“É claramente agora a vontade do Partido Conservador no Parlamento que deve haver um novo líder e, portanto, um novo primeiro-ministro”, afirmou hoje (7) Boris Johnson ao anunciar sua renúncia ao cargo de premiê inglês.
O novo líder do Partido Conservador deve ser nomeado até outubro e Johnson pediu para seguir no posto até a nova nomeação.
A decisão ocorre diante de uma crise de espiral inflacionária que já levou a greves e bloqueios de estradas por todo o país com exigências de redução no preço dos combustíveis e um basta à carestia.
Após uma conversa com Graham Brady, diretor do Comitê dos Membros Privados do Partido Conservador, Johnson concordou com a renúncia.
A informação teve várias repercussões. Nadhim Zahawi, recém-nomeado para comandar a economia, já havia instado publicamente a Boris Johnson que renunciasse: “Primeiro-ministro: isto é insustentável e só vai piorar: para você, para o Partido Conservador, e o mais importante de tudo, para o país. Você deve fazer a coisa certa e ir agora”.
Já Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista britânico, celebrou a decisão, mas a criticou por não ter ocorrido mais cedo. Para Starmer, o Partido Conservador tem estado no poder durante muito tempo e trouxe “12 anos de estagnação econômica, 12 anos de serviços públicos em declínio, 12 anos de promessas vazias”, sendo necessária “uma verdadeira mudança de governo”.
Michelle Donelan, recém-nomeada secretária de Estado do Reino Unido, foi mais uma a anunciar sua demissão logo antes da saída de Johnson: “Com grande tristeza devo demitir-me do governo”.
Pelo menos 53 funcionários deixaram o governo do Reino Unido desde a terça-feira (5), com a maioria deles exigindo a renúncia do primeiro-ministro.
O ainda primeiro-ministro britânico foi submetido na quarta-feira (6) a uma moção de desconfiança, na qual recebeu 211 votos a favor e 148 contra, só do Partido Conservador, o que foi suficiente para se manter no cargo.
Só que de lá até hoje a corda bamba balançou cada vez mais.
Ele está sendo alvo de críticas cada vez mais espraiadas devido a escândalos de festas em meio aos lockdowns no Reino Unido em 2020 e 2021, por ter encerrado o governo durante cinco meses de forma a assegurar a realização do Brexit, um ato que foi mais tarde determinado como ilegal pelo Supremo Tribunal britânico, e outras controvérsias políticas antes e depois de se tornar primeiro-ministro.
Boris Johnson já estava bastante comprometido com a crise inflacionária e com o escândalo das festas privadas e ilegais, o Partygate. Mas, a gota d’água para a atual onda de renúncias foi a forma como o governo lidou com o Pinchergate, forma em que a imprensa já apelidou o caso do deputado Chris Pincher que renunciou ao cargo de chefe de disciplina do partido e mais tarde foi suspenso, depois de admitir que apalpou dois homens em um Bar privado de Londres porque – segundo ele – ‘tinha bebido demasiado’. Não era a primeira vez que Pincher se via envolvido em escândalos, mas o gabinete do primeiro-ministro disse que Johnson não sabia de nada quando o nomeou em fevereiro.
Depois de ser revelado na terça-feira que a denúncia deputado Pincher existia desde 2019, o gabinete de Johnson tentou corrigir a situação, mas piorou as coisas, dizendo que o primeiro-ministro estava ciente do relatório, mas “esqueceu-se” de mencioná-lo.
A crise na Inglaterra tem variadas repercussões internacionais. Valentina Matvienko, presidente do Conselho da Federação da Rússia, crê que a demissão de Johnson é inevitável.
“Penso que não há outra saída para este nível de desconfiança de seus próprios cidadãos e dos colegas de gabinete, embora ele esteja aguentando até o último momento. Seu principal argumento é que ele não pode renunciar porque há uma guerra na Ucrânia, não tem mais nada a que se agarrar”.
De fato, a adesão submissa de seu governo aos ditames da Casa Branca quanto à utilização da Ucrânia para uma retomada desastrosa da Guerra Fria contra a Rússia, contribuiu decisivamente para o estouro da inflação com os preços estratosféricos dos combustíveis à frente do despenhadeiro econômico.