Chamado de “tchutchuca do Centrão” logo cedo, ele partiu para cima do youtuber. À tarde, teve outro chilique: “ninguém bota a mão em mim”, gritou com sua assessoria, durante uma entrevista. À noite, mais notícia ruim: Lula apareceu com 15 pontos à frente dele no Datafolha
A quinta-feira (18) não começou – e nem terminou – bem para os planos eleitorais de Jair Bolsonaro. Logo cedo, o chefe do Executivo bateu boca e se estapeou com um youtuber no cercadinho do Palácio da Alvorada. Wilker Leão, um cabo da reserva do Exército, estava fazendo uma reportagem para o seu canal quando foi agredido e jogado no chão pelos seguranças de Bolsonaro.
Imediatamente ele começou a denunciar a agressão e chamou Bolsonaro de “safado”, “covarde” e “tchutchuca do Centrão”. Bolsonaro já tinha entrado no carro oficial, mas, descontrolado, saiu do carro e correu em direção ao youtuber. Agarrou Wilker pelo colarinho e tentou pegar o celular das mãos dele, mas não conseguiu. O youtuber conseguiu escapar da agressão.
Assista ao vídeo com a agressão de Bolsonaro ao youtuber
Depois da confusão com o youtuber, que o chamou de “tchutchuca do Centrão”, Bolsonaro se dirigiu para São José dos Campos, em São Paulo. Ali, numa entrevista, ele perdeu as estribeiras mais uma vez e agrediu repórteres e membros da sua campanha. Os jornalistas queriam saber o que ele tinha a dizer sobre o grupo de empresários que defenderam o golpe de Estado se Lula ganhar a eleição.
Ao invés de responder, Bolsonaro agrediu os jornalistas, principalmente o colunista do jornal Metrópole, Guilherme Amado, responsável pela divulgação dos prints com os diálogos de um grupo de WhatsApp. Neste grupo, empresários bolsonaristas atacavam o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Congresso Nacional, a imprensa e defendiam o golpe, no caso de Lula vencer as eleições.
No grupo estão empresários como Luciano Hang, dono da Havan, Afrânio Barreira, dono do Grupo Coco Bambu, José Isaac Peres, dono da rede de shoppings Multiplan, José Koury, do Barra World Shopping, no Rio de Janeiro, Ivan Wrobel, dono da construtora W3 Engenharia, e Marco Aurélio Raymundo, conhecido como Morongo, dono da marca Mormaii.
A conversa se desenrolou com José Koury, proprietário do shopping Barra World, dizendo que prefere “golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes. E com certeza ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil. Como fazem com várias ditaduras pelo mundo”. Afrânio Barreira, do Coco Bambu, respondeu a mensagem com uma figurinha aplaudindo.
Marco Aurélio Raymundo, o Morongo, dono da rede de lojas Mormaii, acredita que “o 7 de setembro está sendo programado para unir o povo e o Exército e ao mesmo tempo deixar claro de que lado o Exército está. Estratégia top e o palco será o Rio. A cidade ícone brasileira no exterior. Vai deixar muito claro”.
Ele ainda respondeu a mensagem de José Koury, alegando que “golpe foi soltar o presidiário!!! Golpe é o ‘supremo’ agir fora da constituição! Golpe é a velha mídia só falar merda”. Morongo afirmou que “quando o mínimo das regras que nos foram impostas são chutadas para escanteio, aí passa a valer sem a mediação de um juiz. Uma pena, mas somente o tempo nos dirá se voltamos a jogar o jogo justo ou [se] vai valer pontapé no saco e dedo no olho”.
Questionado sobre isso, Bolsonaro disse que estes diálogos eram fake news. “Toda semana vocês demitem um ministro, segundo fontes”, disse Bolsonaro. De quem é a fonte? indagou, interrompendo as perguntas dos repórteres. Quando disseram que era do colunista do Metrópole, ele agrediu o jornalista. “Você está de brincadeira. Este é uma fábrica de fake news”, disse. Neste momento, alguém de sua assessoria falou alguma coisa, tentando, certamente, mudar o rumo da prosa, e Bolsonaro olhou para trás e gritou: “ninguém bota a mão em mim”.
Para completar o dia, saiu a pesquisa Datafolha mostrando uma diferença de 15 pontos percentuais de Lula para Bolsonaro: o ex-presidente lidera a corrida com 47% das intenções de voto. Bolsonaro ficou com apenas 32% e com uma alta taxa de rejeição. Os numeros da pesquisa explicam toda a irritação e o destempero dele desde os primeiros momentos do dia. Certamente, ele já tinha informações de que sua situação eleitoral não estava boa. Segundo assessores, já deveria ter ultrapassado Lula nesta altura do campeonato para ter alguma chance de virada. Não foi o que a pesquisa mostrou.