Direção do partido cobra candidatos para não esconderem o presidente nas campanhas e ameaça com corte de verba
A dificuldade do presidente da República subir de posição nas pesquisas e o alto índice de rejeição que ele possui entre os eleitores tem levado nomes importantes da legenda em corridas majoritárias — governadores e senadores —, a “esconderem” nas redes socais o apoio ao chefe do Executivo. Isso, porque Bolsonaro, com “filme queimado”, “queima o filme” dos aliados nos Estados.
Com a disputa eleitoral na rua e as pesquisas indicando liderança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com vantagem entre 12 e 15 pontos, no primeiro turno, a campanha de Jair Bolsonaro (PL) tenta enquadrar o próprio partido para que se engaje no projeto de reeleição.
Para os cargos de deputado federal e estadual, a sigla anunciou que pretende usar o caixa das campanhas como instrumento de pressão, como informou a colunista Bela Megale, de O Globo.
Se levar a cabo o anúncio, isso pode comprometer o projeto de eleger grande bancada ao Congresso Nacional, em particular, para a Câmara dos Deputados. Ao fim e ao cabo, Bolsonaro colhe o que plantou ao longo do mandato presidencial — ele abandonou todos os aliados que ficaram pelo caminho.
OPÇÃO É “ESCONDER”
Levantamento feito pelo Globo, com 14 das principais candidaturas do PL aos governos estaduais e ao Senado, aponta que, no Facebook, principal plataforma digital no País, os perfis de cinco candidatos citaram Bolsonaro em menos de 10% das publicações nos últimos três meses.
Os dados das últimas pesquisas não devem ajudar a mudar o cenário. O último Datafolha mostrou que a rejeição a Bolsonaro entre os eleitores segue a mais alta entre os candidatos, com 51%, embora venha caindo.
DISTANCIAMENTO
Diante disso, então, a melhor tática é “esconder” Bolsonaro. Entre os que tentam se eleger governador pelo PL, Cláudio Castro, no Rio, e Ronaldo Dimas, no Tocantins, são os que mais evitam explorar a imagem de Bolsonaro.
Nos últimos três meses, o atual governador do Rio, que está empatado tecnicamente com Marcelo Freixo (PSB) em primeiro lugar, fez apenas seis publicações com referências a Bolsonaro no Facebook, entre 177 postagens.
A mais recente foi feita dia 14 de agosto e se limita a registrar a presença do presidente na Marcha para Jesus, realizada no Rio naquele dia. “Me sinto um homem abençoado por poder fazer parte, junto ao presidente Jair Messias Bolsonaro, da maior manifestação evangélica do mundo”, escreveu.
Antes disso, Bolsonaro só foi lembrado em 24 de julho, no lançamento da candidatura dele no Maracanãzinho. No Rio, a principal base eleitoral dele, Lula tem 41% das intenções de voto, ainda segundo o Datafolha, enquanto Bolsonaro marca 35%. Em 2018, Bolsonaro venceu a eleição contra o PT em todos os municípios do Estado. Das 92 cidades do Estado, no 1º turno, ele só teve menos de 50% dos votos válidos em 10 dessas.
Ronaldo Dimas citou Bolsonaro apenas cinco vezes, nas mais de 400 postagens dele no período. Na região Norte, Bolsonaro está empatado tecnicamente com Lula. A título de comparação, o ex-ministro João Roma (PL), candidato a governador na Bahia, que tem feito a associação com o presidente, mencionou Bolsonaro em 77 publicações, o equivalente a 40% do total.
NÃO QUEREM VÍNCULO
Nas disputas pelo Senado, Romário (RJ) e os ex-ministros Flávia Arruda (DF) e Rogério Marinho (RN) são os que mais evitam se ligar ao presidente. Romário fez apenas duas citações a Bolsonaro nos últimos três meses. As publicações foram sobre projetos de lei sancionados pelo presidente direcionados para as categorias dos enfermeiros e dos profissionais de educação física.
Flávia, que lidera a disputa no Distrito Federal, economiza nas menções ao antigo chefe. Foram apenas sete desde o fim de maio. A última ocorreu após o início da campanha, na última quinta-feira (18). A ex-ministra compartilhou foto com Bolsonaro e lembrou o papel dela no governo. “Ao lado do presidente Jair Bolsonaro, recebi prefeitos de todo o País para fortalecer nossa aliança pela construção de um Brasil melhor”, postou.
Outro ex-ministro com a mesma estratégia é Rogério Marinho, que ocupou a pasta de Desenvolvimento Regional. As postagens sobre Bolsonaro se tornaram mais escassas em agosto. Se em julho, foram nove publicações em que mencionou o presidente, este mês foram apenas duas, nenhuma dessas após o início da campanha.
Com dificuldade em enquadrar os candidatos menos fiéis, a estratégia do PL vai ser “fechar a torneira” do fundo eleitoral para os concorrentes a deputado como forma de exigir apoio a Bolsonaro. O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, baixou ordem para todos os diretórios da legenda condicionando o acesso ao fundão.
Será que as direções partidárias estaduais irão cumprir o “decreto”?
ESTOPIM
Uma semana antes de pôr a campanha oficialmente na rua, o presidente nacional do PL chamou à Brasília o responsável pelo diretório estadual do Rio, o deputado federal Altineu Côrtes, e anunciou a medida.
O lançamento de duas candidaturas ao Senado no campo bolsonarista, Daniel Silveira (PTB) e Clarissa Garotinho (União), estava dividindo forças no partido e, com isso, drenando o projeto de reeleição de Romário. Durante a conversa com Altineu, Valdemar acabou decidindo baixar ordem unida que valeria para todos os diretórios.
O PL vai receber, de acordo com a divisão feita pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), R$ 288,5 milhões do fundo eleitoral. Em vídeo que gravou para ser distribuído no Rio, Valdemar afirmou que o dinheiro é pouco para o tamanho que o partido tomou.
“O partido hoje triplicou de tamanho e continuamos com o mesmo fundo”, expôs, para, em seguida, dar o recado. “Então é o seguinte: nós vamos repassar o dinheiro só para quem estiver na campanha com o Bolsonaro, com o Cláudio [Castro] e com o Romário. Precisa ter na propaganda os três. Nós vamos passar em partes, o dinheiro, e vamos ter esse controle. Isso é vida ou morte para nós.”
M. V.