A economia dos EUA cresceu 0,87% no terceiro trimestre em relação ao trimestre anterior, de acordo com a segunda estimativa do PIB do Departamento do Comércio para julho-setembro, divulgado nesta quarta-feira (28), uma pequena desaceleração da alta no segundo trimestre, de 1,05%. (Ao contrário do que é feito quase no mundo inteiro, os americanos costumam inchar suas estatísticas, multiplicando artificialmente por quatro, “anualizando”, como dizem, e é por isso que a mídia fala em “3,5% de crescimento”).
A divulgação ocorreu em paralelo a declaração do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, sobre a alta de juros à frente, esclarecendo que neutro significa “nem acelerando nem desacelerando a economia”.
Aguarda-se nova alta, de 0,25 pontos percentuais, para dezembro, depois das subidas de juros já feitas terem, como efeito colateral, derrubado boa parte dos ganhos do ano em Wall Street. Trump tem chiado que a alta de juros está “rápida demais”. Até aqui, o juro real ainda é negativo.
Embora quando da primeira estimativa do PIB do terceiro trimestre Trump haja se gabado do crescimento, no entanto, no calor da reta final da campanha eleitoral, não foi nisso que ele concentrou suas baterias – mas na xenofobia-, o que pode indicar que o que reluz pode não ser tão dourado assim.
Note-se que Trump acaba de agraciar as corporações com cortes de impostos de US$ 1,5 trilhão em dez anos e, como prêmio consolação à classe média, deu um pequeno alívio temporário que irá se esgotar no próximo ano. A maior parte disso vem sendo usada para recompra de ações e alta de dividendos, e não da produção.
Analistas chamaram a atenção para que dois terços do crescimento no PIB no trimestre se deveu a aumento de estoques, e não à venda de bens e serviços, o que consideraram um “sinal de fraqueza à frente”. O que significa que é provável que a produção seja reduzida em algum ponto no futuro na expectativa de que as mercadorias encalhadas sejam escoadas.
Os gastos com investimentos em instalações e equipamentos de negócios e estruturas residenciais caíram pela primeira vez em três anos, uma queda pequena, em torno de 0,1%.
Mas, com as empresas supostamente cheias de dinheiro em decorrência dos cortes de impostos, é um sintoma de hesitação à frente, ainda mais com o Federal Reserve insistindo em manter a escalada dos juros e se preparando para contrair seu portfólio, enxugando dólares que imprimiu aos borbotões no ‘quantitative easing’.
Outro fator de peso vem sendo a guerra comercial desencadeada por Trump, e que tem como foco a China, embora não se limite a esta.
Exportadores americanos, que anteciparam entregas à China para escapar das contratarifas de Pequim em resposta às sobretaxas de Trump, a partir de 1º de julho reduziram os embarques, fazendo crescer o déficit comercial no terceiro trimestre.
Questão que, se não amenizada na aguardada reunião de Trump com o presidente Xi Jinping durante o G-20, irá se agravar, já que o chefe da Casa Branca ameaça aumentar de 10% para 25% metade das importações de procedência da China a partir de 1º de janeiro, e vai haver o troco, que afetará as grandes corporações norte-americanas com linhas de montagem na China e encarecerá os custos de produção mesmo dentro dos EUA.
INVESTIMENTOS
Outra área que traz preocupação é a da construção. No terceiro trimestre, a maior queda nos investimentos em instalações foi na construção de novas residências, que tem sido duramente afetada pelo aumento nas taxas de juros, hipotecas e preços das casas, bem acima dos salários.
Os gastos em novas residências estão encolhendo há 10 meses, já que também aconteceu em outubro. As vendas de casas novas em outubro despencaram 12% em relação há um ano atrás, enquanto as das casas já existentes caíram mais de 5% no período.
Outro sintoma, também para outubro, foi a queda muito maior que a esperada nas encomendas de bens duráveis, com queda de 4,4%. O que levou um comentarista a considerar que “o começo do quarto trimestre não estava sendo estrondoso”, após registrar que as novas encomendas de bens de capital (não defesa) encolheram 4,2% e, para defesa, -16,6%.
Por sua vez o Fed repercutiu a advertência do FMI e do BIS sobre os “empréstimos alavancados” que, só nos EUA, superam os US$ 1,5 trilhão, apontando a “alta tolerância” dos especuladores – perdão, investidores – “a riscos”, “particularmente no que diz respeito aos ativos ligados à dívida das empresas”.
O Fed alertou explicitamente que “a dívida das empresas em relação ao produto interno bruto (PIB) é historicamente alta, e há sinais de deterioração dos padrões de crédito”.
Sem tanta poesia, o Wall Street Journal advertiu que os empréstimos alavancados “ameaçam a segurança e solidez dos maiores bancos”, citando explicitamente o Morgan Stanley, o Goldman Sachs e o Credit Suisse como tendo recentemente fechado negócios que excederam o que Fed considera “apropriado”.
Trata-se de empréstimos que, à semelhança dos fatídicos CDS das hipotecas tóxicas, são reembalados em obrigações de empréstimo garantidas (CLOS) e vendidos e revendidos como no desastre de há dez anos. E como os fundos mútuos são grandes compradores de CLOS, o eventual colapso em algum ponto pode ser a fagulha que incendeia a pradaria seca, como em 2008.
Outro motivo de preocupação é a indústria automobilística, cuja produção encolheu 5,5% em um ano e com as vendas com financiamento a taxa de 0% caindo quase dois terços em relação a dois anos atrás. O que se reflete nos recentes anúncios da Ford de demissões e da GM, de fechamento de cinco fábricas e demissões. Há ainda crise aberta na GE.
Ao que se soma a sangria nas ações de alta tecnologia, com a Apple perdendo em um dia tanto – em valor de mercado – quanto a capitalização da gigante farmacêutica Pfizer, US$ 265 bilhões, o que se repete nas demais gigantes da internet. A Apple admitiu que três dos seus modelos recém lançados estavam tendo vendas muito aquém do previsto.
Também está se deteriorando o déficit orçamentário dos EUA, com o Departamento do Tesouro registrando, para o ano fiscal de 2018, uma alta de 17% em relação ao ano anterior, para US$ 799 bilhões – o que equivale a 3,9% do PIB. O pagamento de juros para rolagem da dívida pública subiu 14%. Mas os bancos e corporações economizaram 31% em relação ao ano anterior em imposto de renda. O aumento do déficit para entupir as arcas de Wall Street e do Pentágono é usada como pretexto para ameaçar o Medicare, o Medicaid e a Previdência.
ANTONIO PIMENTA