Eduardo Braga: “por que o Itamaraty não agiu para levar o oxigênio que estava mais perto para salvar vidas?”

Senador Eduardo Braga (MDB-AM) ao questionar Ernesto Araújo na CPI. Foto: Edilson Rodrigues - Agência Senado
O grupo majoritário da CPI, conhecido como G7, formado pelos senadores independentes e de oposição ao governo, centraram as perguntas para saber quais os impactos causados pelas declarações de Ernesto Araújo e de interlocutores próximos a ele contra a China, principal fornecedora de insumos para a produção de vacinas

Ao inquirir, nesta terça-feira (18), o ex-chanceler Ernesto Araújo na CPI da Covid-19 no Senado, o senador Eduardo Braga (MDB-AM) perguntou a ele: “por que a chancelaria brasileira, em defesa dos interesses dos brasileiros que lá vivem [Manaus], não agiu proativamente, afirmativamente, para levar o oxigênio que estava mais perto para salvar vidas?”. Esse é um dos objetos da CPI.

A pergunta do senador refere-se a um dos fatos que ocasionou o requerimento do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) relativo à criação da comissão: “apurar as ações e omissões do governo federal no enfrentamento da pandemia do Covid no Brasil e, em especial, no agravamento da crise sanitária no Amazonas, com a ausência de oxigênio para os pacientes internados”.

“Em relação ao oxigênio. Bem, aqui, mais uma vez, o Itamaraty não age de maneira autônoma em temas de saúde. O Itamaraty não tem condições de avaliar o momento e em que condições é necessário proceder a essa ou àquela ação em relação ao sistema de saúde, no caso o suprimento de oxigênio”, tergiversou o ex-chanceler.

Esta não-resposta expressa bem como o governo Bolsonaro e seus auxiliares diretos atuaram diante do caos que se abateu, em janeiro, sobre a capital amazonense. Com excesso de burocracia, mesmo diante do fato de centenas de mortos por falta de insumo básico para tratamento de Covid-19 — oxigênio.

IDEOLOGIZAÇÃO DA PANDEMIA

Durante a crise de oxigênio que atingiu Manaus no início do ano, que causou a morte de pessoas infectadas com a Covid-19, o governo da Venezuela enviou cilindros para unidades de atendimento. À CPI, o ex-ministro Ernesto Araújo disse que não fez nenhum gesto para agradecer o gesto.

“O senhor ligou para alguém da Venezuela? O senhor agradeceu o gesto do governo venezuelano?”, questionou Randolfe Rodrigues. “Não”, respondeu o ex-chanceler. “Pois é. Nessas horas todas, pessoas estavam morrendo sem oxigênio”, disse o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM).

POLÍTICA EXTERNA NEGACIONISTA

“É fato público e notório que o Sr. Ernesto Henrique Fraga Araújo, durante o período em que foi ministro de Relações Exteriores, executou na política externa o negacionismo de Bolsonaro na pandemia [quem diz isso é o senador Marcos do Val, Fernando Bezerra], o que teria feito o Brasil perder um tempo precioso nas negociações por vacinas e insumos para o combate à Covid-19”, continuou Braga.

O senador fez este questionamento pelo fato de o senador Marcos do Val (Podemos-ES) ter postura de relativo alinhamento com o governo Bolsonaro. Embora o senador capixaba reitere exaustivamente que é independente, que não é direita, não é de esquerda e nem de centro; disse ele em sessão do plenário do Senado; “sou Brasil”. “Pelo Brasil.”

“Por que faço essas duas lembranças? Porque, afinal de contas, o Sr. Ernesto Araújo está aqui na posição de ex-chanceler do povo brasileiro. O que se esperar de um ex-chanceler?”.

“A defesa do interesse do Brasil e do povo brasileiro, não a defesa da posição partidária ou a defesa de governos que estão temporariamente no poder, até porque a diplomacia brasileira é uma diplomacia reconhecidamente competente e reconhecidamente apartidária”, respondeu.

“Não há nenhuma indicação de que nossa política externa tenha sido responsável pelo atraso de insumos”, disse Ernesto Araújo.

RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS COM A CHINA

“Com relação à China — lamentavelmente nós já ouvimos aqui vários senadores e eu aqui não vou ser repetitivo —, quero apenas dizer que vários senadores colocaram e deram oportunidade ao ex-chanceler de contraditar a questão do negacionismo, de forma clara, de forma cartesiana, de forma objetiva e, na resposta que vossa excelência poderá dar a mim, vossa excelência terá novamente essa chance”, cobrou o senador amazonense.

“Jamais promovi atrito com a China”, respondeu Ernesto Araújo à CPI. O que não é verdade. Noutro momento da oitiva, o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM) rebateu declaração citando texto do ex-chanceler intitulado ‘Chegou o comunavírus’”.

“[O ponto central do depoimento do ex-chanceler deve ser; [foi]] A dificuldade que a gestão dele no ministério criou para o enfrentamento à pandemia, desde as provocações desnecessárias com a China, esse conflito que não tem nenhum sentido, passando pela política subalterna aos interesses do governo Trump, nos Estados Unidos, e pela postura em relação à Organização Mundial de Saúde, que sempre foi de desqualificá-la. O Brasil poderia ter tido uma participação mais incisiva no consórcio da OMS para adquirir vacinas”, disse o senador Humberto Costa (PT-PE).

CONFRONTO E IRONIA

Em seu tempo de fala, o senador Angelo Coronel (PSD-BA) perguntou se o ex-ministro gostaria de se retratar com a senadora Kátia Abreu (PP-TO) — na véspera de sua saída do governo, Araújo insinuou que a parlamentar teria feito lobby em favor da empresa chinesa Huawei. O ex-chefe do Itamaraty afirmou que simplesmente disse a verdade e que jamais se arrependerá de dizer a verdade.

Nas redes sociais, a senadora Kátia Abreu reagiu: “Senhor ‘Ernestominion’, com sua dupla personalidade, aproveitou minha ausência para me atacar pelas costas com a repetição de uma calúnia. Típico dos fracos e covardes. Agora é a hora da verdade”, escreveu no perfil dela no Twitter.

Suplente na CPI, o senador Angelo Coronel afirmou que “comprou uma caixa de memoriotol” e deixou à disposição da presidência da comissão. Segundo o parlamentar, o medicamento deve ser utilizado sempre que o depoente afirmar não se recordar de algum fato. Coronel ironizou o fato de Ernesto Araújo ter dito, reiteradamente, não se recordar de detalhes questionados pelos integrantes do colegiado.

MARCOS VERLAINE (colaborador)

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