
Economista da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/Eaesp) mostra que a parcela de 65% do número de pessoas ocupadas no setor privado no país “deu-se em combinações que praticam salários relativos baixos”
Um levantamento feito pelo economista da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/Eaesp), Nelson Marconi, mostra, com base em microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) do IBGE, que a criação de empregos no país tem sido concentrada em empregos de menor qualidade e com baixa remuneração.
Na média do ano de 2024, a taxa de desemprego foi de 6,9%. Em 2012, o nível do indicador também foi consideravelmente baixo, 7,4%, em média. A diferença entre estes momentos é que em 2012, a criação de vagas no setor privado era mais equilibrada do que o atual quadro de geração de emprego no país.
Segundo Marconi “a precarização que ocorreu no mercado de trabalho do setor privado, ao longo do tempo no Brasil, é a concentração do crescimento do emprego em combinações de setores/grupamentos ocupacionais em que se observam salários relativos baixos”, afirma o economista, em artigo publicado na Revista Conjuntura Econômica da FGV/IBRE.
O economista ressalta que a parcela de 65% do número de pessoas ocupadas no setor privado no país “deu-se em combinações que praticam salários relativos baixos”. “Além de observarmos um aumento maior na contratação de pessoas naquelas atividades que praticam salários relativos inferiores, houve uma diminuição do salário relativo daqueles que recebem as maiores remunerações”, observa Marconi.
Segundo o IBGE, em 2024 a população ocupada chegou a 103,3 milhões de pessoas (um recorde da série histórica, iniciada em 2012), com 39,0% destes ou 40,273 milhões de brasileiros na informalidade do trabalho, que na sua maioria vivem dos chamados “bicos”, com jornadas de trabalho exaustivas e remunerações mensal que não chegam a um salário-mínimo (R$1.518).
Entre os fatores que levam à degradação das condições do mercado de trabalho brasileiro estão “a reduzida participação de setores mais dinâmicos na estrutura produtiva do país”, ressalta o economista. Além da “flexibilização das relações de trabalho e da chamada pejotização”.
No estudo, o economista considera o rendimento médio das profissões e dos setores analisados igual a 1, para nos elucidar quais áreas pagam acima ou abaixo da média.
No comércio, por exemplo, entre 2012 e 2024 foram criados 2,39 milhões de novos empregos, mas a remuneração nessa categoria se manteve abaixo da média, tanto em 2012 (0,76) quanto em 2024 (0,80).
Já na área de transporte e Armazenamento (que inclui motoristas de Uber e motoboys) estima-se que foram gerados 1,24 milhão de novos postos, mas com queda salarial (de 0,81 para 0,74).

Nelson Marconi conclui o artigo afirmando que o avanço da precariedade do mercado pode explicar, em parte, “o provável descolamento entre este cenário de expansão de vagas e a diminuição na popularidade do governo, em função da menor qualidade das vagas geradas e redução da remuneração praticada em algumas atividades que requerem maiores habilidades. A perda de dinamismo do setor produtivo, dada a redução de setores industriais relevantes (vide o salário relativo setorial praticado na indústria de média e alta tecnologia), e a timidez dos investimentos em setores de serviços tecnologicamente mais sofisticados contribuem para esse quadro”.