Com o sistema de Saúde em colapso onde até mesmo falta oxigênio para pacientes, a cidade de Manaus registrou novo recorde no número de sepultamentos na última sexta-feira. Segundo informações da Prefeitura, 213 pessoas foram sepultadas, o maior número registrado desde o início da pandemia.
Manaus voltou a bater o recorde de internações diárias por Covid-19. Foram 254 novas hospitalizações no capital, número mais alto registrado no estado desde o início da pandemia, mesmo com o colapso na rede de saúde, vivido entre abril e maio de 2020. Outras quatro internações foram registradas no interior do estado, fazendo o total de casos chegar a 258.
Sem oxigênio, a capital amazonense sofre com colapso no sistema de saúde e passou a transferir pacientes para outros estados brasileiros. O número de novas internações por Covid-19 bateu recorde neste mês de janeiro, que na metade do mês já é maior que os índices registrados entre abril e maio, os piores meses da primeira onda da doença no estado.
Acompanhantes de pacientes internados em hospitais, como os do Serviço de Pronto Atendimento (SPA) Zona Sul, em Manaus, relatam pânico e fazem apelo para conseguir oxigênio nesta sexta-feira (15).
O auxiliar de produção Erivelton Moraes, de 33 anos, contou que a sua mãe, de 65 anos, precisou ser reanimada. “Ela estava com muita falta de ar. Rodamos Manaus toda atrás de um leito e graças a Deus conseguimos aqui. Ela chegou com a saturação baixa, mas melhorou bastante. Só que essa manhã a saturação voltou a cair para 50 porque faltou oxigênio”, afirmou à Globo. “Hoje pela manhã recebi a notícia de que ela estava sendo reanimada pela falta de oxigênio”.
O professor de Educação Física Saymon Eduardo também está com a mãe, de 66 anos, internada. Ela está intubada e sofrendo com falta de oxigênio. “Minha mãe teve três paradas cardíacas ontem. O estado dela é grave, mas nós estamos comprando oxigênio e até cheguei a contratar por fora técnicos de enfermagem para ficar com ela. Estamos desesperados”, relatou.
A técnica de enfermagem Maday Vega disse que a situação dentro do hospital é caótica e que os próprios funcionários não conseguem mais conter o choro na frente dos pacientes.
“Nós estamos em desespero. A gente está fazendo o que pode. Dói muito a gente estar cuidando de uma pessoa e numa outra hora a gente não poder fazer mais nada. É muito difícil. As autoridades precisam olhar pra gente da saúde e para as vidas que estão sendo perdidas. Isso é uma vergonha. Uma vergonha em Manaus”.
Acompanhantes de pacientes com Covid-19 internados no Hospital e Pronto-Socorro 28 de Agosto, em Manaus, denunciaram que o nível de oxigênio para pacientes com Covid-19 foi reduzido.
“Sabe por que que eles tiraram todo mundo daí?! Porque eles não estão nem aí para ninguém. Essa é a realidade. De manhã, estavam todos os acompanhantes e eles chegaram lá igual um bando de cavalo abaixando o oxigênio de todo mundo”, denunciou Natálie Batista, acompanhante de um paciente, de 81 anos de idade, internado no local
Ainda de acordo com Natálie, o paciente que ela acompanha tem 81 anos de idade, e ele sofreu queda na saturação de 90 para 7.
“Eu teimei com a enfermeira e subi. Ela foi lá e eu falei ‘se você baixar de novo, eu quero ver se você vai se responsabilizar por ele’. Foi quando ela permitiu, e dos outros pacientes ela abaixou. Se não tivesse ninguém ao lado dele, como agora não tem ninguém. Eles estão matando todo mundo”, disse.
Junto com as notícias da falta de equipamentos e de cilindros de oxigênio para tratar pacientes com Covid-19, vieram também do Amazonas relatos dramáticos da alternativa à qual algumas equipes de saúde estão recorrendo para lidar com a falta de aparelhos de ventilação mecânica: a ventilação manual.
“A ventilação manual tem sido frequente e aconteceu desde os primeiros meses de pandemia. Isto porque a deficiência de ventiladores (mecânicos) e leitos de UTI no Amazonas é histórica”, contou à BBC News Brasil por áudios de WhatsApp o médico Pierre Souza, especializado em pediatria e cirurgia geral.
O médico, que relata prestar serviço em unidades de emergência de Manaus vinculadas ao governo estadual, diz que já participou em diversos plantões da chamada “escala do ambu” — um rodízio para fazer a ventilação manual, que exige esforço constante. O reanimador manual autoinflável é conhecido também como “ambu”.
“Essa situação caótica muitas vezes exigiu passar noites inteiras ao lado do leito do paciente, fazendo uma escala do ambu, com colegas, técnicos e enfermeiros revezando por longos períodos — às vezes meia hora, uma hora, uma hora e meia”, relatou o médico
“Nós fazemos isso até duas situações acontecerem: ou o paciente é transferido para um ventilador (mecânico) disponível, ou o paciente falece. Vi isso acontecer algumas vezes: apesar da ventilação manual, o paciente precisava de mais suporte, de parâmetros que o ambu não tem capacidade de fazer”, desabafou Pierre Souza.
Manaus vive uma crise de abastecimento de oxigênio, com o aumento de internações por Covid-19 em hospitais da capital. A principal empresa que fornece o insumo informou, na semana passada, que está com dificuldades de produção. O governo do estado está recebendo oxigênio de outros estados em aviões da Força Aérea Brasileira. Enquanto isso, Bolsonaro faz lives espalhando fake news sobre uso de cloroquina no tratamento de Covid-19 e nada faz para conter as mortes de brasileiros no Amazonas.