
Diante do crescente isolamento internacional por seus crimes de guerra com assassinato em massa pela fome e bombardeio, Netanyahu é o maior interessado em um atentado desta natureza
Dois funcionários da Embaixada de Israel nos Estados Unidos morreram baleados em Washington na noite de quarta-feira (21), após participarem de um evento no Museu Judaico organizado pelo Comitê Judaico Americano, uma das organizações judaicas mais antigas dos EUA e que tem como objetivos defender Israel, diz combater o antissemitismo e propaga ideias em torno do chamado “Acordo de Abraão”, aquele da “paz sem terra” e sem Palestina.
As vítimas são Sarah Milgram e Yaron Lischinsky. O suposto autor, identificado mais tarde como Elias Rodríguez, aparentemente um latino, foi preso minutos depois. Segundo a polícia, ele não tem antecedentes criminais. A Procuradora-Geral dos Estados Unidos, Pam Bondi, e a Procuradora Interina do Distrito de Columbia, Jeanine Pirro, foram ao local após os assassinatos. O caso ocorreu próximo ao escritório regional do FBI.
Rapidamente, o assassinato passou a ser usado nos EUA para açular a perseguição àqueles que protestam contra o genocídio e limpeza étnica em Gaza que assombram o mundo, ainda mais quando a morte iminente de 14.000 bêbes pela fome, denunciada pela ONU, causa o maior isolamento do regime de apartheid das últimas décadas, a ponto de governos europeus brandirem ameaça de sanções.
Registre-se que, se não for uma provocação, uma operação de bandeira trocada, o que não seria nada de excepcional para quem aplicou a Diretiva Hannibal matando seus próprios cidadãos em 7 de outubro com disparos de tanques, o ataque em última instância é análogo ao do assassinato, com 26 facadas, pelo locatário, ensandecido pela grita “antissemita” nos EUA, de uma criança muçulmana de seis anos em 2023.
O evento do Museu Judaico era um coquetel para jovens profissionais judeus, com o objetivo de promover a unidade e celebrar a herança judaica e presença como convidados especiais organizadores de ajuda humanitária que respondem a crises humanitárias no Oriente Médio, incluindo Gaza. Embora o horário do evento haja sido divulgado publicamente, o local foi só foi informado aqueles que se inscreveram para participar.
O tema, segundo a entidade judaica, era “como transformar dor em propósito”.
BENEFICIÁRIO DO ATENTADO
Para o acuado regime de Netanyahu, caiu como uma luva o atentado para alegar que o assassinato de dois funcionários israelenses é um crime maior do que o genocídio de mais de 53.000 palestinos de Gaza, na grande maioria crianças, mulheres e idosos e declarada exacerbação da carnificina com intuito criminoso da expulsão de 2 milhões de suas casas. “É horrível ato de antissemitismo”, disse logo o carniceiro de Gaza.
Também para o governo Trump, que agravou a perseguição aos manifestantes antigenocídio iniciada por Biden e que vem fazendo do combate ao “antissemitismo” o modo predileto de tentar amordaçar a juventude norte-americana, que se levantou nos campi, como não se via desde os protestos contra a Guerra do Vietnã e contra o apartheid sul-africano.
Esta semana, o jornal New York Times apresentou uma investigação sobre a “Operação Esther”, organizada sob égide da Fundação Heritage, a mesma do Projeto arquirreacionário 2025, para perseguir os que protestam contra o genocídio, limpeza étnica e apartheid de Israel contra os palestinos, acusando-os de “antissemitismo”.
Como se pudesse ser “antissemitismo” indignar-se contra a repetição, agora contra os palestinos, do horrendo genocídio sofrido pelos judeus nas mãos dos nazistas. Repulsa essa ao genocídio no mundo inteiro, exigência de “nunca mais”, imprescindível máscara para a própria criação de Israel.
Foi, portanto, neste clima de macartismo, que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que encena que perpetrar genocídio é “direito de defesa”, se disse “chocado com os assassinatos antissemitas”.
Já seu embaixador na ONU, notório assaltante de terra palestina e apologista de matar de fome as crianças de Gaza e do Nakba 2.0 em pleno século XXI, transmitido por streaming, repetiu a senha, chamando o tiroteio de um “ato de terrorismo antissemita perverso”.
À BBC, a organizadora do evento, Jojo Kalin, disse que o agressor foi admitido por engano dentro do prédio depois do tiroteio. “A segurança deixou essa pessoa entrar pensando que se tratava de um espectador ou testemunha”, asseverou.
Kalin disse que o atirador estava com um semblante “muito perturbado” e que ela lhe ofereceu um pouco de água. Mas disse não ter visto nenhuma arma. Nesse momento, acrescentou, “ele sacou seu keffyeh (lenço) jordaniano vermelho e gritou ‘Libertem a Palestina'”.
Em outra descrição dessa mesma cena, ele teria dito “Eu fiz isso, eu fiz isso por Gaza”.
Segundo ela, o evento no museu tinha como tema a construção de coalizões no Oriente Médio – o Comitê Judaico Americano é entusiasta dos Acordos de Abraão – e é “profundamente irônico que estávamos discutindo a construção de pontes quando fomos todos atingidos na cabeça por tanto ódio”.
“Eu não conhecia o casal que foi baleado, mas tenho um sentimento de culpa, e é algo tipicamente judaico se sentir culpada pelo fato de eles estarem lá por causa de um evento que eu organizei”, diz Kalin. “Não vou perder minha humanidade por causa disso nem ser dissuadida.”
Israel, que não faz tanto tempo bombardeou um consulado iraniano no Líbano e explodiu pagers que estavam em mãos de civis, apressou-se a humanizar o perfil das duas vítimas. “O jovem (Yaron) comprou um anel esta semana com a intenção de fazer o pedido de casamento na semana que vem, em Jerusalém”, disse o embaixador do regime fascista israelense nos EUA, Yechiel Leiter. “Eles estavam no auge de suas vidas”.
Por sua vez, pronunciamento do Comitê Judaico Americano reforçou a arenga de que o problema que existe é a perseguição xenofóbica aos judeus, não o genocídio, apartheid e limpeza étnica que indigna o mundo.
“Enquanto nós esperamos pela conclusão da investigação policial – e instamos todos os nossos amigos e aliados a fazerem o mesmo – parece fortemente que este foi um ataque motivado pelo ódio contra o povo judeu e contra o Estado judeu. Este ódio e violência sem sentido devem parar”.
Na segunda-feira, um ex-vice-chefe do Estado Maior israelense havia sentido a premência de botar um pouco de fel em tal fuga da realidade. “Israel está em caminho de se tornar um Estado pária, como foi a África do Sul, se não voltarmos a agir como um país são”, afirmou Yair Golan em entrevista à emissora de rádio pública israelense Reshet Bet (Rede B).
“Um país são não luta contra civis, não mata bebês como passatempo e não tem como objetivo expulsar populações”, ele concluiu.