Para destravar o crédito às micro e pequenas empresas, a Confederação Nacional do Transporte afirma que “a mobilização de bancos públicos, destacadamente do BNDES, é essencial para a efetivação dos empréstimos”
“O volume de recursos para a tomada de crédito no Brasil arrefeceu e as condições de acesso não mudaram” durante a crise da Covid-19, afirma a Confederação Nacional de Transporte em seu boletim “Economia em Foco”, divulgado na quinta-feira (5).
Para destravar o crédito às micro e pequenas empresas, a CNT defende que “a mobilização de bancos públicos, destacadamente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), é essencial para a efetivação dos empréstimos”.
A CNT realizou, com base em indicadores do Banco Central, uma análise de como ficaram as condições de acesso ao crédito em março e abril, período que explodiu a pandemia no país e que foram necessárias medidas de quarentena e de paralisação de atividades da economia.
Segundo a CNT, “não houve alteração substancial das condições médias de juros e prazos no mercado de crédito”.
Para entidade, este cenário “é preocupante, já que são necessárias condições excepcionalmente favoráveis de crédito para que as empresas atravessem o período da pandemia sem ter de fechar as portas”.
Segundo a CNT, em março de 2020, mês em que a Covid-19 atingiu o Brasil, a carteira de crédito do sistema financeiro brasileiro somou um saldo de R$ 3,58 trilhões, o que significou um crescimento de 2,9% em relação ao mês de fevereiro e de 9,6% em relação a março de 2019. Essa expansão da carteira foi puxada pelos empréstimos a Pessoas Jurídicas, que registraram um salto, seja na comparação com fevereiro (+6,4%) ou em relação a março de 2019 (+6,9%).
No entanto, a CNT destaca que “dos R$ 92,39 bilhões adicionados ao saldo da carteira de crédito para PJ, em março de 2020, R$ 81,00 bilhões (87,7%) foram para grandes empresas; enquanto R$ 11,39 bilhões (somente 12,3%) foram para micro, pequenas e médias (MPMe), ou seja, para as empresas com receita bruta anual de até R$ 300 milhões ou com ativo total de até R$ 240 milhões”.
No mês de abril, a entidade diz que o volume de recursos adicionados à carteira de crédito para pessoas jurídicas foi bem inferior ao registrado em março: R$ 18,54 bilhões, sendo R$ 17,30 bilhões ou 93,3% para grandes empresas; e R$ 1,24 bilhões ou 6,7% para micro, pequenas e médias empresas.
“Dessa forma, o setor bancário reforça, nesta crise, a maior dificuldade que existe para MPMe acessarem empréstimos – uma realidade em curso no Brasil desde o início de 2013, mas que se acentuou a partir da recessão de 2014-2016 e que voltou a se aprofundar agora, com a nova recessão de 2020”, critica CNT.
Desde que a pandemia chegou ao território brasileiro, a CNT tem feito pesquisas sobre os efeitos da Covid-19 nas empresas do setor de transporte.
Na última pesquisa, feita entre os dias 1º e 3 de abril, 32,4% das empresas ligadas ao transporte rodoviário de cargas relataram que o acesso ao crédito para capital de giro ficou mais difícil com a pandemia. O mesmo problema foi constatado para 48,8% dos entrevistados do transporte urbano de passageiros por ônibus; para 50,0% dos entrevistados do metroferroviário; para 47,6% dos entrevistados no transporte aquaviário de navegação interior; e 44,4% dos entrevistados no transporte aéreo de passageiros.
No boletim, a CNT afirma que neste momento de pandemia, os investimentos em frota precisaram ser interrompidos, pois a prioridade das empresas de transporte é buscar recursos que cubram os custos mais imediatos. No entanto, a percepção dos empresários é de que o custo do financiamento para cobrir caixa, como capital de giro, por exemplo, se manteve tal como antes da crise.
“A própria avaliação de que o acesso ao crédito se manteve tal como antes da crise é motivo de preocupação, uma vez que o colapso sem precedentes da atividade econômica, em nível mundial, requer condições excepcionalmente mais favoráveis de acesso a liquidez, ou seja, de acesso a recursos que estejam disponíveis de imediato para as empresas manterem minimamente saudável o seu fluxo de caixa”.
“Além da disponibilidade do volume de recursos, essas condições também dizem respeito às taxas cobradas, exigência de garantias, à carência estabelecida para o pagamento da primeira parcela e aos prazos estabelecidos para o pagamento do empréstimo total”, ressalta a CNT no documento.
ALTAS TAXAS DE JUROS
Baseada em indicadores do Banco Central (BC), a CNT diz que nos meses de março e abril de 2020, as condições médias de financiamento para capital de giro não registraram mudança significativa em relação ao período anterior à pandemia.
“Nota-se que o capital de giro rotativo com recursos livres é o responsável pelas taxas mais altas, com um juro médio de 26,42% a.a. em março de 2020. Nas linhas de crédito livre para capital de giro com prazo superior a 365 dias ou de até 365 dias, as taxas médias no mês foram de 13,43% e 8,62% a.a., respectivamente. Já no segmento de direcionados, a taxa média cobrada foi de 6,67% a.a.. Em situação de pandemia, essas taxas podem inviabilizar a sobrevivência das empresas, particularmente das MPMe – risco que se agrava diante da não extensão ou da extensão insuficiente do prazo para pagamento do empréstimo”, alerta a CNT.
No documento, a confederação afirma que apesar dos esforços do BC e do BNDES para viabilizar crédito “ainda esbarram em dificuldades para que o recurso chegue nas empresas”.
“Os dados mostram dificuldades para que ele se traduza em recursos efetivos para as empresas. Dos R$ 40 bilhões disponibilizados pelo PESE (Programa Emergencial de Suporte a Empregos), até 27/5, somente R$ 1,96 bilhões foram utilizados. Ao mesmo tempo, até março de 2020, os dados do BNDES não evidenciaram uma maior atividade neste contexto de pandemia. Em março, o banco desembolsou R$ 3,19 bilhões, mantendo a sua trajetória de queda, vigente sobretudo a partir de 2014”, diz o documento.
Neste contexto, a CNT propõe a “mobilização de bancos públicos, destacadamente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)” para que as linhas de financiamentos do governo cheguem com mais rapidez às micro e pequenas empresas.
“Com o eventual prolongamento da paralisação da economia, os prejuízos pecuniários tomam proporções ainda maiores. Nesse contexto, fica claro que as empresas precisariam, além de recursos imediatos a juros baixos e prazos longos, de um período de carência ampliado para o pagamento da primeira parcela do financiamento. Complementarmente, propõem-se a mobilização de bancos públicos, destacadamente do BNDES, e a colaboração com bancos privados para que sejam asseguradas essas condições, com atenção especial às MPMe, mas sem excluir as empresas grandes, na situação tão extrema como a atual”, defende a CNT.