Os executivos da Embraer, ao tentar negar as tratativas de venda da empresa para a multinacional norte-americana Boeing, acabaram por confirmar a existência da negociação. E mais, assumiram que o governo de Michel Temer também participa da mesa.
Segundo a nota dos executivos as empresas estão “analisando possibilidades de viabilização de uma combinação de seus negócios”.
Na última sexta-feira (2), a Embraer negou que tenha fechado acordo de venda a Boeing, por meio de comunicado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A empresa informou seguir negociando em um grupo de trabalho com a norte-americana, mas “não há garantia de que a referida combinação de negócios venha a se concretizar”.
“A Embraer e a Boeing têm mantido entendimentos, inclusive por meio do grupo de trabalho, do qual o Governo Brasileiro participa, com vistas a avaliar possibilidades para combinação de negócios. Destaca-se que a Embraer não aceitou e tampouco recebeu proposta da Boeing Co., uma vez que as partes envolvidas ainda estão analisando possibilidades de viabilização de uma combinação de seus negócios, que poderão incluir a criação de outras sociedades”.
O comunicado dos executivos desmente a posição oficial do governo Temer, que se dizia contra a entrega da empresa para a múlti. Recentemente a agência de notícias Reuters, citando fontes da Boeing, afirmou que foram oferecidos US$ 6 bilhões pelo controle do grupo brasileiro. Os norte-americanos permitiriam ainda que a chamada golden share (ação especial, com direito a veto) permanecesse nas mãos da União, apenas na área de defesa.
Esta medida, que está sendo tratada como se fosse uma grande garantia, não serve para muita coisa na prática. Se observarmos o caso da Vale, onde o governo detém a golden share, por exemplo, os grandes interesses econômicos, ou a “lógica de mercado”, sempre prevalece.
Até mesmo o valor de US$ 6 bilhões, oferecido pelo controle da Embraer, não é muito significativo. Para se ter uma ideia, em um único projeto, o do cargueiro KC-390, o governo brasileiro investiu US$ 2 bilhões e ainda se comprometeu com a compra de 28 aeronaves.
Há de se levar em consideração também que, nos últimos anos, a Embraer foi uma das principais beneficiárias pelo governo, com a isenção de impostos, financiamentos e benefícios na área da Defesa. Somente o BNDES, financiou entre 2001 e 2016 mais US$ 14 bilhões em exportações de aviões montados no Brasil. A Embraer também tem preferência nas compras de equipamentos de vigilância de fronteira, na construção de satélites e na fabricação e manutenção dos novos caças que estão sendo produzidos em parceira com a sueca Saab-Gripen, com transferência de tecnologia.
Se a compra da Embraer pela Boeing for efetuada, a fabricante sueca pode rever seu contrato já que a Boeing é concorrente direta da Saab, e a compra coloca em risco os segredos tecnológicos de seu produto. O contrato de cerca de US$ 5 bilhões, prevê a entrega de 36 aviões até 2024, e a Embraer seria responsável pela produção de 15 aeronaves.
Dentro do governo, a Força Aérea Brasileira (FAB) é a principal fonte de resistência aos planos da multinacional. Os militares estão preocupados com a exposição do país, já que a empresa tem diversos convênios com a FAB, e com o desmembramento da Embraer, pois a venda pode deixar no país apenas as divisões de baixa rentabilidade, já que a intenção da Boeing é transformá-la em uma subsidiária, o que inviabilizaria a continuidade das operações.