O ataque generalizado de Lula aos juízes que analisam o seu caso revelam, no mínimo, um certo destempero por parte de quem não convence ninguém, a não ser alguns mais robotizados, de que não participou do assalto das empreiteiras à Petrobrás. Que só Moro fosse hostilizado seria compreensível, afinal, o juiz do Paraná surpreendeu a todos ao interromper a tradicional e longínqua impunidade dos ladrões do patrimônio público.
Dizer que um processo que, segundo o próprio Lula, tem “mil e tantas” páginas, não apresenta “nenhuma” prova de que o triplex era propina da OAS – e que não deu tempo do juiz ler – não convence ninguém. Só o depoimento de Léo Pinheiro, confessando que o apartamento era propina, já seria muito complicado. Mas, se eximir de tudo porque o apartamento não está em seu nome, é pior ainda. Apresentar, inclusive a sua recente penhora como prova de inocência, é ainda mais ridículo. Afinal, trata-se, como disse Moro, na sentença, de um caso clássico de ocultação de patrimônio.
Nada daquela fortuna amealhada ilegalmente por Collor de Mello na década de 90 estava em seu nome. Todo mundo sabe que PC Farias era o laranjão do esquema. Collor só foi “pego” por causa do Fiat Elba. Lula disse no encontro petista do Rio que não roubaria um apartamento de R$ 500 mil. Que isso é muito pouco. Mas, e os R$ 40 milhões encontrados nas contas de seu laranjão, Antônio Palocci, hoje preso e réu confesso? Nada a declarar?
Achar que alguém, além de parte do PT, acredita que as empreiteiras pagavam US$ 200 mil por suas palestras, pelo seu brilhantismo, – e não como forma de transferir propina em troca das facilidades para superfaturar obras na Petrobrás – é achar que o povo não enxerga um palmo diante do nariz. E foram, segundo dados existentes nos inquéritos, mais de 50 palestras. Desconversar, por exemplo, sobre as declarações de Emílio Odebrecht, de que os valores das propinas eram acertados com Palocci, não resolve nada.
E mais, o fato do triplex não estar em seu nome é um agravante, e não um atenuante, já que a denúncia da OAS é de que era propina. Todo propineiro que se preze, esconde patrimônio. Difícil mesmo é explicar porque a cozinha comprada pela OAS por R$ 380 mil, numa loja chamada Kitchens, localizada na Avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo, era a mesma loja onde a mesma OAS adquiriu a cozinha do sítio de Atibaia, que, por coincidência, também não era de Lula.
Sair esbravejando contra os juízes que ainda nem analisaram seu recurso, como ele fez com o presidente do TRF-4, Carlos Eduardo Thompson Flores, na noite de terça-feira (16) no Rio, revela apenas que a situação não está nada boa. Por isso Lula preferiu dizer que o juiz era bisneto de um militar de Canudos e outras besteiras. Isso não vai intimidar o juiz e nem livrá-lo de nada. Só vai piorar a situação.
O jornal “Folha de S. Paulo” desmentiu Lula. Segundo o jornal, não é verdadeira a declaração dele de que um parente do presidente do TRF-4, Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz, matou Antônio Conselheiro, líder da revolta de Canudos, no fim do século 19. “Esse cidadão é bisneto do general que invadiu Canudos e matou Antônio Conselheiro. Talvez ele ache que eu seja cidadão de Canudos”, disse Lula em ato na terça-feira (16). “Foram três as incorreções do ex-presidente da República. Segundo o TRF-4, Flores é na verdade sobrinho trineto de Tomás Thompson Flores. Ele era coronel, e não general, quando foi morto em combate durante tentativa do Exército de subjugar o arraial baiano. O militar, que também foi deputado federal no começo da República, foi morto em junho de 1897. Conselheiro só morreria em setembro daquele ano”, diz o jornal.
É claro que não é fácil ter que explicar, inclusive para os petistas, o termo de aquisição do triplex, com rasuras, assinado pela falecida dona Marisa, apreendido em sua residência, em São Bernardo. As rasuras eram duas. Um risco forte sobre a palavra triplex e a outra, a troca do número 174 (triplex) pelo número 141 (outro apartamento) do condomínio Solaris. É mais fácil dizer que não tem prova nenhuma.
Ou seja, é compreensível que alguém que se dizia (só se dizia) de equerda, e que aderiu de malas e bagagem ao neoliberalismo e, por consequência, à corrupção, ao ser desmascarado, reaja desta forma. Desmoralizado, sai xingando todo mundo, pedindo a cabeça de Sérgio Moro, etc. Tudo bem. Dá para entender. Só não é aceitável que os petistas achem normal rasgar a Lei da Ficha Limpa, tão aplaudida por eles mesmos no passado recente, só porque o chefe foi pego roubando e quer ser candidato, mesmo condenado.
SÉRGIO CRUZ
O valor ja bloqueado de suas contas não vieram do trabalho, é muita grana para um Presidente