As importações de etanol superaram a exportações do combustível no ano 2017, segundo dados divulgados pela Agência Nacional de Petróleo e Gás (ANP). Esta é a primeira vez que ocorre um déficit na balança comercial de etanol, desde o início da pesquisa no setor, em 2004. O Brasil, que produz cana-de-açúcar de Norte a Sul, se tornou o principal destinatário de exportação do etanol de milho dos Estados Unidos. Cerca de 1,69 bilhão de galões (5,19 bilhões de litros) ou 33% do total de embarques, no ano passado, conforme um resumo detalhado das exportações de etanol de 2017 e estatísticas de importação do etanol da Renewable Fuels Association (RFA), a partir de dados do governo americano.
Para o presidente do Sindicato dos Economistas do Distrito Federal (SINDECON-DF), Flauzino Antunes Neto, “esse quadro reflete, de forma particular, como se trata o setor econômico nacional. Abrimos mão de toda a nossa soberania e governança em gerar riquezas genuinamente nacionais”. Segundo ele, “o governo federal está completamente cúmplice do crime de matar todo o parque industrial das usinas de etanol. Está concordando em aceitar que o produto americano é superior ao nosso, sendo que a tecnologia toda, desde o início na década de 70, foi gerada no Brasil e sempre fomos caso de excelência”, afirmou em entrevista a Hora do Povo. Flauzino destacou ainda os prejuízos dessa política na renda e no emprego, além das exportações.
Ele lembrou que em 2010, em um trabalho de sua autoria, “A desnacionalização do setor sucroalcooleiro e seu impacto no mercado de trabalho”, já alertava sobre a desnacionalização do setor sucroalcooleiro.
“Se depender de nossos queridos e tradicionais usineiros, logo essa tecnologia não será mais nossa, pois preferem ser comandados a comandar. É mais fácil, não demanda esforço, basta juntar-se aos grandes – pela porta dos fundos, é claro. O capital internacional está ávido por taxas altíssimas de lucro, como somente um novo mercado pode dar. E o Brasil, com suas terras abundantes e férteis, clima propício, tecnologia, mão-de-obra para a produção de energia limpa e renovável, e, principalmente, com os capitalistas que possui, vira presa fácil para tal empreitada dos capitais internacionais. Os estrangeiros possuem duas coisas: mercado consumidor e capital. Portanto, utilizam-se dos seus meios de persuasão, como primeiros-ministros, políticos de prestígio e as mídias internacionais imparciais… Dificultam a entrada do etanol em suas fronteiras, alegando trabalho escravo, o avanço da cana em cima dos alimentos, as queimadas, o fim da Amazônia e etc. Resumidamente, o que propuseram foi uma troca – o mercado mundial à disposição do etanol em troca das usinas”, anotou o ex-professor do Departamento de Administração – Faculdades de Ciências Sociais e Agrárias de Itapeva/FAIT. (Ler a condensação deste trabalho, na edição 2860 do jornal HORA DO POVO, em maio de 2010).
Em relação à falta de uma política nacional para o setor de combustíveis, como ocorre nos EUA, e outros países, Flauzino afirmou que o que houve foi “a aplicação de uma estratégia deliberada em beneficiar o capital internacional em detrimento do capital nacional! Mais um caso de crime lesa-pátria”, denunciou o economista.
Sobre as declarações do presidente da União da Indústria de Cana-De-Açúcar (Unica), Antônio de Pádua Rodrigues, de que a nova política de preços para os combustíveis de Pedro Parente (presidente da Petrobrás), com base nos preços internacionais, garante maior previsibilidade ao setor, Flauzino Neto disse que essa paridade com os preços internacionais “poderia afetar positivamente o consumo e a produção de etanol se fizesse parte de um grande projeto nacional de incentivo local à produção, pois com a gasolina mais cara, é natural a migração ao etanol, melhorando o quadro geral. Como não é, a importação tende a aumentar. Infelizmente”, declarou o economista.
ANTÔNIO ROSA