Em seu programa Meia Noite em Pequim, na TV Grabois, o professor Elias Jabbour aborda a relação entre o Tibete e a China. Afinal, a China “reprime” ou “ocupa o Tibete”, como é voz corrente no Ocidente? E o Dalai Lama, como pode alguém não o ter em alta conta?
O tema é polêmico, com a vantagem de Elias já ter visitado o Tibete em 2009 e considerar essa como uma das viagens mais marcantes de sua vida.
Um breve roteiro sobre o Tibete: 3,5 milhões de habitantes, numa China de 1,4 bilhão de pessoas. Um dos pontos mais altos e mais estratégicos do planeta, no qual nascem os grandes rios da Ásia, Amarelo, Mekong, Ganges, Indo, e do qual depende grande parte da água da Ásia e praticamente toda a água da China. Faz parte da China há 700 anos – ou seja, antes do Tratado de Vestfália.
Elias alerta o pessoal que gosta de fazer passeata em Copacabana pela ‘libertação do Tibete’ que o que eles estão pedindo é a volta de um regime teocrático escravista. Isso: um regime teocrático escravista.
A exemplo da vizinha Índia, ali havia castas, e enquanto o chefe da teocracia era o enviado de Deus, o Dalai Lama, na outra ponta ficavam servos e escravos – e as mulheres. Direitos das mulheres, nem pensar.
Quando em 1951 a revolução chinesa vitoriosa chega ao Tibete, trazendo reforma agrária e reformas democráticas, o pau quebra. Do Dalai Lama, pode-se dizer tudo, menos que é “iluminado”. A CIA armou e treinou grupos para lutar contra qualquer avanço no Tibete, especialmente entre 1956 e 1959.
Em 1965, foi formalizada a primeira assembleia regional do Tibete, com 266 delegados, a maioria, servos e escravos emancipados.
Os dados sobre as transformações no Tibete são impressionantes. O PIB, que era de 189 milhões de yuans em 1959, agora é de 190 bilhões de yuans (2020). Atualmente, os alfabetizados são 99%, comparado com os 5% de 1951. A expectativa de vida, que era nesse ano de 35,5 anos, dobrou para 71 anos. A mortalidade infantil, que era de 5.000 para cada 100.000 nascimentos, passou a 108,8 por 100.000.
Quanto ao budismo, a liberdade de culto impera no Tibete, embora durante a Revolução Cultural tivessem havido ataques à prática religiosa. Para encerrar, Elias sugere que, quem puder, vá ao Tibete, converse livremente com as pessoas lá, como ele fez, e possivelmente vai chegar a conclusões semelhantes às que ele chegou sobre o tema.
Elias Jabbour é professor dos Programas de Pós-Graduação em Ciências Econômicas e em Relações Internacionais da UERJ.