
A integração dos dirigentes da Rússia, China e Índia, por uma “nova governança global com base no desenvolvimento”, foi a marca do encontro da Organização de Cooperação de Xangai (OCX)
Na histórica cúpula dos 24 anos da OCX, uma cena sintetizou sua mensagem ao mundo de que uma nova ordem mundial está nascendo. A chegada do premiê indiano Narendra Modi e do presidente russo Vladimir Putin, de mãos dadas, até o presidente chinês Xi Jinping, com os três formando, sorridentes, um círculo e. em outro momento, Modi juntando as mãos com Putin e Xi, numa eloquente contrapartida aos ultimatos e guerra tarifária do governo Trump.
Como assinalaram Xi e Putin, a OCX é uma locomotiva poderosa “para o multilateralismo genuíno”. Até mesmo a imprensa norte-americana notou o contraste entre “as ameaças e Insultos de Trump” e a civilidade e unidade no triplo encontro. Na cúpula, o presidente Xi apresentou sua “Iniciativa de Governança Global”, chamando a construir um sistema mais justo em oposição “ao hegemonismo e à política de poder”.
Realizada em Tianjin, na China, no domingo (31) e na segunda-feira (1), a cúpula reuniu mais de 20 líderes de países da Maioria Global, entre eles o Irã, e também contou com a presença do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres. Fundada em 2001, reunindo as repúblicas ex-soviéticas da Ásia Central, Rússia e China, inicialmente sob preocupações de segurança, foi se tornando paulatinamente um dos principais vetores da integração da Eurásia. O que avançou com a inclusão da Índia e Paquistão e, mais recentemente, Irã, e com a cooperação econômica assumindo o centro o, cada vez maior, uso das próprias moedas no comércio. Atualmente congrega 27 países, com 40% da população mundial.
São membros plenos China, Rússia, Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão, Uzbequistão, Índia, Paquistão e Irã. Afeganistão, Mongólia e Bielorrússia são observadores. São parceiros de diálogo Turquia, Armênia, Azerbaijão, Camboja, Nepal e Sri Lanka.
Modi não visitava a China há seis anos, e os dois países viveram uma fase conflituosa após incidente com mortos na fronteira do Himalaia, para cujo equacionamento os dois lados têm se esforçado. Fronteira que é um resquício da dominação britânica na Índia, traçando fronteiras desde um palácio em Londres.
Putin não participava pessoalmente de uma cúpula internacional desde 2022, quando a Rússia brecou a expansão da Otan na Ucrânia e a perseguição à população do Donbass. Compondo o quadro, os EUA, que há dez anos tentam impor uma cunha entre a Índia e a China, perderam qualquer censo de medida na guerra tarifária, com Trump elevando para 50% a tarifa, mesmo patamar do Brasil, em punição a Nova Délhi ter se recusado a parar de comprar petróleo russo, como faz soberanamente.
Modi fez questão de postar nas redes sociais a foto dele na limusine de Putin, que lhe deu uma carona, que rendeu mais de uma hora de papo. Na cúpula, ele disse também que “A Índia e a China são parceiras, não adversárias, com muito mais consenso do que divergências”.
Após comparar a OCX a uma “poderosa locomotiva” para o desenvolvimento global e o estabelecimento de um sistema multilateral genuíno, Putin destacou que o diálogo dentro da organização contribui para estabelecer as bases de um novo sistema de segurança na Eurásia que substitua os modelos eurocêntricos e euroatlânticos, que ele classificou de “obsoletos”.
Putin também descreveu o ritmo de desenvolvimento da cooperação dentro da OCX como “verdadeiramente impressionante”. “O crescimento médio do produto interno bruto dos países-membros no ano passado foi superior a 5%, e o da produção industrial, de 4,6%. O comércio recíproco também está crescendo de forma constante. Todos esses números superam os indicadores globais”, detalhou.
Na declaração de Tianjin, fiel ao “Espírito de Xangai – confiança mútua, benefício recíproco, igualdade, consulta, respeito à diversidade civilizacional e busca do desenvolvimento – a OCX condenou “medidas coercitivas unilaterais” e sanções econômicas que violam a Carta da ONU e as regras da OMC.
Foi aprovada a criação de um banco de desenvolvimento, seguindo o caminho já apontado pelo Banco dos BRICS.