O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) vem recebendo repúdios por sua manifestação discriminatória quando associou a contratação de mulheres ao desastre da linha do Metrô na Marginal Tietê, que abriu uma cratera provocada por um acidente envolvendo o tatuzão das obras.
O filho de Bolsonaro fez o comentário e postou um vídeo com uma declaração de Stefania Riciulli, coordenadora de comunicação da Acciona, através da qual defendeu a contratação de mulheres na empresa.
“Procuro sempre contratar mulheres”, mas por qual motivo? Homem é pior engenheiro? Quando a meritocracia dá espaço para uma ideologia sem comprovação científica o resultado não costuma ser o melhor. Escolha sempre o melhor profissional, independente da sua cor, sexo, etnia e etc”, escreveu Eduardo Bolsonaro nas redes sociais, compartilhando vídeo que faz essa associação.
O Instituto de Engenharia divulgou nota de repúdio ao vídeo “que desmoraliza colaboradoras de empresa que atua nas obras da Linha-6 Laranja do Metrô” e o classificou como um “desserviço à sociedade”:
“O Instituto de Engenharia, entidade que há 105 anos congrega o bom exercício da profissão pelo Brasil, manifesta o total repúdio sobre o vídeo que desmoraliza mulheres que trabalham na Acciona, empresa responsável pela obra da Linha 6 do Metrô.
É inadmissível que esse tipo de mensagem seja compartilhada por qualquer pessoa. É um desserviço à sociedade, à evolução e um verdadeiro DESRESPEITO e DISCRIMINAÇÃO às profissionais envolvidas, quer engenheiras ou não.
O Instituto de Engenharia, por meio de seu Comitê para Valorização das Mulheres na Engenharia e Tecnologia, pede por respeito. Esse é o ingrediente essencial na construção de um futuro melhor em qualquer esfera da sociedade”.
O movimento Engenheiros pela Democracia também se manifestou contra a declaração do deputado.
“Nós do movimento Engenheiros pela Democracia vimos a publico repudiar a fala do senhor Eduardo Bolsonaro atacando a política de valorização das mulheres Engenheiras Civis, culpando as profissionais da empresa ACCIONA pelo desastre ocorrido com o famoso “Tatuzão””, diz a nota do grupo. “Repudiamos sua manifestação inaceitável e exigimos sua retratação pública”.
A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), que reúne sindicatos patronais do setor, condenou o vídeo, sem citar que Eduardo Bolsonaro compartilhou o vídeo.
“A CBIC repudia de forma veemente um vídeo que circula nas redes sociais que associa a participação de mulheres engenheiras ao acidente ocorrido na linha 6 do Metrô de São Paulo na última semana. A CBIC se orgulha de cada mulher que exerce sua profissão na indústria da construção e se honra em ver a participação feminina crescendo a cada ano no setor”, diz a nota da câmara. “A CBIC defende a diversidade, a igualdade e, acima de tudo, o respeito e condena qualquer tipo de discriminação e desrespeito”.
A ANPTrilhos (Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos) se solidarizou em nota “com as mulheres pessoalmente citadas, ressaltando o respeito e o reconhecimento de todos os operadores ao profissionalismo das mulheres na área metroferroviária”.
A entidade condenou o vídeo sem citar o compartilhamento de Eduardo Bolsonaro.
Leia a nota:
A ANPTrilhos vem a público expressar repúdio ao vídeo que circula nas redes sociais fazendo alusão à responsabilidade do acidente nas obras da Linha 6-Laranja de metrô de São Paulo às mulheres que atuam no projeto.
Conteúdo desrespeitoso e misógino, se aproveita de uma situação de crise para reforçar mensagem preconceituosa, discriminatória e absolutamente inaceitável.
A ANPTrilhos se solidariza com as mulheres pessoalmente citadas, ressaltando o respeito e o reconhecimento de todos os operadores ao profissionalismo das mulheres na área metroferroviária.
Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos – ANPTrilhos
#ANPTrilhos #respeito #mulheresprofissionais
O Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de São Paulo (IBEF-SP) também repudiou o vídeo.
A nota é assinada pela primeira presidente mulher do instituto, Luciana Medeiros. Ela considerou o conteúdo “misógino e desrespeitoso”. “Com 40% da diretoria executiva composta por mulheres e tendo uma mulher na presidência pela primeira vez na história, o IBEF-SP defende a diversidade e incentiva a integração entre os gêneros no ambiente de negócios. Nesse contexto, o IBEF-SP se solidariza com todas as mulheres que se sentiram ofendidas e jamais deixará de se manifestar em situações como esta”, afirma.
O ex-presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (PSD-RJ) questionou a fala dizendo que a família Bolsonaro “tem algum problema com as mulheres”.
“Essa família tem algum problema com as mulheres. Machismo, armas, homofobia… uma terapia poderia ajudar”, disse Maia nas redes sociais.
O líder do MTST, Guilherme Boulos, também criticou Eduardo Bolsonaro pelo Twitter
“CANALHA! Eduardo Bananinha fez um vídeo dando a entender que a tragédia na obra do metrô de SP é culpa das mulheres que trabalham lá. Questiona porque a empresa deve ter ações afirmativas em prol das mulheres. Toma vergonha,
@BolsonaroSP!”, afirmou.
A própria empresa se pronunciou através de nota afirmando que considera o vídeo “misógino” e “desrespeitoso”.
“A ACCIONA, como uma empresa que tem o respeito à diversidade como um dos pilares de sua política de ESG, lamenta profundamente o teor dessa videomensagem que circula em redes sociais. A empresa considera o conteúdo misógino e extremamente desrespeitoso com nossas colaboradoras”, disse a empresa.
Na manhã da terça-feira, no dia 1º de fevereiro, um pedaço da obra do Metrô da Linha 6-Laranja – entre da Ponte do Piqueri e da Freguesia do Ó, no sentido Ayrton Senna, na Zona Norte de São Paulo, desabou abrindo uma cratera na Marginal Tietê, que ficou totalmente interditada.
O buraco foi coberto com quatro mil m³ de concreto, o equivalente a 650 caminhões betoneira.
Eduardo Bolsonaro é também conhecido por “Dudu Bananinha”, segundo palavras do vice-presidente Hamilton Mourão. “Se o sobrenome dele fosse Eduardo Bananinha não era problema nenhum”, disse Mourão, à época.