A Venezuela investiga o escândalo de corrupção que envolve militares desertores e pessoas ligadas ao presidente da Assembleia Nacional, o oposicionista de direita Juan Guaidó, desatado depois de uma investigação jornalística elaborada com base em dados proporcionados pelo Serviço de Inteligência colombiano. Entre as denúncias contra os representantes do deputado Guaidó na Colômbia estão: desfalque de fundos supostamente destinados à “ajuda humanitária” e fraude.
Em 14 de junho, o editor chefe e colunista do site PanAm Post, Orlando Avendaño, assinala no artigo intitulado ‘Enviados de Guaidó se apropriam de fundos para ajuda humanitária na Colômbia’, que seus representantes, Rossana Barrera e Kevin Rojas — encarregados de assistir os desertores venezuelanos que entram em território do país vizinho — cercam-se de luxos malversando os fundos que estavam à sua disposição e inflando o número de ex-militares venezuelanos que lá se encontram.
Os desertores foram acomodados em sete hotéis da cidade de Cúcuta. A polícia colombiana registrou anomalias nos gastos de Barrera e Rojas: as notas e recibos obtidos por Avendaño evidenciaram que gastavam mil dólares em hotéis e discotecas por noite, mil dólares em bebida e comidas, e também deixavam grandes somas em lojas caras de roupa de Bogotá e Cúcuta. “Informes de aluguel de veículos e pagamentos em hotéis superfaturados. Dinheiro que fluía. Muito dinheiro”, aponta o jornalista, documentando a acusação.
Avendaño também assinala que o número proporcionado pelos representantes de Guaidó ao presidente colombiano, Iván Duque, afirmando que em Cúcuta havia 1.450 militares não corresponde com o da Inteligência colombiana, que avaliou que em realidade eram cerca de 700, e que Barrera e Rojas tinham inflado o número de desertores.
O dinheiro arrecadado deveria servir também para pagar os desertores hospedados em hotéis colombianos. No início de maio, o hotel Ácora não recebeu pagamento prometido e a dívida com a hospedagem chegava a 20.000 dólares. A direção do hotel decidiu desalojar os 65 militares ali hospedados, junto com seus familiares.
O secretário geral da Organização dos Estados Americanos, Luis Almagro, não teve como desconhecer a situação e instou a investigar e esclarecer as graves acusações formuladas nessa reportagem. Almagro solicitou que se determinem as responsabilidades e se exija a prestação de contas. “Não há democratização possível sob a opacidade de atos de corrupção”, escreveu em sua conta de Twitter.
O próprio Juan Guaidó pronunciou-se sobre o escândalo. Preocupado com a grande repercussão da performance de seus funcionários e simpatizantes, o autoproclamado “presidente encarregado” assegurou em coletiva de imprensa que está se investigando a malversação. Mas, achando que assim minimizaria a denúncia, disse que o dinheiro supostamente gasto indevidamente não era parte da chamada ‘ajuda humanitária’, mas que procedia de fundos privados.
“Um elemento é a ajuda humanitária que tem se arrecadado e outro a assistência a militares em Cúcuta”, asseverou Guaidó e assinalou que a última “se fez através da ACNUR [Agência da ONU para os Refugiados] e o governo da Colômbia”. Porém, “quando se chegou a uma saturação, recorremos a fundos privados”, declarou.