“64% dos ramos da indústria apresentaram recuos em suas produções” no ano de 2023, apontou o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), ao analisar os números da produção da indústria brasileira, que foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na última sexta-feira (2).
No ano passado, a produção da indústria brasileira variou em alta de 0,2% em relação a 2022, quando registrou queda de -0,7%. O IEDI avalia que a estagnação da indústria brasileira no ano passado é “bastante desfavorável, dada a gravidade das perdas acumuladas nas crises de 2014-2016 e da Covid-19”, escreveu a entidade em seu estudo “Por trás da estabilidade”.
O instituto diz que o resultado positivo da indústria no computado geral só foi possível por conta do “ramo extrativo”, do contrário “o desempenho teria sido negativo, pois a indústria de transformação voltou a cair”, destacou o IEDI, afirmando também que, em 2023, “os ramos de maior intensidade tecnológica lideraram as perdas”.
“No acumulado de 2023, enquanto o ramo extrativo avançou 7%, a indústria de transformação acumulou perda de -1,0%, isto é, mais intensa do que a de 2022 (-0,4%)”, observou o IEDI, apontando ainda, que a estagnação da indústria no ano passado foi marcada pelo “recuo de 64% dos ramos industriais, sobretudo eletrônicos e informática (-11%), máquinas e equipamentos mecânicos (-7,2%), elétricos (-10,1%) e veículos (-7,1%)”.
A entidade também atenta que, em 2023, a produção de Bens intermediários, que representam o núcleo duro da indústria, produzindo insumos para as demais atividades, também mal saiu do lugar e pouco anulou a queda do ano anterior: +0,4% em 2023 e -0,7% em 2022”.
“Mas o pior resultado coube a bens de capital, isto é, justamente a parcela da indústria diretamente associada ao investimento e à modernização do conjunto das atividades econômicas. Sua variação foi de -11,1% em janeiro-dezembro de 2023, sendo que o 4º trimestre de 2023 não trouxe nenhum arrefecimento: -13,4% ante o 4º trim/22”, disse o IEDI, que avalia que a indústria teve mais um ano sem evolução por conta do elevado nível de taxas de juros que ainda persiste no país.
A entidade projeta que o ano de 2024 será melhor para a indústria. Para o IEDI, além das continuidades da redução da taxa de juros (Selic) pelo Banco Central, da inflação sob controle e do desemprego em baixa no país, o que também deve contribuir para um melhor dinamismo do setor este ano é o programa Nova Indústria Brasil, lançado pelo governo federal no mês passado, que prevê aportes de recursos para financiamentos e subvenções da ordem de R$ 300 bilhões, que serão distribuídos no triênio de 2024 a 2026.
“Se bem implementada, ainda que seus objetivos sejam de longo prazo, a estratégia Nova Indústria Brasil tem a potencialidade de evitar que este quadro [de estagnação da indústria] continue se repetindo no país”, defendeu o IEDI.
Para o Instituto, os resultados dos últimos anos ilustram a necessidade de uma política industrial no país.
“A rigor, a última fase de expansão do setor se encerrou em 2008. Desde então, o crescimento é pontual e só ocorre para compensar algum recuo anterior, o que nem sempre ocorre integralmente. Foi assim em 2010, em 2013, em 2017-2018, depois da profunda crise de 2014-2016, e foi assim também em 2021, após o choque da pandemia de Covid-19. Nos últimos dois anos a indústria oscilou em torno de zero”, constatou.
Neste sentindo, o IEDI vê com bons olhos o programa Nova Indústria Brasil, que com “transparência das ações, seu acompanhamento e avaliação e, quando necessários, ajustes e recalibragens”, defende a entidade, “a partir de 2024, podemos vir a observar para a indústria brasileira uma performance conjuntural superior e, ao mesmo tempo, o início de um processo importante de sua atualização tecnológica”.