O vídeo da reunião ministerial de 22 de abril prova que Jair Bolsonaro queria trocar o superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro para proteger seus filhos e amigos.
De acordo com investigadores que assistiram a gravação, Bolsonaro ameaçou demitir o então ministro da Justiça, Sérgio Moro, e o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, caso não conseguisse tirar o delegado Ricardo Saadi da chefia da PF no Rio.
As fontes ouvidas pelos jornais O Globo, Folha de S. Paulo e Estadão confirmam. Segundo elas, a gravação é “devastadora” contra o governo Bolsonaro. “O vídeo é ruim para Bolsonaro, muito ruim”, anotou uma das fontes.
Na reunião realizada no dia 22 de abril, Jair Bolsonaro disse aos ministros que as investigações da PF no Rio podem “prejudicar minha família” e “meus amigos”.
“Querem foder com minha família. Não vou esperar foder minha família”, disse Bolsonaro durante a reunião.
Para evitar que isso acontecesse, precisava “saber das coisas” que aconteciam dentro da instituição.
Segundo relatos, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, aparece no vídeo dizendo na reunião que “todos tinham que ir para a cadeia, começando pelos ministros do STF”.
Bolsonaro ainda ofendeu o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e pessoas do governo do Rio de Janeiro.
Segundo Sérgio Moro, gravação “confirma integralmente as declarações” que ele fez quando se demitiu do governo. Para ele, as coisas ditas por Bolsonaro durante a reunião soam como “confissão”.
O interesse de Jair Bolsonaro no controle da PF do Rio está diretamente ligado às investigações do esquema de “rachadinha” no gabinete de seu filho Flávio Bolsonaro com o faz-tudo da família Fabrício Queiroz.
Ainda no vídeo, Bolsonaro criticou a postura de Moro, acusando-o de não estar defendendo o governo (leia-se Bolsonaro) nos momentos de derrota.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Celso de Mello, que está responsável pelo caso, determinou a transcrição integral do vídeo. Ele ainda não decidiu se vai deixar a transcrição pública ou não.
Depois da transmissão do vídeo para investigadores da PF, para a Procuradoria-Geral da República (PGR) e para Moro, Jair Bolsonaro disse que “em reunião ministerial sai muita coisa. Agora, não é para ser divulgada. A fita era para ser destruída”.
Na terça-feira (12), Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou que a gravação tinha que ser “destruída” e que o vídeo não era “para ser divulgado”.
“A reunião ministerial sai muita coisa. Agora, não é para ser divulgado. A fita tinha que ser, inclusive, destruída após aproveitar imagens para divulgação, ser destruída. Não sei porque não foi. Eu poderia ter falado isso, mas jamais eu ia faltar com a verdade. Por isso resolvi entregar a fita. Se eu tivesse falado que foi destruída, iam fazer o quê? Nada. Não tinha o que falar”, disse o presidente.
“Esse informante, esse vazador… Não existe no vídeo a palavra Polícia Federal, nem superintendência. Não existem essas palavras”, declarou Bolsonaro, na rampa do Palácio do Planalto.