“A retomada vai ser lenta. Será mais que 1% ao ano, mas não vai ser em V, explosiva. Não entendo de onde o ministro da Economia, Paulo Guedes, tirou essa ideia de retomada em V”, declarou, Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central
O economista Affonso Celso Pastore, coordenador do Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace), do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV), ao apontar que o Brasil entrou em recessão no primeiro trimestre de 2020, afirma que a retomada da economia brasileira deve ser lenta por conta da fragilidade econômica que o país demonstrava antes da pandemia do novo coronavírus e pela ineficiência no combate à doença.
Para Pastore, que foi presidente do Banco Central no governo Figueiredo, o último período de “expansão” da economia brasileira, de 2017 a 2019, com um crescimento médio de 1% ao ano, não conseguiu recuperar a queda de -6,7% registrada nos 11 trimestres entre abril de 2014 e dezembro de 2016. “É a recuperação mais lenta da história brasileira, o que mostra que tínhamos uma economia que já estava doente antes de chegar a Covid-19”, disse em entrevista ao Valor Econômico.
O Codace divulgou no início da semana (29) que houve um “pico no ciclo de negócios brasileiro no quarto trimestre de 2019”. Segundo o órgão, esse “pico representa o fim de uma expansão econômica que durou 12 trimestres – entre o primeiro trimestre de 2017 e o quarto de 2019”, “e sinaliza a entrada do país em uma recessão a partir do primeiro trimestre de 2020”. O comitê também demarcou o início da última recessão: “entre abril de 2014 e dezembro de 2016”. O Codace foi Criado em 2004 com a finalidade de “determinar uma cronologia de referência para os ciclos econômicos brasileiros”.
Segundo Celso Pastore, diferente da última crise econômica de 2014, o novo período de recessão no país deve ser mais curto que o anterior, mas tão ou mais crítico que a anterior. Pastore destaca que o Brasil chegou ao fim de 2019 com um PIB per capita 4,5% abaixo do nível alcançado em 2014.
“Um crescimento de 1% no PIB é pouco maior que o crescimento populacional. De forma que nesses últimos anos quase não houve recuperação da renda per capita”, disse o ex-presidente do Banco Central (BC). Ele alerta que o empobrecimento no País deve se agravar neste ano, com o recuo do PIB per capita chegando a 7,2%, caso confirmada a projeção do BC, e um crescimento populacional de 0,8%, a média dos últimos anos. “Vamos terminar o ano 12% abaixo de 2014”.
Pastore avalia que o novo período de recessão no país deve ser mais curto que o anterior por causa da grande capacidade ociosa, mas que isto não significa dizer que a recuperação será rápida. Segundo ele a economia deve crescer a um ritmo maior na saída da recessão, com crescimento de 2,5%.
“A retomada vai ser lenta. Será mais que 1% ao ano, mas não vai ser em V, explosiva. Não entendo de onde o ministro da Economia, Paulo Guedes, tirou essa ideia de retomada em V”, criticou.
Na avaliação de Pastore, como ainda não existe uma vacina contra a Covid-19, que deve estar disponível em algum momento no ano que vem, medidas de isolamento social continuarão a ir e voltar, como tem acontecido no Brasil e no mundo. Diante disto, o economista acredita que o governo não terá como fugir da extensão do auxílio emergencial por mais alguns meses.
“Os shoppings abriram, mas estão vazios. As pessoas estão com medo. Dificilmente veremos um nível de emprego anterior à pandemia. As pessoas vão ficar desempregadas por um tempo extenso. O grau de informalidade vai crescer, a renda média vai piorar. Não tenho ideia de como vai ser essa dinâmica, é uma situação nova. Mas a minha impressão é que desemprego vai aumentar bastante e vai cair devagar”.