A transferência criminosa de recursos públicos ao setor rentista sob a forma de juros continua de vento em popa apesar da grave crise econômica que se agrava no país.
Segundo relatório divulgado na semana passada pelo Banco Central (BC), os gastos com juros das esferas federal, estaduais e municipais alcançaram a cifra de R$ 384,278 bilhões nos doze meses encerrados em maio – o que equivale a quase 5,8% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.
Neste idêntico período, os investimentos do Ministério da Educação foram de apenas R$ 4,556 bilhões. Este valor irrisório foi 16% menor do que no ano anterior.
Já os investimentos do Ministério da Saúde, em meio a uma grave epidemia de febre amarela, recuaram 17% e nem chegaram perto do montante entregue aos bancos. Apenas R$ 4 bilhões serviram para investimentos na área de saúde nos 12 meses encerrados em maio.
No acumulado de 2018, a cifra transferida ao parasitário setor rentista também é chocante: R$ 152,526 bilhões de janeiro a maio. Apenas no quinto mês do ano, R$ 39,672 bilhões saíram do setor público para pagamento de juros, valor maior do que os R$ 36,252 bilhões transferidos em 2017.
Com um orçamento previsto encolhido e contingenciamentos anunciados pelo governo, nesse idêntico período a educação recebeu, pela pasta do Ministério da Saúde, o ridículo valor de R$ 3,504 milhões para as despesas discricionárias consideradas essenciais (como por exemplo, o que é destinado para custeio e manutenção de boa parte do sistema público). Os recursos realmente empenhados com o Ministério da Saúde foram, em maio, miseráveis R$ 9,440 milhões.
Beneficiar o setor financeiro em detrimento das áreas sociais e essenciais já é política institucional do governo federal desde a gestão de Dilma, quando a taxa básica de juros (Selic) foi mantida por anos acima das duas cifras. Com Temer, isso não é diferente e pode em muito explicar as razões do aprofundamento da recessão, aumento do desemprego e desmonte do setor produtivo nacional.
Em 2017, por exemplo, a taxa de investimento da União, Estados e Municípios foi de apenas 1,17% do PIB – um total de R$ 79,9 bilhões que não foram suficientes nem ao menos para arcar com a manutenção do que já existe.
Enquanto isso, os gastos com juros superaram os R$ 400 bilhões – ou 6,11% do PIB.
PRISCILA CASALE