A três semanas das eleições gerais israelenses, Trump afronta a ONU e até o mínimo de decência que ainda havia na política externa dos EUA com relação ao Oriente Médio e declara que “chegou a hora dos Estados Unidos reconhecerem a soberania de Israel sobre o Planalto do Golã”.
O Golã é uma região síria que foi invadida e ocupada por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967. Desde o momento do cessar-fogo naquela guerra que a ONU, passou a exigir, que Israel retorne o planalto do Golã à Síria, o Sinai ao Egito e os territórios palestinos ocupados a seus donos ancestrais; o povo palestino.
A península de Sinai retornou ao Egito em 1979; Israel se retirou de parte dos territórios palestinos depois dos Acordos de Oslo, firmados por Rabin e Arafat em 1993, mas os territórios usurpados à Síria permanecem sob ocupação de Israel, à exceção da cidade de Quneitra que foi devolvida à Síria totalmente destruída em 1974.
Em 1987 o governo de Israel (sob a direção de um dos líderes do terrorismo que levou à limpeza étnica da Palestina, Menachem Begin) baixou uma “lei” anexando o Golã, o que foi imediatamente condenado pela ONU. Nem mesmo Reagan, então presidente dos EUA conseguiu engolir a atitude israelense e inclusive os Estados Unidos votaram conta a anexação.
A afirmação absurda de Trump está dentro de um contexto em que ele e seus assessores estão tentando, de todo jeito, evitar uma derrota do parceiro de sua política de dominação e rapina no Oriente Médio, o premiê israelense Bibi Netanyahu.
Acontece que o primeiro-ministro está envolvido até o pescoço em pelo menos quatro armações que lhe renderam propinas, com comprovações já atestadas pelo procurador-geral Mandelblit e Trump parece disposto ao que for para salvá-lo do naufrágio. A eleição dele para o cargo é a única forma que lhe resta para escapar do julgamento e condenação à cadeia.
Enquanto isso, Netanyahu tem feito, como nenhum de seus antecessores, o jogo dos inquilinos da Casa Branca, seja ameaçando atacar o Irã, seja atacando a Síria que vence a maior articulação de terroristas financiada pela CIA para depor o governo independente de Bashar Al Assad, ou ainda através da aproximação e troca de gentilezas com os regimes mais retrógrados e – não por acaso principais aliados dos EUA na região – Arábia Saudita, Qatar e Emirados Árabes.
Tudo isso enquanto o regime que Netanyahu dirige se nega a qualquer tipo de solução que permita a convivência pacífica e construtiva ente judeus e palestinos, com a retirada total dos territórios palestinos ocupados em 1967, com o desmantelamento dos assentamentos judaicos construídos sobre terras assaltadas aos palestinos.
Quando Trump dá tal declaração apoiando o anexacionismo israelense de terras árabes, sinaliza ao eleitorado direitista que deve votar nele.
Não é o primeiro gesto de apoio escancarado a Netanyahu, uma intervenção explícita nas eleições de Israel, onde – pelas pesquisas – a maioria do eleitorado inclina-se a tirá-lo do poder. Foi neste sentido que, em março do ano passado, Trump anunciou o deslocamento da embaixada dos Estados Unidos para Jerusalém, também contrariando as resoluções da ONU, pois todos os países a ela filiados não a reconhecem como capital de Israel enquanto suas tropas ocupem a parte oriental e árabe de Jerusalém e, o que é mais grave, a pretendam anexar.
No dia 22, o representante da Síria na ONU, Bashar al-Jaafari, encontrou-se com o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, trazendo-lhe a posição de Damasco sobre o a atitude de Trump e afirmando que “o governo dos Estados Unidos não tem qualquer direito ou autoridade para decidir o destino do Golã sírio ocupado”.
“Esta medida é um ato ilegítimo e uma ruptura das obrigações dos Estados Unidos para com a Carta da ONU e as leis internacionais”.
Jaafari acrescentou que “a ONU já afirmou através diferentes e relevantes resoluções, tanto pela Assembleia Geral, como pelo Conselho de Segurança, que o Golã é terra síria ocupada e que quaisquer medidas tomadas pela ocupação israelense são nulas e vazias e não têm nenhum efeito legal”.
O secretário-geral afirmou que a posição da ONU e a sua, pessoal, são firmes e bem conhecidas e baseadas nas resoluções da legitimidade internacional que estipula de forma expressa que o Golã é terra síria árabe ocupada, segundo informa a agência síria de notícias SANA.
A Rússia, através do seu Ministério do Exterior, afirmou que a declaração de Trump só contribui para desestabilizar ainda mais a região.
A União Europeia expressou que sua posição sobre a questão do Golã está inalterada e a Alemanha considera que qualquer mudança deve vir através de negociações entre os envolvidos.
A Liga Árabe também rejeitou a afirmação de Trump, “um gesto muito contrário à Lei Internacional” e o presidente turco, Erdogan, repudiou “o comunicado infeliz de Trump que coloca a região à beira de nova crise”.