Aumentou o desemprego precário, milhões vivem de “bico” e outros milhões trabalham menos horas do que precisam, com a renda desabando em meio à disparada nos preços dos alimentos, dos combustíveis, da energia elétrica e do gás de cozinha
Em dois anos, a massa de salário mensal caiu R$ 18 bilhões, já descontada a inflação. É o que aponta um levantamento feito pela Corretora Tullet Prebom Brasil. Em fevereiro de 2020, eram R$ 250,5 bilhões, caindo para R$ 232,6 bilhões em janeiro deste ano, segundo dados do IBGE.
O mercado de trabalho brasileiro – já fragilizado pela crise de 2014/16, e a estagnação econômica nos anos seguintes – foi fortemente atingido pelos efeitos econômicos da pandemia da Covid-19, no qual o governo Bolsonaro e fiéis da sanha ultraliberal usaram a crise sanitária de pretexto para apertar ainda mais o cerco sobre os direitos trabalhistas com objetivo de reduzir ou congelar os salários dos trabalhadores do setor privado e público, aposentadorias, pensões e benefícios sociais.
De acordo com cruzamento feito pela Corretora Tullet Prebom Brasil, em reportagem de O Globo, a fatia de rendimentos do trabalho correspondia a 35,4% do PIB em fevereiro de 2020, antes da pandemia, caindo para 30,2% em abril de 2021, auge da pandemia no país.
O Brasil não recuperou as vagas de emprego perdidas na pandemia e a redução da taxa de desemprego que atingiu o recorde de 14,8% no governo Bolsonaro para 11,25 em abril de 2021, puxado pelo trabalho precário e com salários menores, fez a participação dos salários subir apenas para 30,9% em janeiro deste ano.
São 12 milhões de desempregados no país, 38,5 milhões de trabalhadores informais, 25,6 milhões de pessoas vivendo de “bico”, 6,9 milhões de pessoas trabalham menos horas do que precisam e 4,8 milhões de brasileiros desistiram de procurar emprego, segundo o IBGE.
Nos dois anos de desgoverno Bolsonaro, a inflação disparou. Em 2020, o IPCA – indicador oficial da inflação – fechou em alta de 4,51%. Em 2021, pulou para 10,06%. E a prévia do inflação (IPCA-15) para o mês de março, recém divulgada pelo IBGE, chegou a 10,79%, puxada pela alta nos preços dos alimentos e dos combustíveis. Isto, antes de computar o conjunto dos aumentos dos combustíveis autorizados pela direção da Petrobrás nas refinarias, com aval do governo, no bolso no consumidor. E este ano, a pressão inflacionária continuará em escalada, já que o governo mantém a política de atrelar os preços dos combustíveis ao dólar.
Com os preços dolarizados, a conta de luz chega mais cara, o gás de cozinha fica inviável e o custo da cesta básica já consome mais da metade do salário mínimo na maioria das 17 capitais pesquisada pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socieconômicos).
De março de 2020, até dezembro do ano passado, mais 6,5 milhões de trabalhadores entraram no grupo que ganha até um salário mínimo – maior patamar da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, que começou em 2012. Segundo a LCA Consultores, que recentemente analisou esses dados, são 33,8 milhões com esses baixos salários, 35,3% dos ocupados. Em março de 2020, eram 29,2%.