior resultado registrado desde março e reforça a tendência de baixa, já detectada pela retração de 0,3%, registrada pelo índice no 2º trimestre do ano.
O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e serve para acompanhar o desempenho da economia nacional. Em termos monetários, o PIB no acumulado do ano até agosto de 2021, em valores correntes, é calculado em 5 trilhões, 680 bilhões e 7 milhões de reais.
O Monitor divulga uma apuração mensal do PIB nas mesmas bases do PIB oficial calculado pelo IBGE que é divulgado trimestralmente.
“O resultado de agosto, de queda de 1% em relação a julho, traz um pouco de água fria. Mesmo assim, o trimestre ainda teve alta de 0,7%, porque a baixa no mês é de certa forma diluída ao longo do período”, aponta o pesquisador Claudio Considera, coordenador do Monitor do PIB.
Pela ótica da oferta, dos três setores pesquisados, em agosto, a agropecuária teve alta de 2,2%, após ficar estagnada em julho. A indústria, por sua vez, continua patinando, com variação de 0,2%. Já o setor de serviços, o principal do PIB sob a ótica da oferta, recuou 0,2% no oitavo mês do ano.
Pela ótica da demanda, houve queda em quatro dos cinco indicadores pesquisados. O consumo das famílias, o principal deles, caiu 1,8% frente a julho. O consumo do governo teve baixa de 4,9%, e os investimentos na economia, medidos pela Formação Bruta de Capital Fixo, recuaram 1,4%. A importação caiu 16,1%, enquanto a exportação subiu 12,4%.
A FBCF, que mede o que investe o país em máquinas, equipamentos, construção civil e pesquisa, apresentou retração 3,5% no trimestre móvel findo em agosto em comparação com o encerrado em maio, na série ajustada sazonalmente.
Por conta do resultado de agosto, a taxa de crescimento do PIB acumulada nos 12 meses ficou em 3,6%, mantendo a recuperação deste ano inferior às perdas de 2020.
O Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) do Banco Central, outro indicador que acompanha a evolução do PIB e considerado sua prévia, indicou uma queda de 0,15% em agosto. O recuo de 1% do PIB em agosto estimado pela FGV agrava a percepção de fragilidade da economia sob o comando de Bolsonaro e Paulo Guedes.
Com os mais altos níveis de desemprego, o subemprego se disseminando e a renda das famílias em queda, Somados à escalada da inflação e do custo de vida, com o agravamento da crise hídrica e a desastrada política de aumentos dos combustíveis que o governo insiste em manter, a crise se agrava depois do tombo de 2020, que acoplou a pandemia da Covid-19 a uma situação já debilitada da atividade econômica do primeiro ano do governo Bolsonaro.
Nem mesmo o mercado financeiro, que mesmo na pandemia obteve rios de dinheiro, como os R$ 62 bilhões de lucros dos bancos no primeiro semestre deste ano ou navega pelo índice Bovespa acima dos 100 mil pontos, apesar dos sobe e desce com os desatinos de Bolsonaro, consegue esconder as previsões medíocres para o crescimento do PIB.
As projeções das instituições financeiras para o crescimento da economia em 2021 estão atualmente em 5,01%, segundo a última pesquisa Focus do Banco Central, após tombo de 4,1% em 2020. Para 2022, chama a atenção, a média das projeções baixou para míseros 1,5%.
Somadas ainda as tensões políticas, que chegaram à fervura na tentativa de golpe em 7 de Setembro, e a possibilidade de que outra ação contra a democracia ainda pode vir a ser tentada por Bolsonaro, combinam a enrascada da economia e da democracia.
O Monitor observa que “Neste relatório, foi realizado exercício adicional com relação a série com ajuste sazonal uma vez que a pandemia de Covid-19 exerceu influência nos fatores sazonais de 2020 que podem não estar realmente relacionados a sazonalidade”
Dessa forma: “Os resultados mostram que, caso os fatores sazonais da série do PIB utilizados sejam aqueles do período de 2000 até 2019, a taxa de variação em agosto de 2021 seria de -2,3%, inferior à de -1,0% observada considerando todo o período de 2000 até agosto de 2021. Esses resultados sugerem que as taxas ajustadas sazonalmente devem ser analisadas com cautela pois a pandemia pode ter influenciado os fatores sazonais não apenas por razões econômicas como também estatísticas.”