O ex-chefe da Odebrecht no Peru, Jorge Barata, confirmou em declaração a promotores, na quinta-feira, 25, que a empresa subornou 4 presidentes, além de governadores do país andino, para obter contratos de obras públicas.
Barata reconheceu que a construtora forneceu dinheiro em 2006 para a campanha eleitoral do ex-presidente Alan García (1985-1990 e 2006-2011), que se suicidou na semana passada quando estava prestes a ser preso, e que também pagou mais de quatro milhões de dólares a seu secretário na Presidência, Luis Nava. A Promotoria peruana suspeita que o destinatário final desse dinheiro era o próprio Alan García, versão que ele sempre negou, informou o jornal mexicano La Jornada.
As novas declarações de Barata, que começaram no dia 23 último, também atingem o ex-presidente peruano Alejandro Toledo (2001-2006), que fugiu para os Estados Unidos, onde enfrenta um pedido de extradição para Lima. Segundo o representante da Odebrecht, Toledo recebeu 31 milhões de dólares em subornos.
E também Ollanta Humala (2011-2016) e sua esposa Nadine Heredia receberam dinheiro para a campanha eleitoral, confirmou Barata. O ex-presidente ficou nove meses na prisão (entre julho de 2017 e 30 de abril de 2018), acusado de receber US$ 3 milhões em propina da Odebrecht na campanha de 2011. O dinheiro foi entregue a Humala a pedido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, afirmou Jorge Barata a procuradores peruanos no ano passado.
No terceiro dia de testemunhos na sede da Procuradoria Federal em Curitiba daquele que foi o homem forte da Odebrecht no Peru, o promotor peruano, Germán Juárez, assinalou que Barata “corroborou o pedido de um suborno de 3% do valor referencial da obra” (uma estrada) por parte do então governador da província de Cuzco (2011-2013), Jorge Acurio. “Tem sido a mais curta das diligências, ele tem corroborado dados”, disse.
O suborno pago a Acurio foi de três milhões de dólares em troca de um contrato de 100 milhões de dólares pela construção da chamada “Vía de Evitamiento”, segundo a Odebrecht já tinha revelado em 2018 à Promotoria peruana.
A “Vía de Evitamiento”, construída em 2012, é uma estrada periférica de 10 km de longitude na cidade andina de Cuzco, a antiga capital do império inca e centro do turismo no Peru.
Barata também confirmou esta quinta-feira a existência de um cartel de empresas peruanas, chamado “clube da construção”, que repartia, entre os integrantes, licitações pagando subornos.
Os testemunhos de Barata fazem parte de um acordo de cooperação com a Promotoria peruana, segundo o qual Lima não o processaria nos tribunais em troca dele informar os funcionários peruanos corruptos.
São investigados ainda os ex-governadores das regiões Ancash (norte) e El Callao (cidade portuária perto de Lima). Assim como Acurio, ambos estão detidos.
Peru é o segundo país da região, depois do Brasil, onde a corrupção da Odebrecht foi mais fundo. Os últimos quatro presidentes peruanos foram atingidos pelos depoimentos de Barata, entre eles Toledo, García e Humala, como vimos. Agora Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018) está em prisão preventiva por este caso.
A coisa não para aí. Também está em prisão preventiva por este caso, desde outubro, a líder opositora Keiko Fujimori, acusada de receber dinheiro ilegal de campanha.