Cena patética. Ocupado com a mudança, depois da derrota para Biden, Trump não teve agenda para o “03”
A visita de Eduardo Bolsonaro à Casa Branca nesta segunda-feira (4) foi uma cena patética, como, aliás, ocorre com tudo o que o “zero três” tenta fazer. O tão esperado encontro do deputado com o guru maior da família miliciana não aconteceu, segundo nos informa a correspondente da Globonews em Washington, Raquel Krähenbühl.
Agarrado à cadeira, mas tendo que arrumar suas coisas para ir embora, Trump não teve espaço na agenda para receber o dedicado e subalterno parlamentar.
O desfecho da visita à Casa Branca foi frustrante, porque Eduardo Bolsonaro levava à tiracolo sua “ideia genial” de reunir dois cabos e um jipe e invadir a Suprema Corte dos EUA para validar os votos que Trump jura terem sido roubados pelos democratas.
Não rolou nada disso. Ele só conseguiu ser recebido por Ivanka, a filha de Trump, que, sem ter o que fazer, e em clima de fim de festa, foi escalada para servir café ao deputado bravateiro, sua mulher e seu acompanhante, Nestor Forster, embaixador brasileiro em Washington.
Eduardo Bolsonaro foi aos EUA para prestar contas de sua vassalagem à Casa Branca. Neste quesito, o governo americano, realmente, está muito agradecido ao filho do presidente e seu colega, Ernesto Araújo.
O deputado não conseguiu ser embaixador em Washington, mas usou o seu mandato e o cargo de presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara para macaquear os ataques de Trump à China. Serviu como agente provocador e porta-voz da choradeira americana pelo fato dos EUA ter perdido espaço para o país asiático na disputa tecnológica e no mercado mundial.
Eduardo atacou as vacinas chinesas contra a Covid-19 e, com isso, prejudicou a população brasileira pelo atraso na imunização contra o vírus mortal que já ceifou a vida de mais de 195 mil pessoas. Ele desancou também os equipamentos de última geração da gigante das comunicações, Huawei.
Eduardo fez isso para beneficiar os monopólios americanos do setor, verdadeiras sucatas, caras e superadas. Tudo isso também em prejuízo do Brasil, que, além de ter um terço do setor de telecomunicações servidos pela Huawei, tem a China como seu maior parceiro comercial.
O Brasil fechou o ano de 2020 com um saldo total na balança comercial (diferença entre exportações e importações) de US$ 51 bilhões, segundo dados da Secretaria do Comércio Exterior do governo. Deste total, US$ 35,4 bilhões do saldo favorável ao Brasil foram obtidos no comércio com a China.
Enquanto isso, a “grande e promissora parceria” com os Estados Unidos, ideia fanaticamente defendida pela família Bolsonaro, não evoluiu um milímetro. Ao contrário, o comércio com os Estados Unidos piorou. O saldo comercial do Brasil com os Estados Unidos fechou 2020 no vermelho. O déficit nas vendas do Brasil para os americanos foi de US$ 2,7 bilhões. Não é por acaso que setores do agronegócio não podem nem ouvir falar o nome de Eduardo Bolsonaro.
ERNESTO ARAÚJO
Já o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, recebeu elogios e afagos do secretário de Estado de Trump, Mike Pompeo, em sua despedida do cargo. “Não há chanceler mais amante da liberdade do que você Ernesto Araújo. Você, eu, a liberdade. O jogo está rolando”, disse Pompeo, sobre Ernesto, numa espécie de jura de amor diplomática.
Em seu balanço, Pompeo não poupou elogios à subserviência do Itamaraty e do governo Bolsonaro aos interesses estratégicos dos EUA. Referindo-se às ações tomadas em relação a vários países, ele abordou o Brasil, dizendo: “Nosso relacionamento com o Brasil está na maior alta até hoje. Juntos com o governo Jair Bolsonaro, assinamos um novo acordo comercial de três partes, designamos o Brasil como um aliado importante extra-Otan e lançamos o Diálogo da Estrutura Ambiental EUA-Brasil”.
O resultado é o Brasil se isolando nas Nações Unidas como nunca havia ocorrido antes. É o Brasil sendo arrastado para conflitos bélicos provocados pelos EUA e que só prejudicam os interesses nacionais brasileiros. É a transformação do Brasil, país exemplar na questão ambiental, em pária mundial neste quesito.
E, por fim, na questão comercial, o resultado é este a que nos referimos acima. A obtenção de um saldo negativo para o Brasil em US$ 2,7 bilhões no comércio com os EUA e o aumento das tensões com o nosso principal parceiro comercial. Pompeo, é claro, agradeceu a tudo isso de forma efusiva.
Ele postou várias fotos de encontros com Ernesto Araújo, assim como uma imagem de sua vinda à posse de Bolsonaro.
Logo que soube que tinha sido citado e elogiado por Pompeo, o chanceler brasileiro saiu correndo para responder: “Mike Pompeo, sua visão, sua coragem e sua dedicação aos ideais que consideramos mais caros são uma verdadeira bênção. Patriotas americanos e brasileiros estarão lado a lado, aconteça o que acontecer. Sabemos que a liberdade está em jogo no mundo inteiro. O jogo está rolando!”