Juros altos travam investimentos e o consumo das famílias, avalia o setor
Indicadores da indústria de transformação observados pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) – como emprego, faturamento, utilização da capacidade instalada e horas trabalhadas – recuaram em setembro.
De acordo com a pesquisa Indicadores Industriais, o emprego cedeu -0,4% em setembro ante agosto – o segundo mês consecutivo de queda, o suficiente para sugerir “perda do ritmo de crescimento do emprego”, diz a CNI. A redução do trabalho na indústria, além de demonstrar que o setor está fragilizado como resultado da estagnação econômica dos últimos anos, também indica a redução de postos qualificados e com melhores remunerações no Brasil.
O faturamento das empresas do setor produtivo foi outro indicador que cedeu em setembro, registrando queda de -0,2% ante agosto, já descontados os efeitos sazonais.
Como consequência da situação econômica causada pelos anos de governo Bolsonaro, que encolheu a demanda interna e paralisou investimentos, as horas trabalhadas na produção foi o indicador que teve o recuo mais intenso, de -1,1% em setembro.
Neste mesmo sentido, a Utilização da Capacidade Instalada (UCI), indicador que demonstra o nível de ociosidade do parque instalado nas indústrias brasileiras, apresentou o sexto recuo consecutivo em setembro (-0,1 ponto), parando em 80,2%.
JUROS ELEVADOS
Na avaliação da CNI, “a política monetária se encontra no campo contracionista, desde dezembro de 2021, com taxa de juros real desestimulando a atividade econômica”. Atualmente, com a taxa básica de juros a 13,75% ao ano, o Brasil é o campeão mundial de juros reais, asfixiando os investimentos e o consumo das famílias, que amargam elevados índices de inadimplência e renda apertada diante da carestia que não dá trégua, apesar dos juros altos impostos pelo Banco Central.
“Os juros em nível mais baixo deixam de representar entrave tão intenso ao consumo e aos investimentos e, assim, permitem melhor desempenho da economia”, disse a CNI em nota sobre a Selic a 13,75% ao ano.
As quedas no faturamento real, no emprego e nas horas trabalhadas acompanharam o resultado negativo de -0,7% na produção industrial em setembro na comparação com agosto, que também foi negativo em -0,7% (revisado).
No ano, a produção industrial acumula queda de -1,1% e em doze meses de -2,3%.
“Ainda que ago/22 e set/22 tenham registrado quedas de igual intensidade na série com ajuste sazonal, houve piora quanto à amplitude setorial no resultado mais recente. Enquanto em ago/22, 35% dos ramos industriais ficaram no vermelho, agora em set/22, esta parcela saltou para 81%, atingindo 21 dos 26 ramos acompanhados pelo IBGE”, destacou o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).