(HP, 12/10/2016)
Aqui, nesta página, estão os resultados da última eleição para vereadores, ocorrida no último dia dois, para cada partido existente no país. Já publicáramos, em nossa edição de 5-6 de outubro, os resultados para prefeito.
Não há, para quem assiste TV, ouve rádio ou lê esses jornais e revistas que alguns ainda chamam de “grande imprensa” (cada vez menor, por sinal), conversa mais repetida nos últimos meses que a história de que o Brasil tem partidos demais, que é preciso uma “cláusula de barreira” que elimine a maioria dos partidos que hoje existem, porque assim não é possível governar nem ter eleições “racionais”, etc., etc.
Algo estranho, esdrúxulo e excêntrico, talvez esotérico: o país sofre com uma política econômica perversa desde o governo Dilma; há 12 milhões de desempregados (provavelmente mais, pois a tendência das atuais estatísticas é mascarar parte do desemprego); as empresas nacionais estão falindo ou fechando na ordem de dezenas de milhares; o Tesouro é sangrado por juros inteiramente loucos; só os bancos e alguns outros rentistas conseguem amealhar dinheiro; a indústria está acabando; mas, dizem esses gênios, o problema do Brasil é o número de partidos.
Países menores do que o Brasil têm uma florescência partidária – a França, com 35 partidos; a Inglaterra, com 20 partidos; a Itália, com 44 partidos; a Alemanha, com 17 partidos; e estamos contando apenas os partidos nacionais – sem que ninguém tenha por lá descoberto que isso atrapalha a nação.
Nós mesmos, no Brasil, tínhamos, antes de 1964, 22 partidos legalizados – e só a ditadura é que se incomodou com isso.
O interessante é que os principais paladinos dessa campanha contra a liberdade partidária no Brasil, são o PT, o PMDB e o PSDB – com a mídia e sua banda de barulhos.
O que há de interessante é que esses partidos são aqueles que ficaram indelevelmente marcados pelo roubo do dinheiro e da propriedade pública; são aqueles que infelicitaram e infelicitam o país com sua política antinacional, antipopular, antidemocrática.
São aqueles, enfim, que estão em plena decadência, como a tabela desta página demonstra.
Ao que parece, a teoria (?) é a de que se houver apenas dois ou três partidos, quatro, talvez, será mais fácil aos monopólios financeiros, sobretudo aos externos (mas também às Odebrechts da vida), subornar para impor políticas contra o país, contra o povo, e, mais ainda do que hoje, arrancar o couro dos brasileiros.
A Lava Jato é a prova do que acabamos de afirmar. A outra é o fato do sr. Renan e do PT estarem tão empenhados nessa suposta “reforma partidária”, cujo objetivo é atacar a democracia, que já está bastante prejudicada com os ataques à Constituição de 88 acontecidos após 1990. Querem que o país seja menos democrático para (e por) submetê-lo aos seus corruptos desígnios.
Agora, vejamos a tabela desta página. As eleições para vereador são o principal indicador das tendências políticas – e, inclusive, das deformações impostas ao resultado pelos casuísmos da “reforma” eleitoral empreendida pela aliança Cunha/PMDB-PT-PSDB, assim como de algumas anteriores, que agora querem piorar, com a exclusão de partidos.
A reforma de Cunha/PT diminuiu o tempo de TV dos partidos menores e estabeleceu uma série de odiosas restrições à campanha eleitoral, cujo único objetivo é beneficiar os partidos e candidatos que têm mais dinheiro.
São restrições que nem a ditadura estabeleceu.
Ao examinar os dados publicados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nosso principal problema foi pensar a forma de expô-los que mais refletisse a realidade, portanto, a verdade. Listas, frequentemente, são confeccionadas para esconder a realidade (ou a verdade), ao invés de revelá-la.
Ao fim e ao cabo, um dos dados acabou por se impor e determinar a ordem em que apresentamos esses resultados: o total de votos válidos.
Em quatro anos, o total de votos válidos – a soma dos votos no partido (voto na legenda) com a soma dos votos em candidatos a vereador (votos nominais) – diminuiu, ao invés de aumentar.
Resumidamente, na eleição de 2012, houve 105 milhões, 932 mil e 358 votos válidos, ou seja, eleitores que sufragaram um candidato ou um partido.
Na eleição de 2016, esse número reduziu-se a 105 milhões, 914 mil e 549 votos válidos, ou seja, houve uma redução de 17 mil e 809 votos.
Alguns leitores poderão pensar que foi pouca coisa – ainda que em quatro anos.
Mas não é verdade, pois o eleitorado (o conjunto de pessoas aptas a votar) aumentou de 138 milhões, 544 mil e 348 eleitores (2012) para 144 milhões, 88 mil e 912 eleitores (2016).
Ou seja, enquanto o número de eleitores aumentou em mais 5.544.564 (cinco milhões, 544 mil e 564 eleitores), aqueles que votaram – em um candidato ou em um partido – diminuíram em 17 mil e 809 votos.
É uma brutal diminuição.
Esses brasileiros, que formaram o contingente da abstenção + voto em branco + voto nulo, ao contrário das teses (??) petistas e tucanas sobre o assunto, não foram afetados por nenhuma alergia à política.
Pelo contrário, eles estão enojados com a política dominante – não com qualquer política – e não conseguiram perceber, entre os partidos e candidatos, quem os representasse.
São votos, aliás, tão válidos (mesmo a abstenção) quanto o que é chamado, oficialmente, de “voto válido”.
Mas, reparemos, mais:
O partido que mais perdeu votos para vereador foi o PT, com -5,7 milhões de votos (-48%); depois, o PMDB, com -1,2 milhão (-11%).
O PSDB e o DEM, supostamente vozes da oposição, no conjunto do país, estagnaram: o aumento de sua votação nacional para vereador foi ínfima: +0,09% (PSDB) e +0,68% (DEM).
Em seguida, temos um contingente de partidos que aumentaram sua votação: o PPL (+43,51%), partido que, em termos proporcionais, mais aumentou sua votação para vereador, o PSOL (+16,40%), o PHS (+35,71%), o PTN (+26,46%) e alguns outros.
Existem, também, aqueles que não existiam em 2012 (REDE, PEN, PROS, SD, PMB e NOVO) e que tiveram desempenho promissor.
Nitidamente, nós estamos diante de uma tendência, aliás, duas: alguns partidos estão em decadência e outros estão em ascensão.
Não estamos discutindo aqui qual é a ideologia ou a política de cada um. O importante é verificar que alguns partidos avançam na representação de determinadas faixas do eleitorado (portanto, da população) e outros recuam e caem na preferência do eleitorado.
São exatamente os partidos em decadência (PT, PMDB, PSDB, DEM, principalmente) aqueles que querem estabelecer regras para restringir o crescimento – no limite, e de preferência, eliminar – os partidos que estão em ascensão.
Esse é o sentido do que essa camarilha denomina, enganosamente, “reforma partidária”.
Querem estabelecer mais casuísmos – de um tipo que nem o hediondo Armando Falcão, ministro da Justiça (?) da ditadura, ousou em sua lastimável carreira – para impedir a sua queda, contra a vontade do povo, que quer vê-los pelas costas (ou na cadeia, no caso do pessoal mais indignado).
A questão é que isso não costuma – e não vai – dar certo. Mais fácil, se persistirem nesse intento, é serem derrotados pela raiva popular – ou uma parcela crescente do eleitorado buscar uma solução para o país, e para si próprio, fora de eleições viciadas, que levariam apenas à reiteração de um statu quo que já cansou, e exacerba o povo além da sua paciência e tolerância.
C.L.