
Os servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai) realizaram manifestações em frente às sedes do órgão em 34 cidades nesta quinta-feira (23), como parte da greve deflagrada no início desta semana. Os protestos receberam o apoio de associações, sindicatos, especialmente de servidores públicos, entidades sindicais, partidos políticos, deputados e indígenas.
O movimento exige a exoneração do presidente da Funai, Marcelo Xavier e a apuração dos mandantes e as circunstâncias em que foram barbaramente executados o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips, no Vale do Javari, no extremo oeste do Amazonas. “Os servidores que estão lá [no Vale Javari] estão sozinhos, numa situação de muita vulnerabilidade física e psicológica. A gente quer uma força-tarefa da Funai para atuar na região fortalecendo os servidores que estão nas coordenações regionais”, afirma Luana Almeida, da entidade Indigenistas Associados (INA).

No último dia 13, a INA publicou um dossiê que denuncia o desmonte institucional do órgão, promovido desde o início do governo Bolsonaro. Segundo o documento, o objetivo das mudanças implementadas é o de favorecer a ação de garimpeiros, madeireiros, ruralistas, caçadores, pescadores e até mesmo narcotraficantes que saqueiam recursos naturais em territórios indígenas.
“Cansamos do absurdo. Não tem como continuar com a gestão anti-indígena que vivemos nestes três anos e meio. Os assassinatos de Bruno, Dom e Maxciel Pereira dos Santos [indigenista da Funai morto na cidade de Tabatinga, em 2019] não são tragédias ocasionais, mas anunciadas”, disse Luana.
Representando a Associação Nacional dos Servidores Ambientais (Ascema), Carla Lessa ressaltou que o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) vivem uma situação bastante semelhante. A Ascema denunciou, em maio, que funcionários do Ibama também sofreram pressões do governo Bolsonaro para deixarem de atender os Yanomami do Amazonas e de Roraima, favorecendo ataques de garimpeiros. “Estão nos matando e não é pouco. Temos inimigos no poder”, acentuou Carla.

“O Bruno morreu sendo servidor da Funai. Enquanto ele era assassinado, esquartejado, carbonizado e enterrado em cova rasa, o presidente da Funai, que tinha responsabilidade para com o Bruno enquanto servidor, foi à rede nacional difamá-lo, contar mentiras sobre ele”, afirma o servidor da Funai e amigo de Bruno, Guilherme Martins.
A declaração do presidente da Funai que revoltou a categoria ocorreu em 8 de junho em entrevista à “Voz do Brasil” e em nota oficial, publicada no site da Funai no dia 10 de junho, quando Bruno e Dom já estavam desaparecidos há cinco dias. Xavier declarou que os dois deveriam ter pedido autorização do governo para entrar na Terra Indígena Vale do Javari.
A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) contestou a afirmação e ressaltou que as atividades tinham autorização da Coordenação Regional da Funai. A associação pediu para que Marcelo Xavier se retratasse publicamente, o que não ocorreu.
Após o ato na Praça dos Três Poderes, em Brasília, o assessor jurídico da Unijava, Eliésio Marubo, afirmou em entrevista coletiva que foi a Brasília porque fez questão de se solidarizar com a greve dos funcionários da Funai. Eliésio afirmou que não tem conseguido abertura de diálogo com representantes do governo Bolsonaro.
O ato da greve da Funai em Manaus (AM) está marcado para o próximo dia 2 de julho em frente à sede da Funai. O protesto será organizado pelo Sindicato dos Servidores Públicos Federais no Amazonas (Sindsep-AM).
