Oposição derrota dobradinha de 30 anos Força Sindical/CUT nos metalúrgicos de Volta Redonda (RJ)
Abandonados pelo sindicato há quase 30 anos”, os 12 mil metalúrgicos da CSN, Companhia Siderúrgica Nacional de Volta Redonda, em abril, sofreram 300 demissões. Sem reajuste há dois anos, ¼ do salário foi derrubado pela inflação, mais a crueldade de mudar o plano de saúde em plena pandemia e o banco de horas para não pagar horas extras, os trabalhadores decidiram parar espontaneamente. Para a então diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense, “a greve estava sendo organizada por baderneiros, que não sabiam nem o que queriam”.
SINDICATO ENTREGAVA PARA EMPRESA
“Tenho três processos pela minha participação: dois da empresa e um do sindicato”, declarou em entrevista ao HP Edimar Miguel, eleito novo presidente em agosto, com 67% dos votos. “Vários colegas perderam o emprego porque a diretoria anterior do sindicato soube que estavam nos apoiando. Isso vinha acontecendo até alguns dias atrás”, denunciou. “Eles estão colhendo o que plantaram. Falam que são combativos, mas estavam vendendo a nossa luta. O sindicato aqui era dirigido pela Força Sindical e pela CUT”, disse Edimar.
“Nossa luta é pela reintegração imediata dos companheiros. Quanto mais tempo passa, mais difícil fica. O companheiro tem que sobreviver, e sem salário …”. Edimar lembrou que, também há 30 anos, “foram assassinados os metalúrgicos William, Barroso e Walmir por tropas do Exército, que invadiram a usina à noite com tanques e metralhadoras, atirando e agredindo trabalhadores e trabalhadoras, numa greve pela redução da jornada e pela reposição salarial.
TURNO DE 6 HORAS
“Nossa luta foi referência nacional. Pagamos um preço muito alto, a vida de três companheiros. Conquistamos o turno de seis horas. Hoje a empresa dá um ‘cala boca’ e voltamos ao turno de 8 horas”, disse. “O turno de seis horas, que custou a vida dos companheiros, é muito importante. É para o trabalhador ter mais tempo com a família, poder estudar. Eu mesmo tive que parar de dar aula no SENAC”, explicou o presidente recém-eleito. “Mas nós vamos reconquistar o turno de seis horas”, asseverou.
“O salário inicial na CSN é de R$ 1.400,00, menor que no supermercado”. Edimar contou que “um trabalhador em praça pública deu um depoimento chorando. Disse que pagou as contas e não tinha dinheiro para um ovo de Páscoa para o filho. E a gente ficava vendo ele chorar, ele dizendo ‘eu sou um trabalhador, não sou um vagabundo, trabalhei o mês inteiro’. Mostrou o contracheque: R$ 1.200,00 líquido e disse: ‘se comprar o ovo não dá para o arroz e feijão’. E a praça inteira chorou. Começou um abraçar o outro. O sentimento geral era ‘ou a gente muda isso, ou vamos voltar para escravidão. Teve um trabalhador que surtou dentro da empresa, com seis filhos, não conseguia tratar a filha doente. Cada exame era R$ 500,00 e o plano não cobria. Foi mandado embora por justa causa. Em vez de levá-lo para uma clínica de saúde, foi parar na delegacia de polícia”.
Para Edimar, “temos que reverter isso. Não tem como um profissional entrar numa empresa do tamanho da CSN com o salário de R$ 1.400,00. Uma empresa que teve R$ 13,6 bilhões de lucro, deu 1.9 do salário como abono para cada funcionário. E aí veio o imposto de renda e levou a metade. Se fosse participação nos lucros, não tinha imposto de renda, mas deram como abono.
SINDICALIZAR TODO MUNDO
Edimar conta que toda a base tem 60 mil metalúrgicos, mas só 4 mil são sindicalizados. “Nossa primeira medida será tirar a roleta da porta do sindicato. Vamos servir cafezinho e água gelada. O trabalhador vai se sentir em casa”. Existe um sentimento de confiança muito grande nos trabalhadores. Nosso objetivo é conclamar a todos para se sindicalizarem”. Sobre as eleições, disse que o mais importante na vitória do Lula é restabelecer a dignidade do trabalhador.
CARLOS PEREIRA