O presidente da Autoridade Nacional Palestina Mahmud Abbas, declarou, dia 19, que o embaixador dos Estados Unidos em Israel, David Friedman, além de um “colonizador, de uma família de colonizadores”, é um “filho de cachorro”, expressão árabe que significa “estúpido”, “ignorante”.
A declaração de Abbas aconteceu depois do embaixador norte-americano, durante uma reunião do grupo de apoio às relações Israel –Estados Unidos, realizada na sede do Knesset (parlamento israelense), haver declarado que “os colonizadores israelenses constroem em suas próprias terras”.
Não é a primeira vez que Friedman dá este tipo de declaração, colocando-se ao lado dos anexacionistas israelenses. No mês de setembro do ano passado, ele afirmou (de acordo com o jornal israelense Haaretz), em entrevista, que “Israel só ocupa 2% da Cisjordânia”, e que “sempre foi uma expectativa que Israel se expandisse para a área que conquistou na Guerra dos Seis Dias, em 1967”.
Portanto, as observações de Abbas quanto à estupidez do representante norte-americano são inteiramente pertinentes, uma vez que além da área ocupada pelas tropas israelenses, o que inclui toda a Jerusalém Oriental, só o território ocupado pelos ditos “assentamentos judaicos”, construídos em terras assaltadas aos palestinos, ocupa 42% da Cisjordânia, além de graves distorções, a exemplo do fato de os mais de 3 milhões de palestinos terem acesso a seis vezes menos litros de água para consumo do que os 700 mil judeus israelenses que vivem nestes assentamentos.
Quanto à “expectativa de que Israel se expandisse para a área conquistada em 1967”, além da ocupação ser condenada e considerada ilegal pela legislação internacional, de ter o seu fim exigido por diversas resoluções da ONU, desde o seu início, a desocupação e, agora, o desmonte dos assentamentos judaicos ilegais é visto como única forma de se começar a discutir a paz entre israelenses e palestinos.
Além disso, essa coisa de expandir Israel para dentro da Cisjordânia, não foi assumido nem mesmo pelo regime israelense. E mais: com os Acordos de Oslo assinados por Itzhaq Rabin (primeiro-ministro que atuou pelos entendimentos com os palestinos e foi assassinado pelos que queriam manter a ocupação e o conflito) e o líder palestino Yasser Arafat, toda a Cisjordânia e a Faixa de Gaza integrariam o Estado Palestino.
Até mesmo o Departamento de Estado dos Estados Unidos que sempre se referiu à região como “território ocupado”, se distanciou publicamente, em setembro de 2017, das declarações de Friedman.
Abbas também denunciou que a decisão do presidente norte-americano, Donald Trump, de transferir a embaixada dos Estados Unidos para Jerusalém, acaba endossando os absurdos do embaixador, uma vez que, com isso, Trump também “vê os assentamentos e anexações como legítimas”.
Logo depois das denúncias de Abbas, que a Casa Branca considerou “altamente inadequada”, o embaixador dos EUA, em uma conferência sobre antissemitismo em Jerusalém, disse que o palestino o chamara de “filho da puta” e acrescentou: “Isso é antissemitismo ou discurso político? Deixo para vocês decidirem”.
Ao usar uma catilinária que não merece o menor crédito, o embaixador saca da surrada versão israelense segundo a qual é “manifestação de antissemitismo” qualquer indignação ou denúncia de sua política de discriminação e de limpeza étnica na Palestina.
Prosseguindo com sua demagogia, Friedman lembrou a morte de três soldados israelenses “brutalidade que a Autoridade Palestina não condenou”, para mascarar a crueldade de mais de 50 anos de agressão ao povo palestino e, ao invés de se somar às vozes de todo o mundo na condenação da ocupação da Palestina, uma ocupação que não impediu os Estados Unidos de despejarem bilhões em armas no Estado de Israel, vem culpar a resistência popular à agressão pelo conflito.
NATHANIEL BRAIA