A Polícia Federal (PF) descobriu que a Rodrimar – que atua no porto de Santos – manteve um contrato com o braço de uma offshore do Uruguai no Brasil, a Eliland. Essa empresa era gerenciada por Almir Martins, funcionário do comparsa e operador de Temer, João Batista Lima. “Offshores” são “empresas”, arapucas criadas em países tolerantes com negócios escusos, para lavagem de dinheiro.
Almir é contador da Argeplan, empresa de Lima, e foi o responsável por assinar as contas da campanha de Temer a deputado federal em 1994. Ele também atuou como contador nas campanhas de Temer de 1998, 2002 e 2006.
Martins confessou, em depoimento no dia 18 de maio, que se tornou gerente da Eliland apenas para administrar o contrato da Rodrimar. “[Almir Martins] se recorda de um contrato firmado entre a Eliland e a Rodrimar, não se recordando o objeto nem os valores envolvidos em tal contrato, mas se lembrando que tais pagamentos ocorreram até o ano de 2010. Que a Eliland somente possuía contrato com a empresa Rodrimar”, diz trecho do relatório da PF, divulgado pelos jornais “Folha de S. Paulo” e “O Globo”.
Para a PF, essa é a primeira prova financeira que liga Batista Lima à Rodrimar. Segundo a investigação, a Rodrimar pagou propina a Temer, operacionalizada por Batista Lima, para obter benefícios no decreto presidencial, editado no ano passado, que prorrogou contratos de concessão nos portos de empresas, entre elas a Rodrimar.
Almir Martins declarou ainda que foi colocado na Eliland em meados dos anos 2000 a pedido de um diretor da Argeplan, José Aparecido da Silva. Silva já foi apontado em relatórios da operação Patmos, deflagrada em 2017 a partir da delação da JBS, como outro laranja de Lima. “Que Silva pediu para colocar o declarante como gerente-delegado em função da necessidade legal da empresa possuir um representante sediado no Brasil”, disse Almir Martins à PF. Ele não soube dizer qual a abrangência da atuação da representante da offshore uruguaia no Brasil.
Martins também foi questionado pelos investigadores sobre outra offshore sediada no Uruguai, a Langley, que também tinha o sócio da Argeplan, Aparecido da Silva, como procurador. O contador respondeu que não tinha conhecimento sobre o assunto. Em 1995, Lima usou a Langley para adquirir um imóvel.
Martins foi convocado a depor como contador da Argeplan, empresa de arquitetura de Lima durante a Operação Skala, que prendeu empresários e políticos ligados a Temer. Na operação foram presos Lima e outro operador de Temer, o advogado José Yunes.
Há cerca de um mês, o Supremo Tribunal Federal (STF) atendeu o pedido da PF e prorrogou o tempo de investigação do inquérito dos portos por mais 60 dias.
Em março, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), relator do inquérito, quebrou o sigilo das contas bancárias de Michel Temer. A medida foi solicitada pelo delegado Cleyber Malta Lopes, da Polícia Federal (PF), que investiga a falcatrua envolvendo a emissão do decreto nº 9.048, de 10 de maio de 2017, conhecido como decreto dos portos. O decreto aumentou de 25 anos para 70 anos o prazo das concessões nos portos brasileiros, de empresas com contratos vencidos, sem licitação.
O caso Rodrimar inclui o deputado da mala, Rodrigo Rocha Loures, que aparece em gravação autorizada pela Justiça, negociando a transação com Gustavo Rocha, subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil.
Sobre o caso da Rodrimar, o ministro Luís Roberto Barroso escreveu: “os elementos colhidos revelam que Rocha Loures, homem sabidamente de confiança do presidente Temer, menciona pessoas que poderiam ser intermediárias de repasses ilícitos para o próprio presidente, em troca da edição de ato normativo de específico interesse da Rodrimar”.
O diálogo de Loures com o Gustavo Rocha, subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, é o seguinte:
GUSTAVO ROCHA: “É uma exposição muito grande para o presidente se a gente colocar isso. Já conseguiram coisas demais nesse decreto”.
ROCHA LOURES: “O importante é ouvi-los”.
GUSTAVO ROCHA: “A minha preocupação é expor o presidente em um ato que é muito sensível. […] Esse negócio vai ser questionado”.