As centrais sindicais se reuniram com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), em São Paulo, nesta sexta-feira, 3, para pedir a redução da taxa básica de juros (a Selic) e pleitear que o Conselho de Administração de Recursos Fiscais (Carf) tenha participação, também, de organizações que representem os trabalhadores.
As centrais vão realizar uma série de manifestações no dia 21 de março, dia da primeira reunião do Copom, nas portas de edifícios no Banco Central (BC) em todo o país para pedir a redução da Selic, hoje em 13,75% ao ano o mais alto índice do mundo. A mobilização também pede a saída do atual presidente do BC, Roberto Campos Neto. Além da sede em Brasília, o BC tem representações em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Belém, Salvador, Fortaleza e Recife.
“Do nosso ponto de vista, foi uma reunião importante, por se tratar de um primeiro passo de diálogo com o Ministério da Fazenda. Faremos um movimento no sentido de pressionar o governo para estabelecer o fim da autonomia do Banco Central. A nossa intenção é de que essa taxa de juros seja rebaixada, pare de aumentar e incentive a retomada da industrialização no país”, afirmou o vice-presidente nacional e presidente da CTB-SP, Renê Vicente, que representou a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil na reunião.
“Após anos sem conversa com o governo federal, o ministro da Fazenda recebeu as centrais sindicais e os movimentos sociais para dialogar. Isso é fundamental para a ampliação dos direitos da classe trabalhadora. A pauta principal das centrais sindicais é a luta política pela retomada do desenvolvimento econômico, com valorização do trabalho e distribuição de renda. Para tanto, não abrimos mão da retomada do controle do Banco Central, pelo fim da autonomia e pelo fim da política do teto de gastos”, ressaltou Renê.
A presidente do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região, Ivone Silva, afirmou que “manter uma taxa de juros altíssima como a atual, como faz o presidente do Banco Central, Campos Neto, é ruim para a economia, ruim para a produção, ruim para a geração de emprego e renda, ruim para as pessoas que estão pagando 400% ao ano no rotativo do cartão de crédito. Não podemos aceitar que o Banco Central mantenha uma política econômica contrária aos interesses dos trabalhadores”, avalia Ivone.
Sérgio Nobre, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), defendeu que “não pode ter só representantes dos empresários para decidir sobre tributação” e reivindicou assentos para sindicatos no órgão. “Os trabalhadores também querem estar no conselho. Vamos fazer manifestações para garantir uma presença nossa no Carf assim como no Comitê de Política Monetária. Os trabalhadores querem ter presença”, disse ele.
As centrais também pleiteiam um aumento do salário mínimo maior do que os R$ 1.320 anunciados pelo governo. As entidades defendem o valor de R$ 1.382, que seria o montante caso a política de valorização do salário mínimo não tivesse sido interrompida.
“NÃO DÁ SÓ PARA OUVIR A FARIA LIMA”
Haddad não se comprometeu com as demandas, mas disse aos sindicalistas e aos representantes de movimentos sociais que a pasta vai criar um grupo de trabalho permanente para receber periodicamente demandas desses grupos. Nobre disse ao ministro da Fazenda que “não dá só para ouvir a Faria Lima” nas discussões sobre reformas, por exemplo.
O ministro e os representantes das entidades se comprometeram em agendar novas reuniões para que as discussões a respeito da reforma tributária sejam acompanhadas pelos sindicatos.
JUROS ALTOS AUMENTAM O DESEMPREGO
As altas taxas de juros praticadas pelo Banco Central, cujo presidente foi indicado por Jair Bolsonaro, impactam diretamente a vida dos trabalhadores brasileiros. Levantamento do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da USP (MADE-USP) mostra que os homens negros são o grupo mais afetado por mudanças na taxa básica de juros, a Selic, quando comparado a homens brancos.
Segundo nota que resume dados de um estudo de dezembro de 2022, o aumento de 1 ponto percentual na Selic real (a taxa Selic descontada da inflação) aumenta o desemprego de homens negros em 1,22 pontos percentuais. O levantamento utiliza como referencial os dados de desemprego entre homens brancos.
Atualmente; a Selic está em 13,75% e, sem qualquer perspectiva de redução por parte da equipe de Roberto Campos Neto no BC, mesmo com a pressão de integrantes do governo federal para a mudança da política inflacionária.