O candidato Jalili se posiciona pelo crescimento via investimento público enquanto Pezeshkiani quer cortar a participação estatal no desenvolvimento e acredita no investimento estrangeiro, o que Jalili considera que “paralisaria o Irã”
Ninguém conseguiu 50% mais um dos votos e a eleição presidencial no Irã irá a segundo turno no próximo dia 5 de julho, anunciou o Ministério do Interior no sábado (29). A eleição, convocada conforme a constituição iraniana para substituir o presidente Ebrahim Raisi, que morreu em um acidente de helicóptero, ocorreu na sexta-feira.
De acordo com o porta-voz da Comissão Eleitoral do Irã, Mohsen Eslami, dos 24,5 milhões de votos expressos, o ex-ministro da Saúde e deputado Masud Pezeshkian obteve 10,4 milhões, enquanto o ex-negociador-chefe do acordo nuclear Said Jalili recebeu 9,4 milhões. A participação às urnas foi de 40%.
Os outros dois candidatos, o presidente do Parlamento, Mohammad Baqer Qalibaf, e o ex-ministro do Interior, Mostafa Purmohammadi, ficaram atrás com respectivamente 3,3 milhões e 206 mil votos.
Na véspera da eleição, o atual prefeito de Teerã, Alireza Zakani, e o atual vice-presidente e chefe da Fundação dos Assuntos dos Mártires e Veteranos, Qazizade Hashemi, retiraram suas candidaturas, em favor de Jalili. Segundo o Ministro do Interior iraniano, Ahmad Vahidi, o primeiro turno transcorreu com total tranqüilidade, segurança e muita disputa.
Jalili vem sendo associado à continuidade da linha de soberania encabeçada por Raisi e dos princípios fundadores da República Islâmica. Pezeshkian recebeu o apoio dos assim chamados reformistas, que governaram antes de Raisi, e mais favoráveis a conciliar com Washington.
Declaração feita pelo líder supremo Aiatolá Kamenei, convocando a votar, na qual ele criticou “certos políticos iranianos” por acreditarem que “todos os caminhos para o progresso passam pelos Estados Unidos”, foi interpretada por analistas como tendo como alvo o ex-chanceler Mohamad Javad Zarif, que atualmente desempenha um papel de liderança na campanha de Pezeshkian.
No plano econômico, o candidato “reformista” se propõe a conter a inflação, eliminar as “políticas intervencionistas do Estado” e a “atrair investimento estrangeiro através da redução das tensões nas relações internacionais”. Além, claro, da “justiça social”. Programa cuja consequência, denunciou Jalili, seria “paralisar o crescimento econômico do Irã”.
As eleições ocorrem em um momento em que o Irã tem se fortalecido com o ingresso na Organização de Cooperação de Xangai e nos BRICS, e pelos acordos estratégicos assinados com a Rússia e a China, de enorme abrangência econômica.
Também é um momento de grande tensão, devido ao genocídio em curso em Gaza, ameaças de Israel de expandir a guerra ao Líbano e ao Hezbolah e provocações do regime de Tel Aviv, inclusive o bombardeio de uma embaixada na Síria, a que teve que responder. Também aqueles que romperam os acordos assinados por Obama com Teerã de controle do programa nuclear, voltam a pressionar, fazendo o jogo de Israel, além da possibilidade de volta de Trump, que rasgou os acordos com o Irã, à Casa Branca constituir-se outra fonte de apreensão.