Ante o anúncio da Casa Branca de que Donald Trump visitaria as cidades de Dayton (Ohio) e de El Paso (Texas), onde no sábado (3), em um intervalo de 12 horas houve dois tiroteios que deixaram 31 mortos e 60 feridos, líderes políticos e sociais afirmaram que o presidente não é bem-vindo pelos povos da região. E um amplo leque de organizações nacionais latinas responsabilizou a postura racista e anti-imigrante de Trump por gerar as condições para o que qualificaram como o pior ataque violento contra sua comunidade na história moderna dos Estados Unidos.
No estado de Ohio, a prefeita de Dayton, Nan Whaley, disse que não sabia aonde chegaria o presidente se resolvesse manter a visita. “Talvez a Toledo” ironizou, por Trump em seu discurso sobre os tiroteios, na segunda-feira(5), ter se equivocado de cidade. Considerou que a falta de noção e “a retórica do presidente tem sido dolorosa para muitos em nossa comunidade”.
Já o prefeito da cidade de El Paso (Texas), Dee Margo, do Partido Republicano, qualificou a situação como “desastre local”. A deputada Verónica Escobar, solicitou à Casa Branca repensar sua visita, já que “desde minha perspectiva, ele não é bem-vindo aqui. Não deveria vir enquanto estamos de luto”.
VISITA DESCABIDA
Porém, passando por cima da opinião e do sentimento da comunidade local, Trump chegou pela manhã em Dayton, e foi direto para o hospital local conversar com as vítimas que seguem internadas e com as autoridades que foram as primeiras a chegar ao local do tiroteio. Nove pessoas morreram quando o atirador, Connor Betts, abriu fogo no centro do município. Nas ruas da cidade, manifestantes revoltados desfilaram com faixas com pedidos para o presidente “parar com esse terror”. O balão Baby Trump, feito como símbolo da contrariedade com a presença do presidente, trazia os dizeres: “Pare de ser um bebê! Confronte a NRA (Associação Nacional do Rifle)”.
De tarde, Trump também visitou El Paso, onde o atirador Patrick Crusius, de 21 anos, matou 22 pessoas após ter deixado um manifesto na internet onde disse que evitar uma “invasão hispânica” nos Estados Unidos. No Texas, um estado tradicionalmente republicano, o presidente acumula uma forte resistência. Os manifestantes também repudiaram a presença de Trump em El Paso.
Um repórter perguntou a Beto O’Rourke, candidato nas primárias do Partido Democrata nascido em El Paso e ex-deputado pela cidade, se a matança tem a ver com o presidente, “com suas declarações racistas e sua retórica”. “Sim”, respondeu O’Rourke. Também disse que considerava o presidente dos Estados Unidos um “supremacista branco”.
“Vimos um aumento dos crimes de ódio em cada um dos três últimos anos, durante uma Administração na qual temos um presidente que chama os mexicanos de estupradores e criminosos. Embora os imigrantes mexicanos cometam crimes em uma porcentagem menor do que os nascidos no país, ele tentou fazer que tivéssemos medo deles”, disse. “É racista e estimula o racismo neste país. E isso não apenas ofende nossas sensibilidades. Muda fundamentalmente o caráter deste país e leva à violência”, sublinhou O’Rourke.
Na segunda-feira, o chanceler mexicano, Marcelo Ebrard, classificou a matança de El Paso como “um ato de terrorismo contra os mexicanos”. O governo do México deverá solicitar a extradição de Crusius para seu julgamento pela justiça mexicana. Nos Estados Unidos, o atirador pode estar sujeito à pena capital.
Outros líderes políticos dos EUA continuaram denunciando Trump por fomentar esse tipo de violência racista e anti-imigrante. “A maioria da família de meu pai foi brutalmente assassinada pelas mãos do regime supremacista branco de Hitler – um regime que chegou ao poder por uma onda de violência e ódio racial e religioso. Não podemos permitir que esse câncer cresça aqui”, declarou o senador e candidato presidencial democrata, Bernie Sanders.
Depois dos tiroteios em El Paso e Dayton que deixaram, até agora, um total de 31 mortos e dezenas de feridos, se intensificou o debate político nacional sobre o controle ou não das armas de fogo em um país onde circulam mais de 300 milhões de rifles e pistolas em mãos privadas (a população dos EUA é de 327 milhões de pessoas) e onde se registraram 251 tiroteios em massa neste ano de 2019 – mais de um por dia em média.