
Em debate na Universidade de São Paulo (USP), o professor Elias Jabbour afirmou que no Brasil o “aspecto principal” do subdesenvolvimento é a disputa entre o imperialismo e o projeto nacional autônomo
O professor de economia Elias Jabbour afirmou, em debate na Universidade de São Paulo (USP), que o caminho brasileiro para o socialismo é o “projeto nacional de desenvolvimento”.
Elias é professor associado da Faculdade de Economia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e presidente do Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos (IPP), do Rio de Janeiro, e ex-diretor do Novo Banco do Desenvolvimento, conhecido como Banco dos BRICS.
Em debate organizado pelo PCdoB na USP, Elias discutiu “a atualidade do socialismo no século XXI”. Segundo o economista e geógrafo, no Brasil o “aspecto principal” do subdesenvolvimento é a disputa entre o imperialismo e o projeto nacional autônomo.
“A questão nacional tem que ser historicizada”, defendeu. Nos anos 1930, explicou, esse tema era sintetizado pela necessidade de internalização da siderurgia, que ocorreu em 1941 com a fundação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Hoje, a questão nacional “é ter capacidade de gerar crédito interno no país”, com poder para “gerar e precificar moeda”. O “projeto nacional de desenvolvimento” defendido por Elias também precisa ter como foco a industrialização do país.
Neste sentido, continuou, o “marxismo da periferia” pensa na construção de forças produtivas e tem como tarefa a “construção de base material”.

Jabbour também apontou que, no lugar dos grandes problemas do país, as “micronarrativas” assumiram o debate público e hoje se discute “quem faz o melhor ajuste fiscal”. “Quem nega a questão nacional, nem de esquerda é”, assinalou.
Especialista nos estudos acerca do socialismo chinês, Elias Jabbour destacou que lá “a questão nacional hoje é ter a capacidade de produzir semicondutores”.
“Podemos gostar ou não gostar, mas, hoje, o país que entrega presente e futuro para seu povo, a China, é governado por um partido comunista”, disse. Para Elias, este ponto é fundamental na análise sobre a formação social chinesa.
Conforme explicou, a economia chinesa, para além das empresas estatais e da propriedade pública, tem grandes empresas privadas (ou não-públicas, como propõe chamá-las) também controladas por membros do Partido Comunista Chinês (PCCh). Além disso, essas empresas privadas precisam das empresas públicas e de investimentos vindos de bancos públicos.
Outra questão importante para que o economista caracterize a China, país mais populoso do mundo, como socialista é a superação da extrema pobreza. “Se o capitalismo é capaz de fazer isso, temos que admitir que ele tem uma longa trajetória civilizatória pela frente”, ironizou.
Já pontos laterais e de menor importância não podem ser utilizados para a caracterização, pois isso seria “tomar a totalidade pela parte”. No caso chinês, o “Estado socialista é aquele que incute contradição de forma consciente no seio da sociedade”.
O vereador de Campinas, Gustavo Petta (PCdoB), argumentou durante o debate que o mundo passa por um “período de trevas” com a ascensão da extrema-direita, o irrompimento de novas guerras e o agravamento da desigualdade social.
Ao mesmo tempo, disse, abre-se uma “perspectiva de luz”. Petta destacou a “capacidade do PCCh de liderar o povo em um projeto nacional, de desenvolvimento, de superação dos problemas”.
O vereador Guilherme Bianco (PCdoB), de Araraquara, falou sobre o cenário geopolítico em que os Estados Unidos usam seu braço no Oriente Médio, Israel, para desestabilizar a região e “destruir e varrer do mapa” a população palestina.
“O bloco de oposição à guerra é capitaneado pelo BRICS” e ele tem o potencial de romper com “a hegemonia dos Estados Unidos sobre os países”.
Sobre o Brasil, Bianco destacou que o projeto nacional de desenvolvimento deve ser capaz de distribuir renda e acabar com a fome. “O Brasil produz alimentos para o mundo, mas tem filas de pessoas pedindo comida em sua cidade mais rica, que é São Paulo”, denunciou.