Em reação às declarações de Bolsonaro, que na quarta-feira (12) voltou a externar a sua ojeriza aos trabalhadores, dizendo que “ser patrão no Brasil é um tormento”, e atacou mais uma vez os direitos trabalhistas e o próprio Ministério Público do Trabalho, o presidente do MPT, Ronaldo Fleury, disse que “no Brasil, também é um tormento ser empregado”.
“De certa maneira, pode até ser [um tormento ser empresário], mas também é um tormento ser empregado”, afirmou Fleury.
Em reunião com parlamentares Bolsonaro disse que “a reforma aprovada há pouco tempo já deu uma certa tranquilidade, um certo alívio ao empregador e repito o que falei ontem: é difícil ser patrão no Brasil”. Ele defendeu mudanças na lei para que o trabalho no país se aproxime da “informalidade”.
Sobre o Ministério Público do Trabalho, ele disse, em tom de ameaça, que “se tiver clima a gente resolve esse problema”.
Ele se referiu ao MPT quando defendeu a empresa Havan, que foi multada em R$ 100 milhões por coagir funcionários durante o período eleitoral a votarem em Bolsonaro.
O presidente do MPT defendeu a importância do órgão, tanto para os trabalhadores, quanto para as empresas. Em entrevista à Folha de São Paulo, Ronaldo Fleury afirmou que, “quando a gente busca com que uma empresa siga a lei trabalhista, a gente garante a elas uma igualdade de tratamento, evitando, por exemplo, que uma empresa consiga reduzir muito seu custo de produção em detrimento de outras. A não atuação do MPT permitiria, por exemplo, o trabalho escravo”, disse.
“A quantidade de descumprimento da legislação trabalhista é muito grande. São desrespeitados direitos básicos, como aviso prévio, remuneração digna e há situações extremas, como de trabalho escravo”, diz Fleury.
Ele enfatiza que o papel do MPT vai além da questão social e defesa dos trabalhadores, mas que é importante também para a economia do país e para as próprias empresas.
“Os Estados Unidos, por exemplo, têm lista suja de países que têm trabalho escravo e infantil. Se a gente não tiver atuação, com programa de combate ao trabalho infantil e escravo, fatalmente estaremos nessas listas e vamos perder exportação.”