“O ajuste fiscal neste momento, em que se fala sobre a prorrogação ou não do auxílio emergencial, é um discurso desnecessário. A última coisa que a gente precisa se preocupar agora neste momento de guerra é com as contas do governo”, criticou o economista Raul Velloso
O governo Bolsonaro está tirando mais R$ 38 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para entregar a bancos em plena pandemia, segundo comunicado divulgado pelo BNDES na segunda-feira (1).
A decisão faz parte da política de “liquidação antecipada” dos empréstimos dos recursos injetados pelo Tesouro Nacional no banco de fomento com o objetivo de impulsionar o financiamento de longo prazo e investimento em todos os segmentos da economia brasileira.
Para o economista Raul Velloso, especialista em finanças públicas e ex-secretário de Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento no governo Sarney, “esses recursos deveriam estar sendo direcionados para ativar a economia”.
Velloso, um dos expoentes do neoliberalismo, critica a medida decidida pela direção do banco, especialmente diante das dificuldades econômicas que o país atravessa e que explodiram com a pandemia da Covid-19.
“O ajuste fiscal neste momento, em que se fala sobre a prorrogação ou não do auxílio emergencial, é um discurso desnecessário. A última coisa que a gente precisa se preocupar agora neste momento de guerra é com as contas do governo”, afirmou Velloso ao O Globo.
A devolução dos empréstimos do BNDES ao Tesouro faz parte de uma das prioridades de Paulo Guedes e de Gustavo Montezano à frente do banco estatal no governo Bolsonaro.
Em 2019,o BNDES desembolsou apenas R$ 55,314 bilhões para o setor produtivo, uma queda real, já descontada a inflação, de 23,4% ante 2018. Foi o menor valor desde 1996. Por outro lado, naquele mesmo ano, Montezano devolveu R$ 123 bilhões para Guedes abater a dívida pública. Torrou dinheiro público e a dívida pública não caiu.
No ano passado, diante da pandemia, o arruaceiro assaltante do cofre do BNDES foi obrigado a adiar o saque. Para esse ano, com sua missão de transformar o banco de fomento numa “butique da Faria Lima” e num “banco de serviços”, Montezano pretende esvaziar ainda mais o BNDES, como diz o comunicado divulgado na segunda-feira: “o saldo remanescente das dívidas (antes do presente pagamento) entre o BNDES e o Tesouro é de aproximadamente R$ 160 bilhões, além do instrumento especial de capital próprio (IECP) no montante de R$ 36 bilhões”.
Os recursos fazem partes de um total de cerca de R$ 440 bilhões, em valores correntes, do Tesouro Nacional injetados no BNDES entre 2008 e 2014 e que poderiam ser pagos até 2060. Até janeiro de 2021,o BNDES havia liquidado, de forma antecipada, R$ 531,12 bilhões dos empréstimos com o Tesouro, considerando o principal e juros.