Ele já vem ameaçando a imprensa e agredindo jornalistas desde que assumiu o governo. Disse que pode não renovar a concessão da Globo. Na mesma oportunidade, repetiu a ladainha da “falta de segurança das urnas eletrônicas”
Ao mesmo tempo em que a Policia Federal concluiu que o “gabinete do ódio”, uma estrutura montada dentro do Palácio do Planalto para conspirar contra a democracia, alimentava a milícia digital de Bolsonaro, o presidente, ameaçou, em entrevista neste sábado (12), não renovar a concessão da TV Globo.
Bolsonaro já vem ameaçando a imprensa e agredindo jornalistas desde que assumiu o governo. Segundo o capitão cloroquina, a emissora carioca poderá “enfrentar dificuldades” para obter a renovação da outorga de serviços de radiodifusão, que vence em 5 de outubro, quando completa o prazo de quinze anos. Na semana passada as hordas bolsonaristas ameaçaram também a rádio Bandeirantes, depois que ela demitiu um de seus comentaristas, simpatizante de Bolsonaro, por saudar Hitler.
O esquema criminoso de calúnias, de mentiras, de ataques a instituições, jornalistas e personalidades e de fabricação de fake news, que ajudou a eleger Bolsonaro, e que depois, reforçado de dentro do Planalto, foi usado para ajudar no golpe de Estado, está sendo investigado pela Polícia Federal num inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que tem como relator o ministro Alexandre de Moraes.
Um dos alvos mais frequentes da milícia de Bolsonaro é a própria imprensa. Vários apoiadores de Bolsonaro, integrantes dessas milícias fascistas estão presos, foragidos ou respondendo a processo. Este é o caso, por exemplo, de Allan dos Santos, um dos responsáveis, junto com Carlos Bolsonaro, pela montagem do gabinete do ódio. Santos está foragido nos Estados Unidos. Outro integrante das hordas violentas manipuladas pelo Planalto é o ex-deputado Roberto Jefferson, que está em prisão domiciliar.
A ameaça à TV Globo e à liberdade de imprensa, foi feita por Bolsonaro em entrevista ao ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho (PROS), na Rádio Tupi. “A renovação da concessão da Globo é logo após o primeiro turno das eleições deste ano. E, da minha parte, para todo mundo, você tem que estar em dia. Não vamos perseguir ninguém, nós apenas faremos cumprir a legislação para essas renovações de concessões. Temos informações de que eles vão ter dificuldades”, disse o mandatário.
Em queda nas pesquisas, causada pela tragédia provocada por seu governo na pandemia e pelo desastre na economia, Bolsonaro culpa a imprensa pelo caos em que ele colocou o país. A inflação em disparada, o desemprego de milhões de brasileiros e a demora na compra de vacinas para crianças fizeram a rejeição ao governo ultrapassar atualmente os 60%.
Ele acha que a culpada por sua queda é a TV Globo e outros órgãos de imprensa, que noticiam o caos. “Eu fui muito mais perseguido que você, Garotinho”, acenou o presidente ao radialista da Tupi, agora seu aliado político. “Com todo respeito, eu sou um herói nacional. Sempre disseram que ninguém resiste a dois meses de Globo. Eu estou resistindo”, disse. A imprensa, além do STF, da OAB , da ABI, do Congresso Nacional e dos fórum de governadores, foi fundamental para barrar o golpe que Bolsonaro quis dar no país no 7 de Setembro passado,.
Apesar de sugerir a não renovação do canal aberto da Globo, Bolsonaro não tem o poder de decisão sobre essa e outras concessões. Pela lei em vigor, cabe ao presidente apenas indicar uma posição por meio de decreto, mas a palavra final é do Congresso Nacional. Além da concessão da TV Globo, também vencem neste ano as concessões para exploração de canais abertos como a Band, TV Cultura e Record TV, em São Paulo. Mas, sobre elas, Bolsonaro nada fala.
As reiteradas ameaças de Bolsonaro contra a Globo estão causando apreensão do setor de rádio e TV do país. Isso porque, se o golpista enviar ao Congresso mensagem contrária à renovação, deverá justificar o ato e adotar os mesmos critérios ao analisar o caso das demais emissoras. Um ato casuístico poderá sinalizar para uma escalada de perseguição à liberdade de imprensa no País.
Na mesma entrevista ao agora aliado Garotinho, Bolsonaro repetiu a estratégia de colocar em suspeita a segurança das urnas eletrônicas, sem mostrar evidências. “Temos um sistema eleitoral que não é de confiança de todos nós ainda. A máquina não mente, mas quem opera a máquina é um ser humano”, disse.
A resposta da Corte veio no dia seguinte, com desmentido. “As declarações que têm sido veiculadas não correspondem aos fatos nem fazem qualquer sentido”, disse o TSE em nota oficial. Conforme o Estadão havia antecipado, os quesitos elaborados por especialistas do Exército em Defesa Cibernética têm caráter técnico sobre o funcionamento do sistema de votação eletrônica.